Os NFTs vêm entrando cada vez mais no mundo dos restaurantes (aparentemente junto com todas as outras esferas, da arte à política). E, por isso, parecia inevitável que surgisse um restaurante (cujos fundadores afirmam ser o primeiro desse tipo) que essencialmente oferece entrada somente para os detentores de um certo número de tokens não fungíveis.
O Flyfish Club, que deve abrir num local ainda a ser anunciado em Manhattan no primeiro semestre do ano que vem, será um clube de jantar de luxo, “inspirado nos frutos do mar”, do VCR Group, um grupo de hotéis e restaurantes que tem como um dos sócios Gary Vaynerchuk, empreendedor e cofundador do sistema de reservas online Resy. Para ter acesso ao clube, os membros precisam ter um Flyfish NFT, que é um ativo digital exclusivo, armazenado em blockchain e comprado com criptomoeda. A empresa lançou 1.501 tokens este mês, arrecadando cerca de US$ 15 milhões, de acordo com David Rodolitz, fundador e CEO do VCR.
Na sexta-feira à tarde, você podia comprar um token para membros regulares no mercado secundário pelo equivalente a cerca de US$ 13.600. Um token que dá ao titular acesso a um nível ainda mais exclusivo, com acesso a uma sala privada que serve omakase – pratos especiais de sushi criados pelo chef – pode ser obtido pelo equivalente a cerca de US$ 29.500. E isto é apenas para você entrar: os clientes ainda terão de pagar por suas refeições, embora em dólares americanos.
Em entrevista, Rodolitz reconheceu que ser membro do clube não é só uma questão de comer bem, nem mesmo de ter uma experiência gastronômica sofisticada. “Grande parte da história tem a ver com o status social”, disse ele. “As pessoas estão se comunicando digitalmente sobre o que gostam e quem são”. Rodolitz comparou os NFTs aos símbolos tradicionais de status, como bolsas ou tênis de grife, que as pessoas usam para expressar seus gostos e bens.
“Agora estamos olhando para o LinkedIn, mas daqui a cinco anos, para ver quem as pessoas são, vamos ver a carteira digital da pessoa”, disse ele.
Alguns investidores e traders estão comprando os NFTs Flyfish sem planos de pisar no espaço. Mas um clube de sucesso depende, em última análise, das pessoas que realmente o frequentam, e Rodolitz diz que reteve 1.500 tokens adicionais que podem ser distribuídos mais tarde, possivelmente como presentes para várias colaborações. Para aqueles que frequentam o clube, a equipe Flyfish também está posicionando o título de membro baseado em NFT como um investimento melhor do que os clubes tradicionais. Os proprietários dos tokens podem vendê-los ou até mesmo alugá-los para outras pessoas, observou ele, ao contrário de um clube de campo ou clube social, como o Soho House. Mas os lucros, obviamente, dependem da demanda contínua.
Conceito novo
O conceito é relativamente novo e não foi testado – e não apenas como restaurante. As comunidades NFT, ou grupos de pessoas que possuem NFTs semelhantes, geralmente se reúnem online (um grupo chamado Bored Ape Yacht Club é um exemplo proeminente), ou seu foco geralmente é o “metaverso”, o mundo virtual onde as pessoas podem comprar imóveis, arte e até comida. É incomum fazer um NFT centrado numa localização física e numa experiência da vida real – neste caso, o acesso para comer em determinado restaurante.
Merav Ozair, especialista em blockchain e professora de fintech da Rutgers Business School, diz que esse tipo de uso de NFTs pode ser novo, mas que ela espera que muitas outras marcas sigam o exemplo. “Quando pensam em NFTs, as pessoas pensam em coisas fofas, no Beeple, em arte extravagante”, diz ela, referindo-se ao artista cujo NFT foi vendido por mais de US$ 69 milhões num leilão da Christie’s. Mas ela acha que os NFTs têm potencial para um uso mais amplo, como a maneira como o Flyfish permitirá que as pessoas possuam, aluguem e vendam seus títulos de membro.
“O poder dos NFTs é a autenticação – eles facilitam a transição de propriedade”, disse Ozair. “Quando você pensa nisso, tudo na sua vida vira uma questão de transferência de propriedade”.
Rodolitz diz que entende que, para fazer o novo projeto funcionar, o clube em si precisará atender às expectativas dos membros. A localização ainda não foi determinada, e seu site diz apenas que será “em um dos edifícios mais bonitos que existem”. Rodolitz diz que a construção do espaço de quase mil metros quadrados custará milhões. E ainda tem a comida. O omakase será preparado por Masashi Ito, veterano do Sushi Zo, restaurante de Nova York estrelado pelo guia Michelin, e um dos chefs do Ito, outro restaurante do grupo VCR.
O omakase, muitas vezes servido em restaurantes japoneses sofisticados e por preços de até centenas de dólares por cabeça, virou um dos pilares do jantar de ostentação, uma tendência que o blog Eater NY descreveu como o “máximo do jantar” num punhado de lugares “oligárquicos” da cidade.
E, como tantas outras coisas no mundo das criptomoedas e NFTs, a equipe Flyfish está fazendo grandes promessas. Além da entrada no restaurante, os membros terão acesso a “várias experiências culinárias, culturais e sociais”. Até agora, antes da abertura do espaço Flyfish no ano que vem, isso significou uma festa num barco particular em Miami e um evento pop-up nos Hamptons, além de degustações de omakase e vinhos.
Outros restaurantes – mesmo aqueles que não têm toalhas de mesa brancas – estão se interessando por NFTs. As redes Dave and Buster's e Burger King lançaram programas de fidelidade nos quais os usuários podem coletar NFTs da marca para obter recompensas reais e digitais.
E as personalidades gastronômicas e donos de restaurantes Tom Colicchio e Spike Mendelsohn anunciaram no mês passado um plano para vender NFTs com tema de pizza, dando aos proprietários acesso a eventos presenciais e virtuais com outros chefs famosos, embora os detalhes do projeto ainda não estejam claros. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU