Tem uma geração inteira de fãs de cerveja que entraram no mundo das especiais pelas weizen, as cervejas de trigo do estilo alemão. É a geração Erdinger. A marca entrou no mercado em 2000 com um intenso treinamento de serviço (encher aquele copo alto com a garrafa inteira, mantendo o colarinho perfeito, é algo tão difícil que sempre cai na prova de melhor sommelier do Brasil), um trabalho bem pioneiro da Bier&Wein, importadora que segue no mercado de cervejas especiais.
Acontece que isso deixou passar uma ideia de que “cerveja de trigo” é weizen. E, verdade, weizen é uma cerveja de trigo. Mas há muitos outros estilos: tem witbier, tem american wheat, tem berliner weisse, tem gose. Sem falar que weizen pode ser hefe (a mais comum, em que você pensa quando pensa em Erdinger), kristal (filtrada, cristalina), dunkel (escura), bock (mais alcoólica e encorpada).
A witbier é o estilo belga, com casca de laranja e semente de coentro, mais espevitada. American wheat é, como o nome diz, a versão americana – espere bastante lúpulo, tanto no aroma como na construção do amargor. A berliner weisse é uma loucura: seca, ácida, vem ganhando versões incríveis com adição de frutas ou muito lúpulo. E a gose… ah, a gose… É a mais doida de todas: é ácida, seca e ainda tem adição de sal e semente de coentro, ou seja, tem leve salgado e toque condimentado.
Como tudo quando o assunto é cerveja, os encontros do bebedor com os estilos podem ser mais fáceis ou mais difíceis, mais simples ou mais complexos, mais baratos ou mais caros. Separei nesta edição da coluna três degraus de cervejas feitas com trigo. Uma facílima e de preço mais acessível; uma intermediária, que vai além do seu estilo; e uma bem cabeça, com uma complexa combinação de sabores.
Weizen x weisse
Weizen quer dizer trigo. Weisse quer dizer branco. Uma cerveja weizen pode ser também weisse e uma weisse quase sempre é weizen. Mas existe a dunkel weizen, que é a cerveja de trigo escura. Porém, pelo uso ser tão difundido, existe também o termo dunkel weisse para definir cerveja de trigo escura, mesmo que ao pé da letra isso queria dizer: escura branca. É preciso jogo de cintura (e certa permissividade) quando o assunto é nome de estilo de cerveja. Quer mais um exemplo: quem aí gosta de black IPA? Eu adoro. Mas tem gente que implica, afinal, india pale ale (ale-pálida-India) jamais poderia ser preta.
FACÍLIMA
PATAGÔNIA WEISSE Preço: R$ 19,90, 740 ml no Emporio.com É fácil de achar (no supermercado) e fácil de beber. Um acerto essa cerveja de trigo da Ambev na Argentina (muitos acham que a Patagônia é microcervejaria, não é. Ela foi criada pela Ambev no país vizinho depois do boom das craft). Ela é bem limpa, tem um toque cítrico e a textura é gostosa – bem carbonatada, quase cremosa. É versátil – tem gosto, mas não assusta, e combina com um monte de coisa. Provei com ceviche bem azedinho, deu certo. Com chips de batata-doce bem salgadinho, foi bem. Com chips de banana bem condimentado, sucesso. Do tipo que resolve quando a grana aperta e só dá pra passar no supermercado e comprar o que tiver.
INTERMEDIÁRIA
MEA CULPA PREGUIÇA Preço: R$ 26,99 (600 ml, na BeerPlanet) Witbier é cerveja de trigo de estilo belga com adição de semente de coentro e casca de laranja. Na versão da Mea Culpa (cervejaria que fica em Cotia e tem bar na rua Augusta, 591), ganha um toque de camomila, para entrar no clima da preguiça. E passa por dry-hopping (adição de lúpulo à cerveja já pronta) de sorachi ace, o lúpulo japonês que lembra coco e cidreira. O resultado é uma cerveja leve e fácil, que combina com dias ensolarados e vai além. Para quem já é fã de witbier, ela mostra novos caminhos. Para quem ainda não conhece o estilo, é uma boa apresentação.
CABEÇA
POHJALA MERI Preço: R$ 40 (330 ml, no Empório Alto de Pinheiros) Gose, o estilo alemão de cerveja ácida feita com trigo, semente de coentro e uma pitada de sal, estava ameaçado de extinção quando de repente entrou na moda e virou queridinho das cervejarias mais experimentais, mais ousadas. Este exemplar é da estoniana Pohjala, que chegou em julho ao Brasil e vale ser conhecida. Leva sal rosa do Himalaia, tem um tom alaranjado bonito que combina com a primeira impressão do primeiro gole. A conversa começa bem ácida e cítrica, tipo limonada. Mas aí vem o quê salgado e um contraponto levemente caramelo, surpreendente. Altamente cabeça, do tipo intrigante.