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Aventuras lácteas entre o Brasil e a França

Só queijo

Só queijo

Produtores de gruyère suíço recebem medalhas e troféus brasileiros

Famoso pela sua casca bronzeada e sabores umami intensos, queijo gruyère quase não tem pontos de venda no Brasil

Semana passada fui convidada pela Interprofissão do Gruyère Suíço DOP, o sindicato que promove este famoso queijo, para entregar em mãos os diplomas para os produtores suíços que ganharam medalhas no 3° Mundial do Queijo do Brasil, que aconteceu em São Paulo em abril. Visitei dois curadores que enviaram queijos: Mifroma e as Caves de la Tzintre.Os suíços sempre foram tímidos em concursos e há somente três anos que decidiram começar a enviar seus queijos para avaliar fora do país. Demorou. « Em 2022, ganhamos todos os concursos internacionais do planeta: o Mundial do Queijo do Brasil, o World Cheese Awards, o concurso norte americano, os produtores ficaram muito felizes, » disse Denis Kaser, responsável de marketing internacional do queijo gruyère.

Francamente, tenho que aceitar que o gruyère ganhou de lavada nosso concurso do Mundial do Queijo em São Paulo: os troféus de 2° e 3° lugar geral, mais 13 super ouro, 11 ouro e 2 pratas, nem levaram bronze. Ui.



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Ou seja, enviaram ao Brasil 35 queijos para concorrer e ganharam 27 medalhas. O queijo deles é tão maravilhoso que, mesmo sendo uma massa firme, ela derrete na boca.

Os gruyères mais jovens, a partir de 5 meses, têm sabores mais lácteos, jovens, refrescantes; de creme de leite e manteiga. Os de mais de oito ou nove meses têm sabores frutados como abacaxi ou amêndoas e depois de um ano evoluem para umami, grelhados, torrados, super complexos. Eles enviaram tanto queijos clássicos, de 6 meses, ao reserva de mais de 11 meses.

Para a entrega das medalhas dos produtores de Mifroma, a Interprofissão reservou um restaurante nas montanhas. Cheguei lá, todos já estavam sentados em seus lugares. Que o mundo do queijo é bem macho eu  já sabia de outros carnavais. Embora sejam as fêmeas que dão o leite, são os homens que estão sempre a brilhar nos eventos queijeiros. Mas nunca vi isso na vida, mais de 50 pessoas, e eu era a única mulher! A sala exalava testosterona de longe. E me esperavam para fazer discurso, meu Deus!

Edouard Pieraerts, chefe dos curadores de Mifroma, um homem enorme, recebe o troféu de 2° lugar Foto: Denis Kaser/Acervo pessoal

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Fiz uma brincadeirinha. Comecei dizendo que eles estão de parabéns e que podem aproveitar bem essas medalhas e os troféus, mas isso não vai se repetir.  Falei que nós, brasileiros, somos democráticos e votamos para que os queijos suíços sejam « hors concours », ou seja, vamos criar uma categoria especial para eles! Vamos ter que colocar isso no regulamento, o que provocou uma risada geral. Assim não vamos mais correr o risco de ter quatro queijos gruyère entre os 15 primeiros lugares.

Queijo gruyère DOP prontinho para venda, da cave Tzintre Foto: Débora Pereira/Profissão Queijeira


Contei também que o queijo deles empatou com o morro azul em primeiro lugar e que, quando vi isso, em vez de pedir aos jurados para votarem de novo, eu chamei Denis e disse: - você vai abrir mão de concorrer a esse primeiro lugar e deixar os brasileiros ganharem. Felizmente ele aceitou na hora. Na frente dos produtores, ele confessou que ficou intimidado pelo meu olhar determinado e não ousou desobedecer. Também morreram de rir.

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No dia seguinte, fui visitar as Caves de la Tzintre,  para entregar o troféu de 3° lugar e outras medalhas. Desta empresa, os queijos que ganharam são feitos nas montanhas no verão e um dos produtores desceu ao vale, vestido tipicamente, para receber a sua. Nessa cave, a curadora chefe é uma mulher, Jocelyne, que já quer ir para o Brasil participar do próximo Mundial do Queijo em 2026.

Jocelyne Cotting, curadora chefe da cave de Tzintre Foto: Débora Pereira/Profissão Queijeira


O que mais me emociona nesses queijos é que quem faz, quem tira o leite todo santo dia é o dono da fazenda e sua família. Quase ninguém tem empregados para essa tarefa cotidiana. Adoram subir para a montanha com as vacas em maio e só  descem em setembro, em cortejo, com elas coroadas de flores. Por isso a Interprofissão é tão importante para garantir a cura do queijo, sua venda e promoção.

Queijo gruyère fresco, quando chega para curar na cave Tzindre Foto: Débora Pereira/Profissão Queijeira

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Por enquanto, uma pena, os gruyères mais curados não chegam ao consumidor brasileiro. Quem dera tivéssemos os super maturados de sabores bem umamis, de mais de 12 meses, das cavernas de Kaltbach, por exemplo. Mas estes nem sentimos nem o cheiro no nosso país tropical, salvo nos concursos para os jurados sortudos.

Quem ficar curioso para visitar e conhecer essa caverna, a oportunidade é em setembro: a associação SerTãoBras vai realizar uma missão técnica queijeira na Suíça, para conhecer esses queijos de cascas bronzeadas, como o gruyère, o tête de moine, o sbrinz, o apenzeller... e outros.

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