Nada como uma boa taça de champagne para celebrar as novidades. Para dar início a nossa Viagem Gastronômica aqui no Paladar, não há escolha mais pertinente do que mergulhar nas borbulhas do espumante mais famoso do mundo. Neste espaço, a ideia é explorar ingredientes, pratos e bebidas, com altas pitadas de história e curiosidades, com a provocação máxima aos cinco sentidos.
Vez ou outra, como no caso do champagne, a nossa visita envolve uma viagem, de fato. Apesar de estar longe de ser uma especialista em vinhos, a região de Denominação de Origem famosa por seus espumantes sempre esteve na minha lista de desejos. Então, quando surgiu a oportunidade de conhecer Epernay, uma das cidades mais profícuas na produção de champagne, arrumei as malas e fui!
Antes de entrar no roteiro de um dia (ufa! Recomendo um par de dias a mais), é importante explicar brevemente a origem da bebida, que virou símbolo de celebrações. Reza a lenda que o champagne surgiu de um defeito no processo produtivo dos chamados vinhos tranquilos da região, feitos a partir das uvas Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay.
Aliás, anote aí: a colheita dessa preciosa matéria-prima, ou vindima, se preferir a terminologia mais específica, começa no início de setembro e vários programas de enoturismo da região incluem o acompanhamento dessa atividade. Já se imaginou retirando a uva diretamente do vinhedo? Aqui, você pode consultar a programação das principais vinícolas de Champagne.
Em meados do século 17, o abade Dom Pérignon, de olho nas indesejáveis (quem diria!) bolhinhas que surgiam em uma fermentação secundária e faziam, vez ou outra, explodir as garrafas, decidiu criar uma técnica para segurar as rolhas e manter as borbulhas. Surgia, assim, o método champenoise - ou tradicional, já que o autêntico champagne só pode receber esse nome ao ser produzido na região delimitada.
O resto é história!
Para chegar
Para ir até Epernay, onde estão produtores lendários como Moët & Chandon, Mercier, Pol Roger (o favorito de Winston Churchil), Mumm e Ruinart, a casa mais antiga da região, basta pegar um trem a partir da estação Gare de l'Est, em Paris.
A viagem dura um pouco mais de uma hora, mais ou menos o mesmo tempo que se leva da capital francesa até Reims, outra cidade referência da região de Champagne, endereço da icônica Maison Veuve Clicquot. Há quem prefira ir de carro, mas, confesso: tenho uma quedinha por percursos por linhas férreas.
Na Avenida du Champagne, próxima à estação, estão instaladas muitas das maisons que produzem a bebida. Uma breve caminhada e uma esticada de olhos permitem encontrar espaços onde é possível conhecer um pouco mais da história do vinho borbulhante e, é claro, bebericar um champagne aqui e outro acolá. Afinal, ninguém é de ferro...
Para beber mais
A algumas quadras dali, fica a Gosset, fundada em 1584, inicialmente com a produção dos chamados vinhos tranquilos. A maison fica em meio a um belíssimo parque, que, neste ano, recebe o festival Vign'art, importante mostra de arte contemporânea na região. As caves da Gosset, onde repousam milhares de garrafas de champagne, são uma atração à parte.
Mas, não é só de grandes maisons que a região é feita. A EdouardMartin é uma vinícola familiar, cujos vinhedos ficam nos arredores da moradia, como uma extensão do bucólico quintal. No local, aberto para visitas, a gente se sente em casa, graças à hospitalidade de Jean-Baptiste Martin, à frente da casa hoje em dia.
Nas provas, o destaque foi o rosé de 2021. Mas, de quebra, o Monsieur Pierre Martin, pai de Jean-Baptiste, apresentou uma preciosidade da sua adega: o Boizy Rouge, de 1980. Uma viagem etílica pelo tempo!
Para saber mais
Entre uma degustação e outra nas famosas casas que se estendem pela Avenue du Champagne, vale muito a pena explorar. Com uma proposta super lúdica, o Ballon d'Epernay coloca os visitantes a 150 metros de altura em um balão para uma viagem em 360 graus pela região e pelos segredos dda icônica bebida. Sim, o balão fica preso a cabos e a viagem é feito por meio de óculos de realidade aumentada, lá do alto.
Na linha dos museus dedicados ao champagne, um dos endereços é Centro de Interpretação de Pressoria, que propõe uma viagem sensorial com um percurso super interativo. Além de contar a história da bebida, o espaço provoca visão, tato, audição (alô, borbulhas!), olfato e culmina em uma degustação ao final da visita. Um dos pontos altos é a possibilidade de preparar, mesmo que virtualmente, nosso próprio champagne!
Com uma pegada dos museus mais tradicionais, com direito à exposição de artefatos usados pelos primeiros produtores de vinho da região, o Museu do Vinho Champagne e da Arqueologia Regional de Epernay, que, como o próprio nome indica, explora desde a formação do solo calcário da região, decisivo para a características das uvas que fazem o champagne, ao processo de produção da bebida. Outra atração é a referência à história das principais casas - ou, maisons, como dizem os franceses - e ao trabalho de marketing que fez o champagne se tornar uma referência mundial de luxo e elegância.
Para comer mais
Foi no tradicional museu arqueológico que foi servido um emblemático jantar assinados pelos chefs Jérôme Feck e Philippe Mille. Como não poderia deixar de ser, a inspiração dos pratos girou em torno da cultura do champagne. A lagosta defumada que abriu o banquete, por exemplo, foi servida com o frescor de brotos de videira. Já o fricassê de cogumelos giroles recebeu molho de vinho laranja. O que falar da sobremesa, feita com goiaba, framboesa e champagne rosé? Uma ode ao sabor e à criatividade.
Na harmonização, foram servidos os seguintes champagnes: Royale Brut (Joseph Perrier), Blanc de Blancs Grand Cru 2013 (De Saint-Gall), PI8I, um biológico extra brut (Canard-Duchêne), Brut Nature Mono Cru Le Mesnil-sur-Oger (Lombard), Brut sous bois(Billecart-Salmon) e Brut Rosé Marquise de Mun 2006 (De Venoge).
Sabe aquela Viagem Gastronômica que dá vontade de repetir? Definitivamente, Epernay deveria entrar na sua lista de lugares para conhecer antes de morrer. Enquanto planejo voltar, fecho os olhos ao degustar uma tacinha de champagne e me trasporto. Afinal, como sempre gosto de reforçar, a gastronomia tem o poder de nos fazer viajar por meio dos sentidos.
Um brinde e até a próxima!
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