Qual a primeira coisa que você pensa quando se fala em Provence? Se é bom de copo - ou melhor, taça, como eu - deve ter falado vinho rosé em voz alta. De fato, a região dessa nossa viagem gastronômica é uma das mais populares quando o assunto é esse tipo de vinho. Talvez, também tenha pensado na lavanda e seus lindos campos que entram em floração em junho, que vez ou outra adentram na gastronomia. Mas, você sabia que por lá tem um tipo de pizza que faz muito sucesso? É a pissaladière.
Quando surgiu a oportunidade de dar um pulo em Bonnieux, uma das comunas francesas da região de Provence-Alpes-Cotê d'Azur, é claro que a primeira coisa que fiz foi dar uma boa aprofundada no que se come por lá, ou seja, a mais autêntica comida provençal.
E, de cara, me deparei com a pissaladiére, cuja massa difere da pizza pela adição de azeite e pelo fato de ser bem fininha. A receita mais tradicional, vale reforçar, leva anchovas, azeitonas pretas e cebola caramelizada, mas, é claro, não nos limitamos à tradição.
O prato, aliás, é uma das atrações do La Bergerie, o restaurante mais descontraído do Capelongue Hotêl Beaumier, um refúgio de 57 quartos com vista para o Mont Ventoux, para a aldeia de Bonnieux no topo da colina e para a zona rural de Luberon. Por lá, também tem o La Bastide, o gastronômico com uma estrela Michelin comandado por Noël Berard.
Mas, voltemos a nossa estrela! No restaurante, onde também é servido o café da manhã aos hóspedes, o forno a lenha é o coração da cozinha e é dali que saem, no almoço ou no jantar, as crocantíssimas e levíssimas pissaladière. Na versão tradicional, que custa 16 euros, as cebolas são confitadas com mel e e tapenade, uma outra tradição da Provence. Feita de azeitonas pretas ou verdes esmagadas com azeite, alcaparra, filetes de anchovas, alho e ervas provençais, a receita foi criada pelo chef Meunier, do restaurante La Maison Dorée, em Marselha, no final do século 19.
Tal como a pizza, a pissaladière é democrática e aceita todo o tipo de cobertura. Mas, aí, muda para o nome original: pizza. Na nossa viagem gastrônomica, também teve uma versão com lascas de trufas e queijo de ovelha de Luberon, a região onde está instalado o hotel.
Outras delícias provençais
É claro que em meio a um cenário tão incrível, a gente não limitou a dieta à pissaladière. Teve muita azeitona, cultivada na região há mais de 2.500 anos, na antiga Massilia, hoje Marselha. Consequentemente, a Provence também é profícua na produção de azeite. No La Bergerie, teve azeitona e azeite à vontade, em ótima sintonia com pão de fermentação natural.
A cena do pão com azeite, aliás, é um hábito bem provençal e a cerimônia se repetiu em outro restaurante que serve comida tradicional na região, o Bacheto, no hotel Le Moulin, em Lourmarin. Por ali, a ideia foi explorar ao máximo o potencial dos aspargos, que ficam em alta entre a primavera e o verão na Provence.
Na nossa viagem gastronômica, é claro, não teria como deixar a lavanda de fora. Tal como outras flores aromáticas, como as rosas, a lavanda também tem seu uso na gastronomia. Em geral, a lavanda cai bem em preparos doces, como o sorvete (ou glace, em francês) de La Maison Ravi, marca especializada em sorvetes e que atende vários restaurantes da região.
Pra fechar a refeição, que tal um licor - de lavanda? A primeira coisa que me perguntaram quando falei que provei foi se tinha gosto de perfume. Adoro as associações sensoriais que nosso cérebro faz. Na minha percepção, não, não tem. Obviamente as notas florais estão presentes com certa intensidade, mas o sabor é suave e agradável. Só mesmo provando, né? Aliás, fica a dica: há um museu dedicado à lavanda na região!
Vinhos rosés
Para acompanhar o banquete à provençal, é claro, não poderiam faltar os vinhos rosés. Afinal, ir à Provence e não tomar algumas taças dessa bebida tão especial é como ir ao Vaticano e não ver o papa. Na região, são três denominações de origem dedicadas ao rosé: Coteaux d'Aix en Provence - onde estávamos, Côtes de Provence e Coteaux Varois.
Aliás, você sabia que 88% dos vinhos produzidos na Provence são rosés? Nem preciso dizer que me senti no paraíso. Mas esse é um papo para uma outra coluna. Deixo uma foto dessas maravilhas como aperitivo.
*Gisele Rech viajou a convite de Capelongue, Bonnieux, a Beaumier Hotel & Spa.