“Foram os momentos mais difíceis da minha vida,” disse Marina, logo depois que gravou o video abaixo, quando terminou o concurso de Melhor Queijista do Mundo. Queijista é a palavra inventada no Brasil para a profissão de quem tem loja especializada em queijos. Ele não só vende, mas sabe explicar, contas historia e aconselhar o consumidor final sobre o maravilhoso mundo queijeiro.
Depois do anúncio dos vencedores, Marina desabou a chorar, sentadinha ao lado do palco. Foi consolada pelo inglês Nick Baynes, que ganhou medalha de bronze e pelas duas candidatas japonesas, que também se embalaram na choradeira. Todos os candidatos se abraçaram muito, com exceção da russa e da ucraniana, claro.
"O mais legal para mim foi ver a interação entre nós, rolou muita amizade e solidariedade. Foi pura emoção tudo que vivemos. Vi que preciso me preparar mais e vou tentar de novo em 2025. Fiquei um mês na França sendo orientada por Laurent Mons, da escola Mons Formation, e por Laurent Dubois, MOF e queijeiro em Paris, foi muito aprendizado, mas é normal ser tão difícil, afinal é o titulo de melhor queijista do mundo."
Conheço Marina desde 2017, quando ela fez um primeiro curso de cura e analise sensorial de queijos comigo em Belo Horizonte. Ela deixou uma carreira de jornalista de tv e sommelier de cerveja para entrar de cabeça no queijo e abrir o Teta Cheese Bar de Brasília em 2018. Ganhou o direito de concorrer na França por ter ganhado o título de melhor queijista brasileira em 2022, no Mundial do Queijo do Brasil.
Comecei a ser jurada desse concurso em 2019 e também acho super emocionante ver o empenho e garra dos candidatos, a torcida eufórica e os jurados super concentrados. A regra mais severa do presidente do concurso nesta edição, o MOF Rodolphe Le Meunier, foi que nós jurados não podíamos dar nem um pio, para nenhum influenciar o outro. Para julgar as provas de tábuas e preparações queijeiras, recebemos tudo de forma anônima em uma sala fechada, no maior calor, para não saber quem fez o quê.
A prova que mais gosto é a apresentação oral do queijo preferido, quando o candidato tem 5 minutos para seduzir o júri. A russa, que não teve a bandeira do seu país representada na dolma, por conta da guerra, começou cantando uma canção que me arrepiou dos pés à cabeça. Ela serviu um queijo duro bem curado com notas de caramelo e chá preto, uma maravilha. Uma oportunidade única para nós jurados é poder comer queijos de todos os países representados.
Na vez de Marina, ela apresentou em inglês e francês o queijo mandala da fazenda Pardinho Artesanal, de leite cru de vacas Girsey (mistura da zebuína Gir e da europeia Jersey), curado 12 meses. Mostrou as fotos das vacas tão exóticas para os europeus, elas não comem silagem nem nada fermentado e a fazenda preza pela preservação ambiental.
"Saber tudo de leite e queijo"
Os candidatos passaram por todas essas provas:
- um teste de múltipla escolha de 20 questões (30?),
- degustação às cegas (10? para provar e identificar 4 queijos de denominação de origem,
- teste de corte (5? para cortar 4 pedaços de 250 g de queijos diferentes dados pela organização),
- prova oral (5? para apresentar seu queijo preferido),
- tábua de queijos,
- combinação de sabores (com o queijo suíço DOP tête-de-moine),
- uma preparação fria de camembert com outros alimentos,
- uma grande obra final, com o tema "queijo nas estrelas".
- Por fim, escultura artística de queijo.
Resultado bem masculino
Após dois dias de competição, foi o francês Vincent Philippe (Fromagerie Maison Bordier (Ille-et-Vilaine, França) quem conquistou o troféu. A medalha de prata foi para o americano Sam Rollins (Fromagerie Cow Bell Fine Cheese, Portland, EUA), seguido do inglês Nick Bayne (Fromagerie The Fine Cheese Co., Bath, Reino Unido), que ganhou bronze.
Os bravos queijistas
Concorreram ao título:
- Austrália: Stéphanie Stevenson
- Bélgica: David Marrant
- Brasil: Marina Cavechia
- Espanha Mauro -Garcia
- França: Vincent Philippe, Dorian Prat
- Israel: Yedidya Stein
- Itália: Roberto Guermandi
- Japão: Sachiko Chikuma, Miyabi Kobayashi
- Peru: Lee Salas Rosell
- Rússia: Olga Shevchuk
- Ucrânia: Oksana Chernova
- Reino Unido: Nick Bayne
- EUA: Sam Rollins, Courtney Johnson