O Mila não é “mais um” restaurante italiano na cidade. Definido pelos seus como uma “osteria urbana provocadora”, ele tem, sim, as bases da cozinha italiana bem marcadas em seu cardápio, que investe em crudos, pizzas, massas e carnes, mas não fecha as portas ao restante do mundo – então prepare-se para encontrar termos como chinkiang (vinagre preto chinês), sichuan (pimenta), missô e cambuci na descrição dos pratos. Aberto, oficialmente, desde ontem no Itaim Bibi, ele é tocado pelo restaurateur Tito Paolone, que foi responsável pela operação que trouxe o Eataly ao Brasil, em 2015, pelo chef Pedro Pineda, ex-Beverino, e pela sommelière Camila Ciganda, que não só cuida do serviço de vinhos, mas de toda a dança das cadeiras no salão.
O desapego à tradiçãocomeça na estrutura do cardápio, que se divide entre bocatito’s (petiscos), pizzas, pastas, pratos e sobremesas. A sugestão é passear por essas alas sem muita regra, pedir de tudo um pouco e compartilhar no centro da mesa. “Mas e se eu só quiser comer uma pizza?” Tudo bem. “E se eu fizer questão de dividir minha refeição em antipasto, primo piatto, secondo piatto e dolce?” Tudo bem também.
Na hora de escolher os bocatito’s, não deixe passar o supli de polvo (R$ 38 a dupla), um bolinho empanado em farinha de pão, crocante e sequinho, cujo queijo caccio cavalo faz aquele fio longo a cada mordida. O tartare de Angus, com stracciatella da casa, melão fermentado e pão pita (R$ 54) também é imperdível – a referência sírio-libanesa, aqui, não é declarada, mascomo não lembrar do quibe cru e da coalhada seca?
Há cinco opções de pizzas, todas com massa de fermentação lenta, assadas no forno a lenha. A de batata fermentada com alecrim tem base bianca de iogurte de ovelha (e não vermelha, de molho de tomate). A de abobrinha e vinagrete tem base verde, de pesto de cavolo nero (tipo de couve toscana; R$ 54). Mas o destaque, mesmo, fica com a pizza de frangocom requeijão de corte e coentro (R$ 58), essa, sim, com base rossa.
As pastas, frescas, são preparadas na casa diariamente. Um ragu branco, feito com carnes suína e bovina moídas, manteiga, vinho branco e caldo de frango, envolve as fitas largas do pappardelle, que ainda é coroado com coalhada de ovelha e kimchi (R$ 78). A ideia é misturar tudo, sem cerimônia, antes de comer. Caso alguém considere essa combinação (inusitada, é verdade, mas muito gostosa) uma transgressão, calma – tem também o tagliolini ao molho pomodoro (R$ 52). Entre os pratos, o milanesa de Angus tem casquinha delicada, é alto e rosado no centro. Ele chega à mesa com salada de folhas, aïoli, picles e mostarda (R$ 84).
Para beber
O serviço de vinhos merece um capítulo à parte. Não só por conta da carta variada, que prioriza rótulos com pouca intervenção, mas, principalmente, pelo trato gentil e perspicaz de Camila Ciganda (ex-Cora). É uma boa pedida deixar-se conduzir pela sommelière, que vai mudando os vinhos de acordo com os pratos e com o gosto do cliente. “Nós vamos provar esse vinho juntos, ele é muito fresco, tem notas minerais, é cremoso na boca e tem um toque salino no final. É uma coisa muito louca! Mas, se você não gostar, a gente troca, tá bom?”
Há opção de taças de 187 ml e 125 ml. Na visita do Paladar, Camila serviu quatro vinhos, dois brancos, um laranja e um tinto que totalizaram R$ 110.
Como dito, o Mila não é “mais um” restaurante italiano em São Paulo. Então, vale, sim, você sair do seu bairro para encarar o Itaim Bibi.
Serviço
MilaOnde: R. Bandeira Paulista, 1.096, Itaim Bibi, 2925-8442.Funcionamento: 12h/15h e 19h/23h (sáb. e dom. 12h/16h e 19h/23h)