O que você prefere? Capote, pintade ou faraona?
No meu caso, eu responderia os três, depende do lugar.
Em se tratando de restaurantes cariocas, no caso do capote eu vou na Barraca da Chiquita; mas se for pintade a escolha é o Tiara; enquanto se falamos de faraona eu penso primeiro na Casa Tua.
As três palavras designam o mesmo animal, preciosa iguaria, a galinha d'Angola, dependendo do local onde estivermos. A ave, de origem africana, é muito consumida nas cozinhas da França, da Itália (sobretudo na Toscana) e do Nordeste brasileiro.
Capote é como chamam em boa parte do Nordeste a ave, também conhecida como Guiné em algumas regiões, onde ela é popular não só por sua carne saborosa, mas também por ser predadora de cobras e escorpiões, guardiã fundamental nos ranchos do Sertão.
Mesmo em outros endereços nordestinos no Rio não é fácil achar um bom prato de capote. Na Barraca da Chiquita, com matriz na Feira de São Cristóvão (oficialmente Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas) e filiais em Copacabana e Icaraí (Niterói), encontramos o prato de galinha d'Angola mais barato do Rio:servida na panela de barro em molho denso, ela vem com cuscuz e baião-de-dois, em porção farta, suficiente para duas pessoas:
- É a parte mais nobre do capote, coxa e sobrecoxa - diz o garçom Chicão, valorizando o produto da casa.
Pintade é a mesma coisa, mas com acento francês, ganhando esse nome devido às pintas espalhadas pelas penas. Entre os restaurantes cariocas da especialidade, o Tiara, do chef Rafa Gomes, é o único que me ocorre que serve a galinha d'Angola. Preparo exemplar, um bom pedaço do peito, que é maturado e grelhado no ponto exato para preservar sua maciez e suculência, com a pele tostadinha. Uma delícia, ainda mais com sua guarnição, um "quase risoto" de cevadinha, cogumelos e milho verde; e seu molho cremoso, derramado à mesa pelo garçom, uma espuma de batata e noisette. O prato é um dos carros-chefes da casa, que fica no Rio Design Leblon, especialidade do chef, que fez carreira na França antes de voltar ao Brasil. Ele foi quem recomendou, quando pedi sua indicação.
Por fim, na Itália a mesma ave é chamada de faraona, cujo nome remete à realeza do Egito dos faraós. É muito consumida sobretudo na região da Toscana. Pode ser assada, mesmo na brasa, como fazemos nas nossas churrasqueiras, e podem virar o elemento principal em pratos de massa, seja em forma de ragu, seja em forma de recheio, para tortelli, por exemplo.
Assim é a maneira como é servida no Casa Tua Cucina, na Barra, um italiano que é garantia de comida de alto nível, com time liderado pelo maître Atargedes Alves, socio e idealizador da casa, que garante o controle de qualidade. Um dos meus pratos preferidos ali, sem dúvidas, é o opulento tortelli di faraona com fonduta di burrata e tartufo nero, conjunto realçado pelo denso e escuro, e de sabor muito concentrado e profundo, caldo do cozimento da ave, o popular "arrosto". É um dos meus pratos preferidos, melhor dizendo, não só ali, mas em todo o Rio de Janeiro. Gosto de mais. Dependendo do dia, posso ir de branco encorpado, ou de tinto mais leve, se4m madeira, e mais jovem.
Porque a galinha d'Angola tem várias faces e formas de preparo, distintos e nomes e harmonizações. Em todos os casos, por aqui, uma pena, ainda é raridade. Mas, ainda bem, nesses três lugares sempre tem.
O paladar agradece: #vaipormim
SERVIÇO Barraca da Chiquita: Feira de São Cristóvão, Campo de São Cristóvão s/nº, Avenida do Nordeste A-9, São Cristóvão. Tel.: (21) 3860-2929. Instagram: @barracadachiquita_ Site: barracadachiquita.com.br Casa Tua: Rua Érico Veríssimo 190, Jardim Oceânico, Barra. Tel.: (21) 97887-7014. Instagram: @casatuabrasil Site: casatua.com.br Tiara: Rio Design Leblon, Av. Ataulfo de Paiva 270 / 111, Leblon. Tel.: (21) 3547-1001. Instagram: @tiara_restaurante Site: bfw.group/tiara-restaurante