Há quem diga que é o projeto mais esperado do século no mundo do vinho. E pode ter certeza: a primeira safra do Domaine de Penglai, feito na China e com lançamento previsto para o ano que vem, será um divisor de águas.
Trata-se do primeiro vinho elaborado no país mais obcecado com Bordeaux de todo o globo terrestre pela gigante francesa Domaines Barons de Rothschild (DBR), dona de marcas icônicas como o Château Lafite Rothschild.
A francesa entrou lá em 2008 em parceria com o conglomerado chinês CITIC. O terroir eleito foi a península de Shandong, escolha curiosa, já que toda a moderna vitivinícola chinesa tem se desenvolvido em Ningxia, onde o governo oferece concessões de terra de 50 anos, além de incentivos fiscais.
A DBR é experiente em matéria de península – está no Médoc desde 1868. A diferença é a altitude: no máximo 30 metros acima do nível do mar na França contra até 1,2 mil metros na China. A elevação, neste caso, é bem-vinda para compensar os verões quentes e úmidos. Há vinhedos em encostas com sistema de drenagem e brisa oceânica para garantir frescor.
A latitude também ajuda, fica algo entre a de Bordeaux e a do Piemonte, como explica o CEO da DBR, Christophe Salin, à publicação inglesa Decanter.
No total, a Lafite plantou até agora vinhas em 25 hectares com Cabernet Sauvignon (55%), Cabernet Franc (15%), Syrah (10%), Marselan (10%) and Merlot (10%). Outros 25 hectares estão também na programação do próximo ano.
Já foram realizadas quatro vindimas, mas só no ano passado a empresa declarou uma colheita não-experimental, o que indica “um passo a diante”, segundo relatório de safra, “com equilíbrio fisiológico, rendimentos altos e uvas de boa qualidade”. Nesse mesmo relatório, a empresa diz que o clima em Shandong foi mais amigável que em Ningxia, com menos chuvas e menos tempestades de granizo.
Nesses quase dez anos em que está na China, a Lafite tem testado absolutamente tudo, de métodos de viticultura ao tipo de barrica a ser utilizada. “Este não é um projeto romântico, mas científico, com estudos de solo, de clima e análises”, diz Salin.
Toda essa ciência deve manter-se um mistério fora da China, pois é provável que não se prove este vinho alhures. As 20 mil garrafas anuais devem ser gole curto para a sede chinesa.