Havia acabado de anoitecer quando cheguei pela primeira vez ao Libô Comida e Vinho, recém-inaugurado em Botafogo. Não tenho dúvidas em afirmar que se trata de um dos lugares mais charmosos do Rio. E gostosos também. É uma casinha linda, com acesso por uma escada de quatro degraus, porque existe um porão de pedra, que aos poucos começa a ser usado. O salão tem piso de madeira e paredes caiadas, onde estão os menus, indicando os pratos e os rótulos disponíveis no dia, com a intenção de que eles variem com certa constância.
O espaço é fruto da parceria entre a chef Roberta Ciasca, do Brota e do Miam Miam, ambos no mesmo bairro, e da sommelière Maira Freira, do Lasai, que recentemente foi laureada pelo guia Michelin por sua excelência profissional. Fica na rua Conde de Irajá, no mesmo terreno do Brota, com uma área externa que vai ser usada pelas duas casas de Ciasca: ou seja, será possível pedir comidinhas do restaurante e bebidas do Libô, um bar de vinhos naturais e de baixa intervenção, que simboliza perfeitamente essa tendência, que tem em Botafogo o seu epicentro, porque além de ter abrigado dois pioneiros no ramo, os saudosos Cru e Wine House, ainda abriga outras referências no assunto, como o Belisco, inaugurado em 2022, e o a Casa Tão Longe, Tão Perto, que abriu as portas em agosto, como símbolo dessa nova fase do movimento dos vinhos naturais no Rio, servindo exemplares brasileiros diretamente de torneiras, como chope, o que diminui o impacto ambiental.
Tive uma noite para lá de agradável no Libô, dessas que fazem a gente ter vontade de voltar, por tudo o que comi e bebi. Pedi o chamado Circuito de Vinhos, com cinco rótulos servidos em volume menor (75 ml), por R$ 125. O primeiro era um que eu adoro, e peço sempre que encontro, o Jerez Viva la Pepa, da Sanchez Romate, um Manzanilla salino e complexo, que é uma delícia, e fez belo papel ao acompanhar a rillete de pato com geleia de figo seco.
Os tacos de tempurá de camarão em vez de ter tortilla como base é feito com folhas de alface romana, que dá crocância, e tem sabor ligeiramente adocicado. Também pedimos escabeche de peixe com focaccia e bolinhas de queijo com molho de tomate e salame artesanal. E bebemos nomes como Pablo Fallabrino, do Uruguai, Mikron e Soler, ambos da Argentina; Freghino, da Itália, e Saint-Porçain, do Loire, na França. Bela sequência. Não vejo a hora de voltar, com mais fome, sede e tempo.
Isso foi na terça da semana passada, e aponta uma tendência.
Na sexta o destino foi Ipanema, para outra novidade do gênero: o Virtuoso, outro bar de vinhos naturais e de baixa e intervenção, que nasceu em Salvador e migrou para o Rio, inaugurado um dia antes, na quinta. Cheguei ao som dos Beatles, com o LP rodando no toca-discos. Que belo boas-vindas.
O pequeno espaço reflete bem os sócios, o casal Bernardo Góes e Mel Romariz, que dão especial atenção aos clientes, assim como a Laura Rodrigues, que cuida do serviço. São eles que escolhem os cerca de 50 rótulos da carta - que tem ainda vermutes da Cia dos Fermentados, que também produz o espumante de cambuci, outro destaque. Uma boa opção é pedir o growler de um litro, que vem com o Casa Viccas 2023, um blend de uvas brancas.
Fui provando algumas coisas. Umas, eu já conhecia de longa data, como o Domínio Vicari, que compareceu à minha mesa com seu delicioso Lorena 2021. Outras foram novidade, como o Cabernet Franc Rosé da Monteneus, uma delicinha.
Provei o trio de ostras, pinçado do enxuto menu, feito com consultoria do chef uruguaio Estebán Mateu: ao natural, com óleo de chorizo e com sorbet de pepino, três boas formas de abordar essas conchas, provocando resultados diversos: o salino, o untuoso-picante e o frescor.
Decidido a escrever sobre o lugar, pedi fotos da casa, além do menu. A resposta foi essa:
"Segue abaixo link com algumas fotos.
Sobre a estética: a fotografia analógica foi escolhida pela conexão entre conceitos com o vinho natural. O tempo das coisas, o artesanal, a contramão do padronizado."
Sem dúvidas este é um lugar coerente. E agradável. E que, assim como o Libô (e o Belisco, e a casa Tão Longe, Tão Perto), eu pretendo voltar muitas e muitas vezes. Nem precisa estar tocando Beatles: os outros discos que vi ali serão sempre excelente trilha sonora.