Alguns chefs estão fazendo de tudo para transportar o acolhimento e a hospitalidade do salão do restaurante para a casa dos clientes. Cartinhas com mensagens encorajadoras e o agradecimento pelo apoio nesse momento difícil andam chegando no pacote. É um movimento bem simpático.
A sacola do Maní – que começou o serviço de delivery no feriado do 1º de Maio – vem com um cartão postal: de um lado, uma foto da equipe na frente do restaurante (tirada em outros tempos, certamente) e do outro, um bilhete escrito à mão pela chef “Com vocês somos mais fortes, com afeto, Helena Rizzo e equipe”.
Tirar as embalagens da sacola é uma alegria: são caixinhas lindas, de tamanhos e modelos variados, bem coloridas com desenhos da chef – a pandemia está dando origem a um tipo de arte descartável que dá pena de descartar, a das embalagens estampadas por artistas e grafiteiros, mas esse é outro assunto.
O cardápio, para entrega pelo IFood ou retirada no local, é enxuto, mas tem boa parte dos pratos servidos à la carte na casa, aberta em 2006, que está entre as melhores da cidade e figura em 18º lugar na lista dos 50 melhores restaurantes da América Latina. Além de uma boa seleção de vinhos de preços moderados.
Pedi, receosa, a moqueca de camarão, que está na lista do Paladar dos 100 Melhores Pratos de São Paulo. Temi que sentisse a viagem. É um prato delicado, com vários acompanhamentos. Chegou impecável. Cinco camarões graúdos, grelhados e muito tenros, terrine de arroz (o arroz enformado e grelhado), farofinha, caldo de moqueca e o pirão (espetacular, saborosíssimo e com textura muito sutil), cada qual com sua bela caixinha.
Arrisquei uma montagem em potinhos, como a do restaurante, feita para a gente ir comendo aos poucos. É o prato mais caro do cardápio, custa R$ 106.
O arroz negro com vegetais e castanha-do-pará é uma grande pedida: o grão é cozido em leite de castanha e temperos, vem macio e firme, com brócolis, cubinhos de banana-da-terra, folhas, lascas e purê de castanha-do-pará. Custa R$ 69, porção bem farta.
Achei que o capellini com cogumelos cairia bem. De fato. A massa fininha não perdeu o ponto no trajeto, chegou macia e firme, como se espera, e muito saborosa, puxada na manteiga de limão-siciliano, com cogumelos e azeite de trufas brancas (R$ 71). Pura delicadeza. Por cima, estava previsto um crocante de parmesão, que veio num saquinho decorado com uma estrela. Mas não havia explicação de onde colocar....
Os pratos do Maní funcionaram tão bem em casa como funcionam no restaurante. Coisa bem rara. Fruto da sabedoria de Helena Rizzo e do chef-executivo Willem Vendeven na escolha do cardápio: apostaram na simplicidade e nos pratos que viajam bem e deixaram de fora os mais elaborados e que dependem de montagem na hora.
Num momento como esse, quem trocaria um potinho com suspiro, iogurte, doce de leite e morangos frescos pela provocativa (e premiada) sobremesa da lama ao caos, que leva pouquíssimo açúcar, berinjela assada e sorvete de gergelim em montagem escultural (que aliás, não teria a menor chance de sobreviver ao trajeto)? Acertada a ideia de pegar emprestadas as sobremesas do Manioca.
É um delivery para repetir – até para ver se o filé com molho de jamón serrano (R$ 74), um clássico da casa, e o talharim de pupunha com creme de queijo Tulha (R$ 74) fazem boa viagem. Entre outros pratos.
Ficha de avaliação
Restaurante: Maní
● Tamanho das porções: Individuais e fartas. ● Preços: belisquetes R$ 40; saladas de R$ 41 a R$ 59; pratos de R$ 64 a R$ 106, sobremesas de R$ 12 a R$ 36; vinhos de R$ 112 a R$ 208. Os mesmos do restaurante. ● Embalagem: personalizadas, firmes e bem vedadas. ● O melhor: entrega em casa o mesmo sabor, textura e acabamento do restaurante. Para isso, foge dos pratos muito elaborados. ● O pior: faltam instruções para os acompanhamentos. Onde vai o crocante de parmesão? Qual é a farofa do picadinho e qual a da moqueca? ● Entrega: pelo IFood ou para retirada no restaurante pelo WhatsApp(97473-8994). Almoço e jantar. Fecha segunda.