"Esse concurso é de uma importância muito grande, porque os queijos de casca florida foram regulamentados esse ano e é a primeira oportunidade para nós, seus produtores, de termos um concurso específico. Antes, nos concursos regionais e estaduais promovidos pela Emater, a gente às vezes fazia força de lavar o queijo para enviar uma casca lavada lisa, amarelinha, o que fugia completamente do natural do nosso queijo" explicou Vinícios Ferreira, o vencedor, da Fazenda Faz O Bem, de Piumhi e único que tem a certificação orgânica na Serra da Canastra. Ele faz 20 queijos por dia do leite de 20 vacas Jersey.
O concurso foi coordenado por Leonardo Acurcio, professor do curso de Medicina Veterinária no Centro Universitário de Formiga - Unifor-MG, e realizado pela EMATER. Na competição, 11 queijos que tiveram notas muito próximas umas das outras. "Só quem pôde provar os queijos ao final do concurso pode imaginar a dificuldade, porque realmente os queijos estavam em um padrão muito alto, todos os jurados comentaram", disse Vinícius.
O 2° lugar ficou com a produtora Maria Lucilha de Faria, da fazenda Pingo de Amor e em 3° lugar Larissa, da Barão da Canastra. Todos associados da SerTãoBras. Todos são produtores de queijo minas artesanal de leite cru e fermentos naturais, saber-fazer que está concorrendo ao título de Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco, decisão que deve ser publicada em no dia 4 de dezembro.
Vacas que comem árvores
O sítio Pontal das Araras, da marca Faz O Bem Orgânicos, iniciou a produção de leite em 2019 e começou a transformar em queijo em 2021. Vinícius Soares, agrônomo e gestor comercial, deixou a vida na cidade e o emprego em uma multinacional para assumir os desafios e recompensas da vida no campo com seus pais, irmãos e esposa. Ele optou por pastagens integradas com gramíneas e leguminosas no terreno de 25 hectares, sendo 11 de mata nativa e 3,4 de sistema silcopastoril intensivo, à beira do ribeirão Araras, afluente do rio São Francisco.
"Este sistema é composto pelos extratos arbóreo, arbustivo e pelas pastagens em manejo regenerativo. O arbóreo principal é o Baru, castanheira nativa do cerrado; e frutíferas como cajueiro, abacateiro e mangueira. Essas espécies arbóreas têm a função de prover sombra e bem-estar aos animais. Já o componente arbustivo, composto por espécies como o margaridão ou girassol mexicano, a leucena, a amoreira, a gliricídia e a moringa têm alto percentual de proteína, entre 20 e 30%. Elas auxiliam na reciclagem de nutrientes e adubação verde."
A fazenda tem pastagens com gramíneas como brachiaria, tifton e grama estrela, integradas com leguminosas como crotalárias, feijão guandu, estilosantes e lab-lab. Todas com a finalidade de prover níveis superiores de proteína através da pastagem. Para ele, soja orgânica é inviável "tanto pelo preço quanto pela logística de entrega".
Para Vinícius, "desafiar os modelos de produção e consumo convencionais é nossa missão. Nosso sonho é mostrar que esses modelos dão certo, incentivar outros produtores a adotá-los, começando pela Canastra".
Os queijos da Faz o Bem têm selo arte e são vendidos em São Paulo em lojas de comércio justo, como o no Instituto Chão, Instituto Baru e Raizes do Campo, assim como na rede Malunga em Brasília,