Vai dar praia no Itaim. A partir de quarta-feira, dia 20, Ricardo Lapeyre ancora o Le Bulô no número 233 da Rua Manuel Guedes. Um restaurante de espírito e cardápio bretão-carioca. Embora haja controvérsias.
“Sou carioca por causa do Flamengo e do Maracanã, mas sempre tive o desejo de vir para São Paulo e o Le Bulô reflete isso: uma brasserie autoral com técnica francesa e busca de produto”, defende o pai e cozinheiro por trás da ideia.
Para não falar em birra, deve ser só para disfarçar a indisfarçável carioquice que Lapeyre não quer servir seu croquete de polvo, uma homenagem marítima ao salgado cremoso de carne do Bar do Alemão, instituição da Serra Fluminense.
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Se bem que em território paulista as coisas são diferentes. Há três anos, quando Ricardo abriu o Escama no Jardim Botânico, já tinha público cativo graças ao currículo precoce, incluindo estrela Michelin no Laguiole (extinto restaurante no Museu de Arte Moderna do Rio) e prêmios locais de chef revelação.
Aqui, aos 36 anos, o filho de Claude Lapeyre vai recorrer aos clássicos aprendidos com o pai, à formação profissional entre França e Bélgica, à ascendência bretã e ao sonho recorrente de ter um balcão como o do L’Avant Comptoir de la Mer para conquistar navegantes.
Recorrerá sobretudo à criatividade devidamente iodada. Exemplos incontestáveis? A torta basca de haddock com chantili de caviar (R$ 62 ou R$ 162, a depender das ovas utilizadas); a versão de moules frites que, além de mexilhão, tem lambreta e, no lugar das fritas tradicionais, vem com batata-doce laranja e mandioquinha (R$ 68); a salada nada russa, que mantém cenoura, mas troca batata por cavaquinha, ervilha por vagem e inclui mostarda Dijon na maionese caseira (R$ 72).
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No Le Bulô, bom dizer, não vai ter bulot, a conchinha que dá nome ao lugar e, do outro lado do Atlântico, é onipresente nos plateaux de frutos do mar. No entanto, seu plateau do chef (R$ 220 para duas pessoas ou R$ 420 para quatro) trará ceviche de peixe do dia no coco, tartare de atum com chantili de wasabi, tartare de ostra com vieira e ponzu, remoulade de caranguejo com palmito, a tal da maionese e vinagrete de mexilhão.
Reze para o combo vir no carrinho mais charmoso da cidade, pois no mais das vezes ele estará ocupado com o couvert, um delicioso sabotador do restante dos pedidos que reúne gougère viciante, manteiguinha de salicórnia e de algas em formato de concha, pão de fermentação natural, conserva, rillete e saladinha do dia (R$ 32 por pessoa).
Na pauliceia, o sonhado bar de ostras de Ricardo serve duas variedades selvagens de mangue (de Pernambuco e de Cananeia) e três de fazendas no mar catarinense. Será complementado por carpaccios, ceviches e outras receitinhas frias.
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Já a cozinha quente promete cativar com uma das assinaturas do chef, o strüdel de pirarucu sustentável com espinafre ao molho pétillant (R$ 180 para dois), assim como com tudo o que sai da Mélanie, sua churrasqueira personalizada.
“Os peixes que vão para a grelha são do Onofre, meu peixeiro raiz lá do Rio, que sai com barquinho pequenininho, pega cavaquinha com a mão e pesca peixe que nem eu conheço às vezes. Para me trazer aqui, trocou até a Zafira velha por uma Fiorino”, conta Lapeyre.
Para acompanhar os pescados, fica a dica: guarnição da vovó (batata bolinha, bacon, cogumelo paris e cebola pérola), dauphine (banana com toque de curry) e risoni de pistache são imbatíveis. Daria para continuar a lista de spoilers facilmente, mas seria uma injustiça com o Le Bulô.
Anote apenas que, a partir da semana que vem, o restô aporta com ingredientes ultrafrescos e bem temperadinhos, sobremesas reconfortantes e carta de vinho democrática, com “naturais sem abrir mão de rótulos comerciais”.
Le Bulô
R. Manuel Guedes, 233, Itaim Bibi. Ter. a qui., das 12h às 23h; sex. e sáb., das 12h às 00h; dom. 12h às 17h. WhatsApp: (11) 95300-3435