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Vinhos naturais do Alentejo

Pela intervenção mínima na vinificação, produtor português aposta em vinhos produzidos em ânforas para preservar as características do terroir da região

Pedro Ribeiro realizou o sonho do vinho próprio no Alentejo, na subregião da Vidigueira, em 2010. Com passagens por vinícolas como a Quinta do Noval e uma longa experiência ao lado de Luís Duarte, na Herdade dos Grous, chegou a hora de etiquetar sua própria bebida, produzida seguindo a máxima da mínima intervenção no processo para preservar as características do terroir alentejano. 

Natural do Alentejo. Portfólio Bojador Foto: Bojador

Ribeiro trabalhou em seu one-man-show, como define o Bojador, por quatro anos até ver sua reputação mudar do dia para a noite: em 2014, um de seus rótulos foi o único alentejano e de pequeno produtor a entrar na seleção dos dez vinhos mais representativos de Portugal, segundo a crítica inglesa Jancis Robinson, em meio a Barcas Velhas e outros Batutas.

Foi uma surpresa e também um sufoco, não conseguiu dar conta da demanda. Em dois anos, sua produção teve de dobrar, com a busca incessante por vinhedos antigos. 

O Bojador de Talha Tinto (R$ 168 na Winelovers) é feito com 40% de Triancadeira, 30% de Moreto e 30% de Tinta Grossa (uma raridade local que foi vinificada como varietal por Paulo Laureano, importado no Brasil pela Adega Alentejana) como se faz no Alentejo desde que o mundo (do vinho) é mundo: em ânfora.

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Ribeiro coloca as uvas com casca e engaço em uma de suas ânforas de 200 anos, destampada, cobre-a de azeite no topo (algo que espanta os brasileiros, diz ele) e, ao fim de seis meses, acopla uma torneira no fundo da ânfora e deixa que o vinho escape para um tanque de aço, onde fica por duas semanas para que a bebida se estabilize.

Tradição. Ânforas de barro, utilizadas por Pedro Ribeiro, são usadas no Alentejo desde sempre Foto: Bojador

A beleza deste processo é que o engaço funciona como um filtro para a bebida, que sai limpa, sem sedimentos. Depois da estabilização, recebe uma pequena dose de sulfito e descansa em garrafa por no máximo dois meses. O resultado é um vinho facinho e delicioso, que traz, além da fruta madura, aromas crus do vinho natural, mas limpo, sem nenhum traço de Brett; uma belezinha. 

Há também um branco que passa pelo mesmo processo, mas o resultado é diferente. O Bojador Branco de Talha (R$ 168), feito com 40% de Perrum, 30% de Roupeiro, 20% de Rabo de Ovelha e 10% de Manteudo é dourado, muito estruturado, e traz exuberantes aromas florais. Natural sim, e muito cabeça. 

Pedro é talentoso, característica comprovada pela linha de entrada (R$ 97 cada), que, como os irmãos mais glamourosos, vale muito a pena. O Bojador Branco é estruturado e complexo, enquanto o Rosé parece um branquinho discreto, como se tivessem trocado de personalidade. O tinto é garantia de sucesso com turmas e em ocasiões diversas, e há ainda um reserva, que vale os R$ 138 que custa. 

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E o portfólio deve crescer: a exemplo de Laureano, Pedro ensaia criar monovarietais com castas locais pouco exploradas como a Perrum e a Mureta, que seria (naturebas, tremei!) um single ânfora, conceito usado para os vinhos feitos em barricas únicas. 

Vinho Bojador Branco Foto: Bojador

Mas nem tudo são flores e uvas sãs no Alentejo para Pedro. As ânforas são caras, raras e altamente quebráveis, e o clima não está para brincadeira. Com verões cada vez mais intensos, os fenômenos de escalda, em que as uvas viram passas, estão cada vez mais comuns e o caráter vegetal, tão caro ao enólogo, mais difícil de controlar. O jeito é colher cada vez mais cedo. 

Além do Bojador, importado pela Winelovers, Pedro Ribeiro assina os vinhos da Herdade do Roncim, junto à mulher Catarina Vieira, que são importados pela World Wine.

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