A Ferreira de Araújo, no Baixo Pinheiros, deixou de ser uma rua de casinhas há alguns anos. Há nove meses, inclusive, perdeu sua última. Marisabel Woodman comprou o imóvel no número 299. Reforma feita, nada ali lembra um sobradinho de bairro, mas há um quê de casa de praia de capa de revista; outro de casa de avó, ou melhor, da casa da avó da chef, em Piúra, no norte do Peru.
De seu país de origem, a cozinheira trouxe almofadas, estátuas, fotos, saudades e sabores. Podem perguntar: ela já não faz isso há 10 anos no La Peruana, nos Jardins? Sim e não. Ajíes, coentro, limão e cebola seguem liderando os temperos, no entanto, nos Mares de La Peruana, Marisabel relembra tempos de barraquinha e food truck; viagens mundo afora e Peru adentro.
A começar pelo Aguachile (R$ 80), grosso modo, camarão em água apimentada. O preparo tradicional da costa mexicana ganha cubos de peixe do dia (como pescada ou robalinho), de abacate tostado e de pepino. Vem numa concha gigante, trazida de Máncora, balneário peruano. Além de disputar o posto de apresentação mais bonita do Mares, acompanha totopos.

Esses triângulos de tortilla de milho, fininhos, crocantes e viciantes, não deixam os dedos alaranjados e nem são ultraprocessados: “Compro a tortilla de uma amiga mexicana, que era minha vizinha numa barraquinha de comida tradicional peruana que eu tinha na Alameda Santos, e faço todos os dias”.
Pode parecer um detalhe, mas o salgadinho, quer dizer, salgadinhos são uma das assinaturas do novo restaurante. Mari “queria que cada prato tivesse um crunch” – e conseguiu. Nessa toada, o ceviche (R$114) brilha por ter um tentáculo suculento de polvo na brasa, um leite de tigre menos encorpado de ají amarillo e também pelos patacones mais finos e mais sequinhos do que se costuma ver.
Já os camarões (R$ 149), nasceram para ser estrela do cardápio. Primeiro por saírem do Josper, forno-parrilla objeto de desejo de 10 entre 10 cozinheiros; depois, pelos molhos: um cremoso de sriracha, um chimichurri e um pico de gallo de manga (que estava menos verde do que a chef queria, mas delicioso!). Por fim, sem perder importância, pelos chips apimentadinhos de camarão.
“Nossa base madre é ají mirassol, ají panca, cerveja, vinho, cabeças do camarão, cebola e alho. É a base de vários pratos, como o arroz de frutos do mar do La Peruana. A gente jogava fora tudo o que ficava na peneira, que era super saboroso. Aqui, liquidificamos tudo e fazemos esse papel”, conta Marisabel.
Com textura de mandiopã, coloração e sabores intensos, os snacks de milho roxo que acompanham o arroz de moluscos (R$ 99) comprovam a tese dos salgadinhos de autor e deveriam poder ser levado para casa!

Dito isso, o prato também merece atenção: privilegia mariscos do dia (como sarnambis e lambretas), é finalizado e servido em panelinha de ferro, o que garante a formação do concolón, aquele pregado delicioso no fundo da caçarola.
“A ideia é mudar bastante o menu”, avisa a chef. Ou seja, corra antes dela fazer isso. De preferência, harmonize com um dos dois coquetéis criados por Jean Ponce. Uma dica? “Por cima do Miraflores vem um queijinho, gotas de leite de tigre e talinho de coentro. Ele leva jerez, vermute seco e doce, toque de gim e Lillet, é coquetelaria mais clássica e delicada, mas com punch alcoólico, e esse amanteigado do queijo combina totalmente com a culinária da Mari”, define o premiado bartender.
Neste final de semana, o Mares funciona em soft opening e tem descontos nos valores das receitas. A partir de terça-feira, os preços são os mencionados acima. Hoje, amanhã ou qualquer dia, vale fechar a conta com a nova leitura do tres leches (R$ 47), clássico bolo latino-americano, que nas mãos de Marisabel Woodman ainda recebe merengue, calda de morango e sorvete de doce de leite.
Mares de La Peruana
R. Ferreira de Araújo, 299, Pinheiros. Ter. a qui., das 19h às 23h; sex., das 12h às 15h e das 19h às 23h; sáb. das 12h às 16h30 e das 19h às 23h; dom., das 12h às 17h.