Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite. Confesso, esperava muito pouco ou quase nada, para além de encontrar um amigo. Eis que me deparo com o Josefa no Paraíso.
A casinha no bairro, obviamente, do Paraíso, tem as coisas explicáveis: a comida, o ambiente, a trilha sonora e o serviço. E isso é fácil de radiografar. Mas tem aquele toque do indizível que penetra pelas toalhinhas de crochê, pelos panos na cabeça das cozinheiras, pela louça de garimpo.
Donas do restaurante, as chefs Bel Crozera e Tainá Maia se conheceram no Rio de Janeiro, detrás dos fogões de um falecido bistrô de Pedro de Artagão. Uma maluca por comida franca, a outra por técnicas e receitas francesas.
Quase uma década depois, elas se encontraram na força do desejo de ter o próprio canto, expressar os próprios sabores. Bel recorreu ao nome da avó, Tainá tratou de interpretar em pensamentos, menu e décor o que seria um lar de vovó ideal. Juntas, numa cozinha quase dentro da sala, preparam receitas voluptuosas.
A definição se aplica ao bolinho de abacate com molho de castanha-de-caju e wasabi, ao bolovo surf’n’turf (R$ 37), com porco e camarão, que viaja na maionese de picles de cenoura (R$ 38) e à broa de milho, gentilmente umedecida pelo caldo de tenros fígado e corações de galinha (R$ 50).
Menos porn aos olhos, igualmente sexy ao paladar, o ravioli de cavaquinha (R$ 110) respeita a cocção da massa e não transforma o nobre crustáceo em um recheio sem textura, nem personalidade. Mais bruto, o entrecôte de porco sensualiza com a sedosa béarnaise (molho clássico à base de manteiga, gema, vinho branco e estragão), a salada de ervas e a montanha de fritas fininhas (R$ 79) que complementa a sustante sequência.
Na hora de adoçar os já abusados paladares, Bel e Tainá não se fazem de rogadas: o pavê de chocolate belga, creme de baunilha e biscoito champagne amolecido no leite com rum é salpicado com “sucrilhos” de massa folhada e flor de sal (R$ 34) e encerra, sem perder o tom, a orgia gastronômica.
Aventurar-se no Josefa no Paraíso foi bem mais que desculpa para ver um amigo: me levou para longe, para dentro da cozinha de uma amiga querida, a chef Jessica Giovanini, que reproduz a casa e o nome da avó num imóvel com piso de caquinhos em plena Lyon.
A viagem ao Odília (vale anotar o nome desse restaurante na cidade de Paul Bocuse!), as coincidências, a comilança por 7 seres humanos ou meia leoa... foi mais, muito mais do que eu esperava de um sábado à noite.
Josefa no Paraíso
R. Afonso de Freitas, 642, Paraíso. Qua. a sáb., das 19h às 22h45; sáb. e dom., das 12h às 16h30. Reservas: (11) 99545-9955