Dessa vez vou começar pela sobremesa, o que é quase uma heresia diante da quantidade de coisas boas que tem no cardápio. Sugiro que você reserve espaço para a torta de mandioca com calda de abacaxi quando for conhecer o novo Jiquitaia. “Quando” porque você tem de ir lá. Depois de oito anos, o restaurante saiu do Baixo Augusta e está funcionando em novo endereço no Paraíso, desde a reabertura, em agosto.
Aos detalhes do doce: a massa de mandioca e coco ralado grosso é firme e úmida (lembra um bolo de tapioca), delicada e com pouco açúcar. Vem cercada por uma calda de abacaxi grelhado, espetacular, essa sim, bem doce, quase como um xarope, mas com a acidez do abacaxi e o tostadinho da grelha... Para completar, uma bola de sorvete de leite. Que combinação! Custa R$ 19.
A cozinha de Marcelo Corrêa Bastos continua a mesma. Brasileira contemporânea, de produto, técnica, instigante e cheia de sabor.E agora, também inspirada por uma grelha que ampliou o cardápio e opera da entrada à sobremesa. Para começar, acelga grelhada (cortada ao meio no sentido vertical) e temperada com limão, manteiga noisette e bottarga (R$ 36). As folhas chegam tostadinhas, levemente amolecidas, mas ainda crocantes, uma delícia.
Outro acerto é a batata doce grelhada em rodelas grossas, servida com queijo azul, compota de pimenta biquinho, agrião e castanha do Pará(R$ 20). Na outra casa, era feita na frigideira. As entradas preparadas na brasa incluem ainda cogumelos pincelados com gordura de boi (R$ 30), fraldinha de cordeiro, com salada de ervas (R$35) e coração de boi com cambuquira e molho picante (R$35).
Não resisti a pedir de novo um clássico do Jiquitaia, o arroz de pato com tucupi e jambu. É prato premiado, um arroz discretamente caldoso, com lascas de pato, folhas de jambu e o toque provocativo do tucupi. Vem com magret, o peito de pato, grelhado, mal passado (R$ 70).
Porém a novidade entre os pratos principais é o peixe na brasa, com pirão servido inteiro em porção para dividir (R$ 140). A feijoada aos sábados (R$ 63) e a leitoa à pururuca aos domingos (R$ 160, para duas pessoas) continuam firmes no cardápio.No almoço durante a semana tem menu a preço fixo, entrada, prato do dia e sobremesa por R$ 55.
A nova casa é um charme. Decorada com sutileza, sem qualquer sinal de objetos folclóricos, retrata um estilo brasileiro contemporâneo, elegante, com muita madeira, pé direito alto, peneiras artesanais como luminárias, fotos em preto e branco feitas por Cássio Piccolo (dono do Frangó) e Paulo Cortes, o arquiteto do restaurante. Nas prateleiras, espalha-se a bela coleção de cachaças, com 90 rótulos.
Há duas mesas comunitárias, temporariamente sub-aproveitadas, como medida de prevenção contra a covid. O ambiente dá sensação de segurança sanitária, apesar da falta de ventilação natural (na verdade, a parte alta das janelas é basculante, mas não se nota), com brigada vestindo luvas, máscaras e shield; medição de temperatura à entrada, totem de álcool em gel, potes de álcool em gel nas mesas; saquinho para guardar as máscaras e talheres embrulhados em sacos de papel. A distância entre as mesas é boa –dessa vez eu medi – as mais próximas estão a 1,50m.
Há alguns meses perguntei ao chef por que o Jiquitaia estava de mudança da casa simpática e apertadinha no Baixo Augusta. Ele me respondeu: “Quando você for lá, vai entender”. Entendi. Exatamente.
Serviço
Jiquitaia
R. Cel Oscar Porto, 808, Paraíso. Reservas (só até às 19h30): 30515638. Horário de funcionamento: 12h/15h e 19h/21h40 (dom., 12h/17h; fecha 2ª). Delivery no almoço, com cardápio reduzido, pelo Rappi.