O motoboy buzina, você corre, já cheio de fome, para pegar o pacote do novo Tasty Salad Shop que chegou com o seu pedido. Junto da salada de folhas, com tomates-cereja, pepino, picles de rabanete, homus de beterraba, molho de amendoim e faláfel, e do suco de laranja com morango gengibre, um saquinho extra chama atenção. Dentro dele, açafrão-da-terra, gengibre, canela, pimenta-do-reino e caiena, cardamomo, cravo-da-índia e noz moscada – tudo em pó –, revela a etiqueta. Tempero para salpicar na comida? Não, trata-se de um “shot para imunidade”, que se deve diluir em 20 ml de água, suco de um limão e gotinhas de própolis, e tomar em jejum. “É um mimo para os nossos clientes do delivery”, explica Patricia Lion, sócia do restaurante aberto em novembro na rua dos Pinheiros.
Quem vai até o salão, instalado no número 570, faz o pedido no balcão e as saladas e bowls – prove o Yolk, com quinoa, couve kale, cebola roxa, abacate, salada de ovos, farofa de amêndoas e molho de mostarda – são montados na hora. No caminho para o caixa, dá para fazer um pit stop na gôndola de autosserviço e pegar um suco ou sobremesa. A granoffee, versão, digamos, mais saudável da banoffee e que lembra mais um parfait do que uma torta, combina iogurte natural, banana, nata, doce de leite, farofa de aveia com amendoim, castanha de caju, farinha de arroz e açúcar mascavo.
Assim como o Tasty, que chegou a São Paulo em plena pandemia com o objetivo de “descomplicar a alimentação saudável” – a rede tem outras seis unidades em Curitiba –, outras casas que também assumem seu lado “saúde” parecem estar em alta por aqui. “É uma tendência anterior à pandemia, mas que, claro, ganha força com a covid-19”, observa Andrea Bonvini, docente do curso de Nutrição da Universidade Anhembi-Morumbi. “Só é preciso ponderar que os alimentos funcionais não vão impedir o vírus de entrar no organismo. Eles vão reforçar o sistema de defesa, tornando as células imunológicas mais preparadas para combater doenças”, alerta Andrea. Ou seja, não adianta tomar shot disso ou daquilo toda manhã e achar que pode jogar para escanteio a máscara, o álcool em gel e o isolamento social.
Vale outro aviso: nem pense em procurar frango com batata-doce ou shake de whey no cardápio. Será em vão. Apesar do apelo saudável, essas casas apostam também na vocação gastronômica das receitas – há, inclusive, cozinheiros por trás delas – e jogam por terra os terrorismos nutricionais. “As pessoas precisam fazer as pazes com a comida para se alimentar de forma saudável, variada, sem deixar de lado o prazer de comer. Isso é muito importante”, acrescenta Andrea.
Na nova Frescalis, que opera somente com delivery, o chef Ricardo Anza faz questão de priorizar fornecedores orgânicos, como a Santa Adelaide, e artesanais para compor as saladas do menu (há sanduíches também). Prove versão que combina rúcula e alface a camarões miudinhos, manga, amêndoas e molho de balsâmico.
Alimentos superpoderosos
Spirulina, cúrcuma, maca peruana, matchá. Você sabe para que servem? Não precisa. Basta acreditar que fazem muito bem à saúde. Agora, se você é daqueles que gostam de ter tudo explicadinho, tim-tim por tim-tim, convém perder alguns segundos na leitura do quadro pendurado na parede do Tropics Health Bar, em Pinheiros para aprender que a spirulina é uma alga microscópica rica em proteína, cálcio, ferro e betacaroteno. Deu preguiça? Então esqueça tudo e só prove o smoothie Iemanjá, que além da bendita spirulina – que deixa a bebida azul sem interferir no sabor –, leva também banana, abacaxi e leite de coco orgânico.
“As superfoods estão em toda parte aqui no Tropics, mas de uma forma sutil, sem ser pedante. Nossas receitas são, acima de tudo, gostosas. Não somos um bar para ser frequentado só pelas musas fitness”, explica Heloisa Whately, que assumiu a batuta da casa em julho. Saladas, tostadas e sanduíches, como o de ovo orgânico com avocado, alface e tomate no pão de miga preto de fermentação natural, estrelam a ala das comidas no cardápio.
Pioneiro no que se pode chamar de gastronomia funcional, Renato Caleffi acaba de lançar o menu Energias no seu Le Manjue (aberto em 2007). Os pratos, além de priorizar ingredientes orgânicos e da estação, são finalizados com óleos essenciais ou florais, que atuam no emocional e no sistema imunológico do comensal – cada gotinha é escolhida a dedo pelo chef, que trabalha com o respaldo de especialistas parceiros.
Para abrir os trabalhos, o cliente é recebido no restaurante com um shot da imunidade. Entre os novos pratos, a salada de folhas orgânicas é incrementada com melancia, queijo de cabra, hortelã e gotinhas de óleo essencial de laranja, que é rico em vitamina C e bom para estimular a criatividade. Outro destaque é o talharim com bechamel de couve-flor e inhame, camarões e avelãs, perfumado com óleo essencial de capim-limão, que tem efeito antioxidante, ação anti-inflamatória, além de melhorar a digestão.
Já no Purana, aberto em 2018, quem manda são os “alimentos que curam” – no Instagram na casa (@purana.co) há uma série dedicada a ingredientes que aumentam nosso sistema imunológico e que estão presentes nas receitas da casa. O cardápio 100% plant based, ou seja, sem nenhum ingrediente de origem animal, sugere opções de shot “de pequenos milagres”, que chegam à mesa dentro de tubinhos de ensaio: tem de carvão ativado; limão com gengibre; spirulina com água de coco e chia. Para comer, peça o cuscuz de painço com homus de beterraba, batata doce geminada assada, salada de folhas baby, capuchinha, castanha de baru e molho cremoso de tofu.