O mercado de café cru ou verde - green coffee, matéria-prima para as indústrias torrefadoras -, determina as compras por meio de lotes, que são um conjunto de sacas que podem ter de 45 a 70 quilos da semente preparada, a depender do país produtor.
Esses lotes, desde que produzidos em propriedades certificadas, têm sistemas de rastreabilidade que dão acesso a informações como local de produção, variedade do grão e até o tipo de adubação feita.
No segmento dominado pelas empresas que manejam grandes volumes, no qual indústrias gigantes processam diariamente toneladas de sementes, há como preocupação principal evitar que defeitos graves de bebida estejam presentes.
Como comentei em post anterior, a sigla PVA, que costumo chamar de "trio calafrio", representa os defeitos mais graves. O "P" refere-se às sementes podres de café, que dão origem a uma bebida amarga como medicamento; o "V" às sementes verdes, impróprias para consumo; e o "A", de acético, é resultado da fermentação semelhante à do vinagre.
Para produzir lotes de café de qualidade excepcional, o produtor colhe preferencialmente as frutas maduras e faz a secagem de forma cuidadosa, observando o desenvolvimento dos aromas adocicados. Não é tarefa fácil, pois a polpa adocicada pode vir a fermentar tal qual ocorre com as uvas prensadas e, caso não haja um bom controle, o apodrecimento da semente ou a produção do vinagre é desastre certo.
Quanto menor é a quantidade de sementes a serem secadas, tanto melhor e mais refinado será o controle. No caso dos grandes volumes, evitar que as sementes estraguem já é uma vitória, de forma que o resultado será no máximo muito bom.
Para comparação, um contêiner de café - utilizado para transporte em navios - pode levar 320 sacas de 60 quilos líquidos, o que corresponde a pouco mais de 19 toneladas. Um microlote de café de alta qualidade não passa de 15 sacas, volume limite determinado pela Metodologia SCA, da Associação de Cafés Especiais).
É por essa razão que nos concursos de qualidade de café o volume de cada lote inscrito é pequeno, de duas a 10 sacas de 60 kg líquidos. São verdadeiras joias raras, de sabores e aromas que podem proporcionar nas xícaras incríveis experiências sensoriais. Mesmo fora dessas competições, diversos cafeicultores vêm se dedicando a preparar esses microlotes para que alguma característica especial seja preservada e, assim, chegue aos consumidores de plantão.
Um dos microlotes que ganhou fama e que, na realidade, abriu esse segmento, foi um produzido na Finca Esmeralda, ao pé de um vulcão no Panamá, que num leilão de 2005 recebeu oferta de mais de 13 mil dólares por quase 15 quilos!
Novamente, há uma similaridade entre o café e o vinho, pois quanto melhor é qualidade do vinho, menor o número de garrafas disponíveis.
Prepare-se, pois com o final da colheita brasileira, excelentes cafés estarão nas cafeterias em breve.