Por volta das 20h da última quinta eu cheguei no número 696 da Rua Pacheco Leão, no Jardim Botânico, para jantar na Casa Horto. Pra quem ainda não sabe, porque o lugar já nasceu famoso: este monumento arquitetônico abriu as portas no sistema de soft opening, que de soft não tem nada. Os dois ambientes independentes estavam lotados, como vem acontecendo regularmente, tamanho o burburinho a seu respeito.
No primeiro andar encontramos o Pátio, um restaurante de inspiração argentina, com parrilla vistosa e espaçosa, e cardápio baseado em carnes, com direito a carpaccio e empanadas fritas de fraldinha, as melhores que já comi no Brasil. Ali, quem dá as cartas é o chef argentino Adair Herrera, craque da parrilla, que propõe um menu preparado sobretudo na brasa, não só com carnes e pescados, mas também muitos vegetais.
Subindo as escadas chegamos ao P'alma, nome que presta homenagem às palmeiras imperiais plantadas ali poucos anos antes de quando foram erguidas as paredes do imóvel, de 1839, antiga sede da fazenda que existiu ali, depois transformada em uma tecelagem. É o espaço dominado pela dupla dinâmica Luisa Veiga, chef experiente, e da bartender Jessica Sanchez, uma das maiores referências da coquetelaria brasileira, que contam com o doce amparo da pâtissier Tamara Wilson.
- O meu steak tartare é famoso, um típico pega-marido: conquistei meus últimos namorados com ele - brinca a chef, me fazendo entender as razões dos seus trunfos amorosos.
A inauguração da Casa Horto confirma essa área do Rio, uma espécie de extensão do Jardim Botânico, como um polo gastronômico emergente, onde abriram as portas muitos dos lugares mais badalados do Rio de um tempo para cá, destaque para o Elena, tão imponente quanto, e o Katz-Su, pan-asiático defronte para a sede da TV Globo, que ajuda a badalar as redondezas, onde encontramos ainda a Absurda Confeitaria, a padaria La Bicyclette, o Grado, o Pássaro Verde da Roberta Sudbrack, o Escama, a Quinta da Henriqueta e a Casa 201, que já foi tema de post nesse jovem blog (para ler, clique aqui).
Na sexta, empolgado com a novidade, escrevi assim no Instagram: "A aguardada @casahorto já está rolando, ainda em soft opening. Lindo demais o lugar, com vista espetacular pro Jardim Botânico, e a Floresta da Tijuca, coroada com o Cristo. Já nasceu bombando! E confirma a região como a bola da vez na gastronomia e na vida noturna do Rio. É só a primeira fase do projeto, com restaurante embaixo (Pátio), com parrilla e menu do chef @adair_hr, e bar em cima (P'alma), com cardápio da @chef_luisaveiga: ainda virão um empório e um speakeasy. Fica em um casarão de meados do século 19, com quase 200 anos (de 1839) que foi sede da fazenda que ocupava a área. Projeto arquitetônico de João Uchoa, que soube preservar o ambiente colonial, com mobiliário clássico de designers brasileiros, e iluminação elegante e confortável. No segundo andar haverá pocket shows num pequeno palco e DJs. Por exemplo: o @leojaimeoficial está preparando um show com clássicos do rock. O lugar não vai dar o que falar: já está dando. ... Melhor não ir sem reservar, porém, passantes podem ser aceitos, dependendo do movimento do dia. Vale arriscar, eu diria. Afinal, quem não arrisca, não petisca. É de impressionar."
Numa mesa grande, pude provar muitas coisas, combinando itens dos dois andares. A Casa Horto, em breve, será ainda maior do que os 200 lugares atuais, quando serão inaugurados o espaço Speakeasy - que ostenta uma coleção de bebidas muito especial, com seleção de muitos rótulos raros, que sequer são importados diretamente para o Brasil - e o Empório 1839, onde encontramos um cardápio com sanduíches e saladas, além de cuidadosa linha de produtos, entre queijos, vinhos, embutido e cafés.
Começamos com um petisco matador: chips de mandioca com pasta de trufas negras, crocante tentação.
Depois, vieram as empanadas fritas de fraldinha, as melhores que já comi no Brasil (nem na Argentina lembro de ter comido melhores, não), cartão de visitas arrebatador do chef argentino, fazendo jus a seu DNA portenho.
O carpaccio é rico na condimentação de ervas, verdinho que só ele, com azeite e parmesão no arremate.
Aí, depois desses dois pratos vindos do Pátio, chegaram outros, dessa vez do P'Alma, da lavra da Luisa, assim como havia sido com o tartare conquistador. Primeiro, um crocante de camarão com manjericão e molho asiático de amendoim. Depois, um foie gras poêlé disposto sobre um creme do fígado gordo de pato, aveludado com abóbora a ponto de poder ser chamado de "espuma".
Também da mesma cozinha do segundo andar provamos um arroz de frutos do mar molhadinho, que tinha uma grande virtude, de chamar a atenção: muita cavaquinha, em ponto exato de cozimento, a estrela do prato.
Voltemos à parrilla: a fraldinha veio para comprovar o talento de Adair Herrera com as carnes: impossível ser melhor, repara no ponto na foto acima. De se notar, além do tempo exato de grelha e o uso de sal mais que correto, a qualidade da carne em si. A guarnição era um mix de vegetais na brasa, muito adequado e saboroso.
Fechamos com uma tortinha de limão.
Na hora de ir para casa, ainda acenamos para o Cristo.
SERVIÇO Casa Horto: Rua Pacheco Leão 696, Jardim Botânico. Tel.: 21-93618-6310. Horários: Pátio (ter. a dom., das 12h às 23h50) e P'Alma (ter. a dom., das 17h à 1h). Instagram: @casahorto