A 32ª edição do World Cheese Awards foi realizada na última sexta-feira, 18, em Bérgamo, na Itália. Batendo seu próprio recorde, o concurso deste ano teve 3.804 queijos de 42 países diferentes - edição passada, na Noruega, teve 3.472. Cada mesa tinha entre 35 e 50 queijos para serem degustados em três horas.
O julgamento ocorreu em duas etapas. Na primeira, 260 jurados de 35 países julgaram todos os queijos. Na segunda, 15 pessoas do júri, uma de cada país, avaliaram os queijos indicados como super-ouro - ou seja, o melhor de cada uma das 84 mesas.
Os queijos vencedores
O queijo vencedor foi o azul americano Rogue River Blue. Ele foi defendido pelo brasileiro Bruno Cabral, que o descreveu como uma "explosão de sabores", algo que ele nunca tinha provado antes.
Eu também caí de amores por este queijo - até já falei dele aqui no blog, em uma reportagem sobre as lojas de queijo americanas, em 2017 Quando vi que ele seria o último finalista, não tive dúvidas que ele seria o campeão, pela sua intensidade de sabor e sua cremosidade que derrete na boca. Ele conseguiu apagar todos os outros registros gustativos das papilas dos jurados, saturadas de provar queijos o dia inteiro.
A maior saia justa foi que o queijo Rogue River Blue empatou, na pontuação, com o queijo italiano Nazionale del Parmigiano Reggiano (da Latteria Sociale Santo Stefano), curado 24 meses, totalizando ambos 100 pontos.
O presidente do júri, o apresentador inglês de programas culinários Nigel Barden, primeiro hesitou e propôs uma nova votação entre os dois. Mas, em menos de dez segundos, lembrou que ele era o presidente do concurso e mudou de ideia. Ele deu o 'voto de minerva' e coroou o queijo azul americano como campeão. Silêncio na sala, um clima de tristeza tomou conta dos italianos, que não esperavam o desfecho.
Assim, o Parmigiano ficou em segundo lugar e, em terceiro, com 92 pontos, o queijo de ovelha cru espanhol Torta del Casar D.O.P. Virgen Del Prado, fabricado pela queijaria Queseria Doña Francisca.
John Farrand, diretor-geral da Guild of Fine Food, a organizadora do World Cheese Awards, explicou: "Foi quase impossível este ano escolher o vencedor do concurso e gostaria de felicitar tanto a Rogue Creamery (EUA) como a Latteria Sociale Santo Stefano (Itália) por terem ido tão longe na competição e nos proporcionarem uma das mais dramáticas finais da história do World Cheese. Estes dois queijos maravilhosamente distintos dizem muito acerca da qualidade e da diversidade da produção dos queijos hoje em dia, um ousado e inovador, o outro rico em tradição, tendo ambos, no entanto, alcançado os melhores resultados possíveis junto dos juízes. A Rogue Creamery tem estado na vanguarda da revolução dos queijos artesanais nos EUA há alguns anos, por isso parece bastante apropriado que seja a primeira vencedora americana do nosso troféu de Campeão Mundial de Queijo".
Brasil ganhou o único ouro da América do Sul
No Brasil, o queijeiro Falco Bonfadini, da Galeria do Queijo em São Paulo, foi o responsável por facilitar a inscrição dos queijos brasileiros no concurso. "Tivemos 22 queijos inscritos, 19 conseguiram a documentação para entrar na Itália, mas 12 ficaram na alfândega do Brasil devido a outras dificuldades da legislação, então, só sobraram sete brasileiros na competição", conta Falco.
O único queijo da América do Sul que ganhou uma medalha, de ouro, foi o brasileiro Quark Lac Lelo, do Laticínios São João, que fica em São João do Oeste, extremo oeste de Santa Catarina.
Distribuição solidária de queijos
Num esforço para reduzir o desperdício e oferecer ajuda à comunidade em geral, o World Cheese Awards e o Forme entraram em parceria com o Banco Alimentare, uma empresa italiana que só em 2018 recolheu e redistribuiu mais de 90 mil toneladas de alimentos aos necessitados.
O Banco Alimentare foi convidado a recolher todos os queijos que tinham sido adequadamente conservados durante o concurso. Agora, eles serão entregues a 125 instituições de caridade em Bérgamo.
Os lucros da noite de gala de caridade do Forme, chamada de Buono come il formaggio (Tão bom como o queijo, em tradução livre), realizada no sábado, 19, também serão doados para financiar compras adicionais de queijo.
O vencedor: folhas de vinha e licor de pera
Produzido anualmente com leite de vaca biológico proveniente da bacia chamada Rogue Valley, no sul do Oregon, o queijo Rogue River Blue é envelhecido em caves durante um período de nove a onze meses e embrulhado em folhas de uva Syrah embebidas em licor de pera, o que promove uma maturação quase anaeróbica (sem presença de oxigênio, garantido a umidade).
No seu site, ele é descrito por exibir sabores de pera, especiarias, amora, baunilha, avelã, chocolate e bacon: uma refeição completa!