Um amigo me perguntou, na semana passada:
"Por que a Glória está na moda, deu até no New York Times?"
Na verdade, não é o NYT, mas a Time Out, que destacou o bairro recentemente em nono lugar na lista dos lugares mais "cool" do mundo.
Como sempre acontece nesse tipo de seleção, o resultado é uma combinação de fatores. Eu diria que existem razões gastronômicas, sócio-econômicas e ecológicas. E políticas, uma vez que o programa Dias de Glória, da Secretaria Municipal de Turismo, revitalizou várias áreas do bairro, com reformas e a criação de novos espaços.
O bairro já está em clima legal há um bom tempo. A Feira da Glória, ao mesmo tempo que acolhia imigrantes e refugiados, sobretudo da África, América Latina e Oriente Médio, virou referência na produção de alimentos orgânicos, e chega a ter três rodas de samba simultaneamente. É a maior feira livre do Rio, e comporta desde de sebos de discos de vinil a barracas de cervejas artesanais e de vinhos naturais. O perfil @feiradagloria tem quase 80 mil seguidores. É uma festa, que acontece todos os domingos, atraindo um público variado, interessado pelas muitas barracas de comida de rua, como a famosa Cozinha da Latifa, que serve quitutes nigerianos, e forma a maiores filas (chegue cedo).
Outros destaques gastronômicos são os bolinhos de bacalhau do Mazzaropi, o Ceviche de Harry e os acepipes do Carioquinha Bolinhos, como o de feijoada, Choripán no Raul Alberto, e entre outros.
Outro aspecto importante é o meio-ambiente; depois de anos, a praia, apelidada de Brejão, voltou a ter boas condições de banho, com água limpa e direito a dias "caribenhos", como se vê em alguns relatos e posts nas mídias sociais.
Além disso, a gentrificação natural por que passa a cidade, sobretudo Botafogo, está levando novos moradores ao bairro, um público parecido, que frequenta alguns dos melhores bares e restaurantes da cidade.
O mesmo vem acontecendo na Glória. De um ano para cá, pelo menos quatro bares que andam na moda abriram as portas. Primeiro, foi o Labuta Mar, que passou a movimentar a Praça Luís de Camões, ocupando o espaço com cadeiras de praia e caixas de cerveja, que se convertem em "mesa". Lúcio Vieira, um dos sócios, também à frente de outras operações de sucesso, como o Lilia Bistrô e o Celeste, é um dos cozinheiros mais prestigiados do Rio atualmente.
Esse ano, mais três novidades reforçaram a condição da Glória como lugar de referência na gastronomia e na vida boêmia do Rio. Pela ordem, abriram as portas o Suru Bar, o Fatchia e o Isca.
Os dois primeiros têm entre os sócios a dupla Jonas Aisengart e Edu Araújo, que também estão à frente do Quartinho e do Chanchada, em Botafogo, dois fenômenos de público, e do Pope, em Ipanema, que importou de São Paulo o chef Matheus Zanchini, do badalado Borgo Mooca.
Tendo a dupla Raí Mendes e Igor Renovatto no comando do bar, e Roberta Antônia na cozinha, o Suru Bar já nasceu um sucesso, com sua proposta de servir coquetelaria de qualidade a preços atraentes, e um cardápio de petiscos bem bolados, igualmente com valores acessíveis.
Já o Fatchia é mais um exemplo de "listening bar", uma tendência atual, lugares que têm foco na qualidade sonora, onde a música é um dos atrativos, além dos comes e bebes. Toda a noite tem clima de festa, DJs tocando e pizzas, no estilo Detroit, com massa alta e leve, bem aerada, cortada em retângulos, como também se faz em Roma (a pizza "al taglio").
O Isca, por sua vez, que já foi tema de post de sucesso neste blog Seleção Carioca (para ler, clique aqui), reúne a turma que fez muito sucesso no bar Comuna, famoso pelos burgers.
SERVIÇO Labuta Mar: Rua do Russel 450-B. Instagram: @labuta_mar Isca: Rua do Russel 724-A. Instagram: @_iscaisca Suru Bar: Rua da Lapa 151. Instagram: @surubar.rj Fatchia: Rua Benjamin Constant, 8. Instagram: @fatchia_pizza