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Restaurantes e Bares

‘Talvez tenha sido o maior cozinheiro em solo brasileiro’, diz crítico sobre Daniel Redondo

Chef espanhol faleceu nesta sexta-feira (24), vítima de um acidente de moto; profissionais da gastronomia lamentam a sua partida

SAO PAULO 07/08/2014 PALADAR / Mani / Daniel Redondo, chef do restaurante Mani (com Helena Rizzo). FOTO FERNANDO SCIARRA/ESTADAOFoto:

“Nascido para cozinhar”, como atesta um post no perfil do El Celler de Can Roca, no Instagram, o chef espanhol Daniel Redondo partiu ontem, 24 de novembro, vítima de um acidente de moto na rodovia AP-7, próximo a Salt, em Girona. De acordo com o Serviço Catalão de Trânsito (SCT), ele teria colidido com a traseira de um carro.

Redondo cozinhou e fez história. Com apenas 46 anos, em nove deles, foi chef de cozinha do premiado restaurante espanhol, eleito o melhor do mundo em 2013 e 2015 pelo 50 Best Restaurants. “Uma pessoa perseverante, apaixonada e talentosa. Às vezes mal-humorado, fruto do seu caráter e exigência, tinha um coração gigantesco”, lamenta a mesma publicação, que mostra Redondo abraçado à Montsé Roca, matriarca da família.

“Ele era como um filho para ela, que sabia ‘colocar o menino na linha’”, conta Patrícia Ferraz, colunista e crítica gastronômica do Paladar. “Ele cresceu com os irmãos Roca, no restaurante Can Roca, um lugar simples, de comida reconfortante. Foi aprendiz e cozinheiro ali, antes de entrar na cozinha do El Celler Can Roca, na mesma rua. Foi para lá que ele voltou nos últimos anos, quando a vida ficou complicada”, complementa.

Foi na cozinha do Celler, aliás, que Redondo conheceu a chef Helena Rizzo, em 2003, com quem foi casado. Juntos, em 2006, eles abriram o premiado Maní, em São Paulo, onde o chef permaneceu até 2016, antes de voltar para a Espanha. “Ele fundou o Maní comigo, tudo o que tem ali também é dele”, afirma Helena. “Não é à toa que, ainda hoje, sete anos após a sua saída, ainda falamos ‘oído!’, em vez de ‘sim, chef!’, na cozinha”, conta Helena muito emocionada. “É por causa dele também que a gente ainda usa sofritto [refogado espanhol] como base para as receitas.”

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ARQUIVO 02/05/2016 PALADAR Bastidores do jantar Gelinaz em SP, com os chefs Helena Rizzo, Daniel Redondo, o peruano Virgilio Martinez, o chileno Rodolfo Guzman, o português Leonardo Pereira, Jefferson Rueda, Alberto Landgraf, Thomas Troisgros, o francês Iñaki Aizpitarte, Manu Buffara, Thiago Castanho, o peruano Mitsuharu Tsumura, Alex Atala e Rodrigo Oliveira. Crédito Ricardo Toscani/Estadão 

E não só. O cardápio do Maní reserva ainda criações de Redondo, como o arroz de chouriço e a famosa moqueca da casa, que é servida com uma terrine de arroz queimadinha.

“Daniel deu grande contribuição para a cena gastronômica paulistana, com seu talento, criatividade e o domínio das técnicas e combinações da cozinha de vanguarda espanhola”, afirma Patrícia.

Luiz Américo Camargo, padeiro e curador do festival gastronômico Taste, que era editor e crítico de gastronomia do Paladar à época da abertura do Maní, complementa: “Daniel era um cozinheiro brilhante, ao mesmo tempo que ele tinha conhecimentos das técnicas de vanguarda, era um entusiasta da cozinha caseira catalã. Tinha muita paixão pelos produtos, pelos pratos clássicos, o arroz, os cozidos… Ele, juntamente com a Helena, interpretava essa paixão pelo tradicional em uma cozinha de vanguarda, usando produtos brasileiros”.

“Talvez ele tenha sido o maior cozinheiro em solo brasileiro. No início da década de 2010, ele foi quem mais cozinhou em alto nível, atingindo níveis espetaculares de sabor, de técnica, de inventividade, de capacidade produtiva… Ele foi um caso único no Brasil, um dos grandes modernizadores da cozinha brasileira junto com a Helena e o Alex Atala”, crava Luiz Américo.

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