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As célebres (e raras) cervejas belgas Cantillon e 3 Fonteinen estão de volta

Complexas, caras e deliciosas, elas chegam ao mercado brasileiro no fim de novembro; saiba mais sobre as duas cervejarias

A notícia é incrível, vai ser preciso rapidez e determinação, mas valerá a pena: chegam em novembro de volta ao Brasil as cervejas belgas da Cantillon e da 3 Fonteinen. O lote é pequeníssimo e marca o retorno das marcas depois de mais de um ano. Já está certo que vai ter um lote maior para o início de 2018, mas se quiser garantir o melhor presente de Natal cervejeiro que se pode imaginar, seja rápido.

Da Cantillon, veio só a gueuze e apenas em barril. Da 3 Fonteinen, só Oude Gueuze, cem garrafas de 750 ml e 200 de 375 ml. No mesmo contâiner tem ainda Fantôme (Saison, Tonton Robert, Dalmatienne Blonde e Dark White, todas saisons, uma diferente da outra) e De Struise (Tseejes Reserva Bourbon Barrel Aged).

Lotes pequenos das cervejas Cantillon e 3 Fonteinen chegam ao Brasil. Foto: 3 Fonteinen

As 3 Fonteinen, no Empório Alto de Pinheiros, vão custar pouco mais de R$ 110 (375 ml) e R$ 180 (750 ml). As Fantômes, todas de 750 ml, ficarão por volta de R$ 100. E a Struise (330 ml), em torno dos R$ 65. As garrafas estarão à venda a partir da última semana de novembro.

Dos 20 barris de Cantillon, seis vão para o Empório Alto de Pinheiros. E dessa informação vem mais uma notícia arrebatadora: o empório vai ter torneira fixa para Cantillon a partir de 23 de novembro. Poucas coisas podem ser mais tranquilizadoras na vida do que saber que sempre vai ter Cantillon em uma torneira perto de você. Em dias de boas notícias, é o brinde perfeito. Em dias de grandes desilusões, o consolo ideal. Uma taça de gueuze é um sol portátil, é luz para beber. Outros barris vão para Publican, em Brasília – aliás, excelente novidade no circuito cervejeiro brasiliense –, Bodebrown (Curitiba) e Loja do Cervejeiro (Cascavel, PR). A notícia vem com o nascimento de uma importadora, a Craft Soul. Ela surge da sociedade entre a catarinense Rarix, o beerhunter Diego Cartier e o sommelier Francisco Neto. 

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NAS CERVEJARIAS

Em 2015 visitei a Cantillon e a 3 Fonteinen. As duas cervejarias não poderiam ser mais diferentes – essas diferenças refletem a personalidade de seus donos e aparecem no copo. As duas devem constar do roteiro de todo fã de cerveja que vai à Bélgica, até para que possam dizer aos amigos de qual gostam mais. Confesso, sou #Team3Fonteinen. Mas não me importaria nem um pouco em tomar só Cantillons de hoje até o fim dos meus dias.

JEAN E A CANTILLON

Por fora, a Cantillon é um galpão feioso num bairro sem graça e barulhento, em Bruxelas. Por dentro, tem um quê de museu misturado com Castelo Rá-Tim-Bum (se você curte Estúdio Ghibli, parece o Castelo Animado). Os equipamentos são antigos, têm poeira e teia de aranha para todo lado e os funcionários parecem membros de uma banda de indie. Tudo transborda charme, você percorre as salas de fermentação e maturação seguindo um folheto entregue logo na entrada e termina em um balcãozinho para fazer a degustação das deliciosas cervejas produzidas ali. Do lado da degustação fica a lojinha, onde você pode comprar garrafas por preços inacreditáveis para quem está acostumado às cifras estratosféricas que podem pintar por aí (as cervejas são tão cobiçadas que chegam a valores absurdos em sites como eBay).

Charme. O agitado Jean Van de Roy, à frente da Cantillon. Foto: Yves Herman|Reuters

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Também é somente ali que dá para comprar alguns rótulos como Mamouche (com flor de sabugueiro) ou a Kriek Lou Pepe (uma gueuze super borbulante com adição de cerejas azedas). 

Jean Van de Roy, à frente da cervejaria, é um sujeito agitado e charmoso, como sua cervejaria e suas cervejas. De fala rápida, descreve suas criações com um encanto de quem poderia estar tomando aquela cerveja pela primeira vez e explica o processo de fabricação com enorme alegria, mesmo provavelmente fazendo isso a cada 30 minutos. É arrebatador.

A cervejaria abre para visitas todos os dias exceto às quartas e domingos. O ingresso custa 7 euros e inclui a prova de três rótulos. Informações: cantillon.be/visites

ARMAND E A 3 FONTEINEN

A 3 Fonteinen fica perto de Bruxelas, em uma cidadezinha pequena e pacata chamada Lot. A cervejaria parece uma garagem com um jardim. E você fica procurando a casa. Não tem. Há apenas um escritório/estoque.

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Tudo muito austero, tudo muito limpo, o tanque de fermentação, então novinho, é de inox. Não tem muito espaço para romantismo na 3 Fonteinen – isso até Armand Debelder entrar em cena. Ele não é o tipo romântico-charmoso, mas sim o estilo austero. Leva a produção da cerveja seguindo regras muito definidas – considera, por exemplo, um absurdo que a Cantillon envase gueuze em barris para serem tirados na pressão.

Austero. Armand Debelder, um seguidor de regras rígidas. Foto: François Lenoir|Reuters

Quando visitei a cervejaria, ele havia acabado de mandar retirar do mercado o lote completo de 3 Fonteinen Zenne y Frontera, uma gueuze maturada em barris de Jerez oloroso, feita em parceria com o sommelier Andy De Brouwer. O motivo? Viu a cerveja sendo vendida a centenas de dólares no eBay. Passou a vender apenas para restaurantes, bares e em sua loja. 

Armand é um tipo circunspecto, fala sobre sua fábrica, o desastre que viveu (um problema no sistema de controle de temperatura do estoque levou à quase extinção da marca). Até que entra na sala de barris (que parece ter 200 anos!), e tira direto de um deles um pouco de cerveja para provar. Aí ele descreve os aromas e sabores como se fosse um pregador. É impossível não sair convertido dali.

A 3 Fonteinen recebe visitas aos sábados; grpos podem reservar outros dias. Informações: 3fonteinen.be/en/

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ENTENDA

● Canti-o-quê?

É Cantillon. Pode falar Cantilón, pronunciando o éle, que todo mundo vai entender. Mas se quiser seguir a pronúncia mais correta, diga Canti-ión, com um “i” longo.

3 Fonteinen é mais complicado: pronuncie Drí Fontênen – pronto, você já está falando flamengo, veja só.

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Lambic é paroxítona, diga lâmbic. E gueuze é uma palavra esquisita, diga guêze – se conseguir fazer um biquinho, meio para baixo, fica ainda mais perto do som original. ● O estilo: lambic e gueuze

Lambic é o estilo de cerveja belga de fermentação espontânea feita no vale do Zenne, nos arredores de Bruxelas. O mosto – o cozido de água com grãos – fica em um tanque raso, amplo, em salas com janelas abertas. A água do ar condensa e cai sobre o mosto, cheia de leveduras selvagens. E assim começa a vida dessas cervejas complexas. As lambic são maturadas em barril de carvalho. As bebidas em diferentes estágios de maturação (de um a três anos) viram blend e se transformam em gueuze. Ou seja, toda gueuze é um blend de lambics de diferentes estágios de maturação.● Por que beber

Elas são caras, a produção é limitada, mas são excelentes para ocasiões especiais e fundamentais para quem estuda.● Mas como elas são?

Claras, variam do amarelo ao alaranjado, e têm uma espuma branca, densa. São no geral bem carbonatadas, mas atenção, existem versões sem gás, caso da faro ou da straight lambic. No nariz, são uma viagem. A levedura selvagem traz muitos aromas para a cerveja: floral, de frutas amarelas, notas animais, de queijo, de vinho branco… O gosto é primordialmente ácido. E os sabores são complexos como o aroma. O lúpulo usado aqui é envelhecido de propósito para conservar a cerveja e não trazer notas intensas (não tem amargor do lúpulo). Resumindo: são complexas e refrescantes.

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