PUBLICIDADE

Blogs

Histórias e experiências sobre o café

Um café para dividir

Um café para dividir

Mulheres que mudaram o café no Brasil - 1

Conheça histórias de mulheres que estão mudando o café no Brasil.

Durante muito tempo as mulheres foram presença invisível na cultura do café, em todos os seus segmentos. Na verdade, a posição da mulher como ser humano foi questionada até meados dos anos 500 DC, quando, num encontro da igreja católica, reconheceu-se, diga-se de passagem, por apertada margem, que "as mulheres tinham alma, assim como os homens". No setor agrícola, que sempre teve como sina o trabalho duro e interrupto, as mulheres se dedicavam às tarefas da casa e da família. No entanto, na maioria das vezes, assim como persiste até os dias de hoje, elas desempenhavam dupla jornada, ao ajudar no trabalho do campo também.

A cafeicultura brasileira vem de viés elitista, indicada pelos títulos nobiliários como o de barões e viscondes. Ainda hoje, como diz a jornalista Josiane Cotrim, "as entidades do café no Brasil têm predominância de homens, brancos e de idade avançada". No entanto, um movimento crescente de mulheres que estão assumindo postos antes reservados ao contingente masculino, tem trazido mudanças promissoras que envolvem desde a integração entre as pessoas, a criação e inclusão de comunidades e organizações, até a revelação de grandes talentos e lideranças.

Torra de Café. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

 

Aproveitando o Dia Internacional da Mulher, gostaria de apresentar histórias de seis mulheres inspiradoras e pioneiras que estão ajudando a mudar o cenário do café no Brasil.

PUBLICIDADE

A paulistana Giuliana Bastos graduou-se pela renomada Faculdade Casper Líbero,fez pós-graduação pela PUC-SP e é considerada a primeira jornalista especializada em café do nosso país. Desde criança, Giuliana teve uma forte relação com o café, pois adorava ir à vendinha próxima à sua casa buscar grãos que eram moídos na hora para, depois,  ajudar sua mãe no preparo da bebida, num ritual frequente. Essa forte lembrança foi decisiva no início de sua vida profissional como repórter de gastronomia da revista Claudia Cozinha. Aqueles tempos eram o momento que o café de alta qualidade ou de especialidade estava ganhando força no mercado brasileiro. Em sua passagem pelo Grupo Folha de São Paulo, trabalhou no Guia da Folha, sendo responsável pela editoria de Gastronomia, e foi uma das jornalistas que colaborou na criação do roteiro dedicado às cafeterias, docerias e lanchonetes. Participou ativamente de eventos de competição de baristas como juíza e é autora do premiado livro pelo Gourmand Cookbook Awards, o Dicionário Gastronômico do Café com suas Receitas, pela Editora Boccato-Gaia, e criadora do movimento Grão Coletivo, de apoio às cafeterias e microtorrefações, iniciado durante a pandemia do Covid-19. Atualmente, Giu, como é também conhecida, além de continuar como agitadora cultural, está se dedicando ao setor de exportação de café, como head de projetos especiais em empresa baseada nos Estados Unidos.

Giuliana Bastos. Foto: Paulo Bau.

 

Carmen Lucia Chaves de Brito é de tradicional família de cafeicultores de Três Pontas, MG.Ucha, como gosta de ser chamada, é profissional de Educação Física e Psicóloga, com Doutorado em Mitologia e Imaginário Social, além de pós-graduada em Marketing. Educação sempre foi o seu chamado mais próximo, mantendo-se ainda hoje como professora universitária e coordenadora de cursos de graduação e pós graduação no Rio de Janeiro e Três Pontas. Em 2007 seu pai faleceu e, como ela própria comenta, para evitar a divisão de nossas fazendas, propus aos meus irmãos iniciarmos um novo projeto juntos, com o objetivo de continuar o legado de nossos pais e avós, mas de forma renovada.Para essa tarefa, que ficou sob sua condução, Ucha fez especialização em Administração Rural pela UFLA, MBA em Gestão em Cafeicultura pela Universidade Illy do Café e diversos outros cursos para se manter atualizada no mercado de café. Nas Fazendas Caxambu e Aracaçu, implantou inovador plano de gestão com foco na produção de cafés especiais, junto de programas socioambientais de alto impacto para atender as novas vertentes e exigências do mercado. Os lotes de café produzidos nas fazendas, por exemplo, descansam nas tulhas ao som de óperas e sinfonias, num tratamento holístico único de sua assinatura. Foi presidente da BSCA - Associação Brasileira de Cafés Especiais por dois mandatos, sendo a primeira mulher a ocupar essa posição, rompendo importante paradigma. Tem participado como conselheira em diversas entidades de pequenos produtores de café, além de atuação ativa na criação da IWCA-Brasil.

Carmen Lucia UCHA Brito. Foto: Divulgação.

PUBLICIDADE

 

Ver mulheres assumindo posição de liderança e inovação na cafeicultura é ainda algo raro nos dias de hoje, portanto, some-se a isso um sistema de cultivo como o Biodinâmico, que compreende conceitos e práticas abrangentes e holísticas do sistema produtivo: a combinação desses dois componentes tão raros só poderia resultar em um caso único. A Família Giori, de origem italiana, fixou-se no centro sul capixaba, em Cachoeiro do Itapemirim, constituindo a Fazenda Giori, a primeira e, até o momento, única unidade produtora de café conilon biodinâmico do mundo. Para ilustração, a certificação orgânica, da qual existem várias propriedades na cafeicultura brasileira, permite que a certificação corresponda a uma parte da fazenda, enquanto a biodinâmica, que se constitui em etapa mais avançada, faz a certificação do chamado organismo de produção, ou seja, o sistema composto pela propriedade de forma integral, não se permitindo certificação parcial. Esse modelo, que recebe o selo Demeter, é rigoroso a ponto de exigir que todo o adubo produzido seja também biodinâmico, levando sempre a um consórcio de atividades, que no caso da Família Giori, o escolhido foi o de criação de carneiros. A adoção de um modelo de produção tão rigoroso quanto respeitoso com a Natureza e seus ritmos foi resultado da filosofia de vida dos pais de Conceição Giori e seus irmãos, que juntos conduzem a fazenda que também produz bananas e, em breve, outros cultivos. Conceição é conceituada advogada criminalista, com pós-graduação pela Universidade de Coimbra, Portugal, mas é juntamente com suas irmãs, irmãos e o marido, que está construindo a história do conilon biodinâmico com a marca Bio Giori.

Conceição Giori. Foto: Divulgação.

 

Conheça outras histórias no Capítulo 2.

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE