Por vezes, o universo gastronômico é visto como masculino demais, ou masculino de menos. Nesse cenário, ser mulher ganha diferentes significados na mente de quem vive o dia a dia em meio a comidas, bebidas e sonhos. Neste Dia das Mulheres, conversamos com personalidades da área sobre suas vivências e trajetórias.
Aline Chermoula, chef de cozinha e empreendedora, Chris Campos, cozinheira e repórter, Chula Barmaid, chef de bar e consultora, e Juliana Aquino, chocolatemaker e empresária, são quatro mulheres gastronômicas que nos contaram sobre suas vitórias e como ser mulher contribuiu para todas elas.
Aline Chermoula
Focada em suas raízes, a maior conquista de Chermoula (@alinechermoula) é colocar a culinária da diáspora africana pelas Américas em destaque. Esse trabalho “ressignifica minha existência, reforça minha identidade e, principalmente, me faz conseguir mostrar para as pessoas que a comida de herança africana é muito potente, de muito valor, buscando fazer as pessoas se relacionarem de uma forma diferente com a gastronomia que as representa”.
A chef começou a trabalhar com culinária aos 16 anos e nunca mais saiu desse ramo, orgulhando-se de ser uma inspiração para mulheres pretas e periféricas, que podem também realizar seus sonhos. Inclusive, para ela, ser mulher contribuiu para sua carreira, sobretudo, por causa da sua intuição feminina. “Foi por essa questão de olharmos para as coisas e a gente sentir muito além do que elas representam que eu alcancei esse lugar de destaque”.
Chris Campos
Com muitos motivos para se orgulhar, a jornalista (@casadachris) destacou o principal deles: “ter me aventurado por 20 anos num projeto solo que começou na internet, rendeu livros, trabalhos na TV e que segue firme e forte até hoje”. Nessa caminhada, ser mulher sempre ajudou: “nós mulheres temos naturalmente essa capacidade de nos desdobrar em muitos papéis e de observar o mundo com mais sensibilidade. Além disso, ser uma pessoa sensível e aberta aos acontecimentos ao meu redor também contribuiu”.
De acordo com ela, a gastronomia sempre fez parte de sua vida. Antes de entrar em uma redação de jornal pela primeira vez, seu primeiro trabalho foi fazer bolos. Depois, desenvolveu projetos dos quais se orgulha muito, como o @casadachris, voltado ao morar. “No Paladar, eu pude conhecer um universo muito interessante, tendo contato direto com as pessoas que fazem acontecer na gastronomia. Um exemplo é a série de vídeos Cozinhaterapia, em que consigo participar dos bastidores do fazer gastronômico, com um olhar mais poético para o dia a dia na cozinha que, a gente sabe, não é nada fácil”.
Chula Barmaid
A bartender argentina (@chulabarmaid) conta uma experiência extraordinária que a gastronomia lhe proporcionou: fazer a recepção do almoço real na Espanha, servindo a família real no palácio, “uma das lembranças mais interessantes e que me traz muita gratidão”.
Formada em artes cênicas, viu na gastronomia uma fonte de renda para pagar seus estudos em Buenos Aires. Com o tempo, foi se apaixonando e conseguiu misturar suas duas paixões: teatro e coquetelaria. “Hoje, agradeço muito, porque não imagino como seria minha vida se não fosse gastronômica”.
Segundo ela, toda essa sua trajetória foi graças a ser mulher. “Nós mulheres temos uma luta que é sempre o dobro para conseguir o que queremos. E, ao mesmo tempo, inspirar outras mulheres. Definitivamente, só por ser mulher que eu consegui todas as minhas conquistas”.
Juliana Aquino
A sócia-proprietária da Baianí Chocolates (@baianichocolates) diz que seu maior orgulho foi o seu primeiro passo. “Aos 48 anos, resolvi me aposentar da minha carreira de cantora, fui fazer faculdade e outras capacitações para entrar nesse mundo maravilhoso da gastronomia do qual não há mais como sair”, a gastronomia já fazia parte de sua “genética”, herdando essa paixão de sua avó e sua mãe.
Antes mesmo de a Baianí tomar forma de fato, duas barras de chocolate produzidas por Aquino foram premiadas. “Foi muito significativo, porque deu o sinal do início dessa nova empresa”. Outra grande vitória tem ligação com o chef Rodrigo Oliveira, que recebeu as barras de chocolate da marca e se apaixonou. “Hoje, a gente tem orgulho em dizer que os chocolates do Mocotó e do Balaio, restaurantes do Rodrigo, são Baianí”.
Por fim, a chocolatemaker diz que ser mulher contribui imensamente em sua profissão. “Realmente, os homens podem desenvolver seus sentidos, mas as mulheres já têm essa sensibilidade aflorada. A gente tem os cinco sentidos potencializados e temos noção do que eles significam de forma muito natural. Trabalhar com gastronomia e, principalmente, com cacau e chocolate exige uma sensibilidade gigantesca para analisar aromas, sabores e cores, por exemplo. Ser mulher também contribui nos momentos de ter ideias, fazer networking e muito mais. Eu não sei se eu sendo homem teria o mesmo desembaraço e entendimento do que é o chocolate que tenho hoje”.