A cada semana que passa e que o cenário de crise se estende, aumenta minha vontade de tomar barleywine. A cerveja com nome de vinho (barleywine quer dizer vinho de cevada) é das mais introspectivas entre todas as cervejas.
Uma das primeiras coisas que ficam clara quando se mergulha no universo cervejeiro é que existe uma cerveja perfeita para cada ocasião, não importa qual seja a ocasião.
A esta altura da quarentena começo a achar que é a cerveja perfeita para isolamento social é barleywine. Sem poder encontrar amigo, dá menos vontade de cerveja fácil e leve: elas chamam conversa animada. E está difícil ter conversa animada.
Como o nome indica, na barleywine quem brilha é o malte. O estilo de origem inglesa é bem alcoólico (entre 8% e 12%) e complexo, as notas aromáticas estão no mundo das frutas secas, do bolo inglês, das geleias, dos vinhos de sobremesa. Não espere uma carbonatação vibrante, essa é uma cerveja que está mais para o aveludado e licoroso.
Na minha quarentena, ela vai bem para encerrar o dia, para tomar um copo enquanto a tarde vira noite. Outra característica desse período estranho: apesar de dar vontade de encher a cara, prefiro tomar uma única e introspectiva cerveja. Assim a moderação prevalece.
Se quiser embarcar nessa ideia e testar se a barleywine harmoniza um pouco esses tempos tão desequilibrados, sugiro a Augustinus Hordeum (R$ 34, 355 ml, no Empório Alto dos Pinheiros). A barleywine da cervejaria paulistana passa por estágio em barril de carvalho americano embebido com bourbon (outra bebida que combina com esses tempos).