No distrito de Yurakucho, debaixo dos trilhos do trem-bala, pequenos estabelecimentos servem espetinhos de cheiro tentador e gostos especiais. O local fica a uma pequena caminhada da Estação de Tóquio e do elegante bairro de Ginza, mas parece outra cidade.
Casas de espetinhos e izakayas se sucedem, encostadas umas nas outras. Bancos na calçada e engradados de bebidas usados como mesa formam o cenário. A maioria desses estabelecimentos prepara espetinhos de coração de frango. Faz já muito tempo, parei num deles, apontei para os espetos e pedi: “Shinzo” (com o “o” longo), que quer dizer “coração” em japonês. O dono me corrigiu: “Hatsu” (com o “a” longo), que é como os japoneses pronunciam heart. Descobri que a palavra em japonês só é usada quando o assunto é anatomia; quando se trata de comida, é sempre hatsu. Coração de frango é presença obrigatória nos izakayas.
+ Um guia dos melhores izakayas de São Paulo Bem mais recentemente, meu filho e eu pedimos hatsu num izakaya do movimentado bairro de Akasaka. No cardápio, hatsu estava grafado no silabário que qualquer pessoa com mínimo de conhecimento do idioma japonês consegue ler. Outros itens estavam escritos com ideogramas, os kanji, alguns dos quais eu não conhecia. Como pedir o prato? Acidentalmente, o cardápio caiu no chão e nos revelou o verso com todos os pratos descritos em inglês. Foi o começo da festa. Depois de hatsu, pedimos testa de boi, reto de porco, traquéia, teta bovina e fígado.
Foi uma experiência de texturas e sabores, acompanhada de sapporo biiru, como se diz cerveja por lá. Mais do que o cardápio, o que surpreendeu foi a resistência etílica de uma jovem que acabara de sair do trabalho. Em pouco mais de uma hora, tempo que ficamos ali, ela tomou seis copos de uns 100 mililitros de saquê. Caminhamos por cerca de mais uma hora e lá estava ela ainda a beber saquê. De pé, como todos os clientes da casa. Invejável competência.