Será que 2024 é um bom ano para começar a empreender no Brasil? A resposta rápida é sim, de acordo com especialistas do Sebrae e da FGV, por conta do otimismo na economia. A resposta completa, porém, é um pouco mais complexa e, como tudo no mundo da economia, “depende”.
Depende porque, de acordo com os mesmos especialistas, olhar para si mesmo, ter noção de quais são as aptidões pessoais e profissionais e entender qual é a atual situação financeira - e até mesmo estrutural - vão ser tópicos tão ou até mais mais importantes do que o contexto externo ou macroeconômico.
“É claro que analisar o mercado é primordial, mas olhar para questões íntimas faz toda a diferença na hora de modelar um negócio”, explica a analista de soluções do Sebrae e especialista em educação digital para pequenos negócios Fernanda Vernieri.
O coordenador do MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da FGV, Antonio André Neto, complementa que o empreendedor precisa ter um olhar regional, especialmente se for um negócio com ponto físico. Tem que saber quais são as demandas do próprio bairro, onde há espaço para novos negócios e outros dados. “Essa é a primeira coisa. Depois, vai ter que ver quais são as aptidões e facilidades que já tem”, completa.
Ele diz que, no quesito Brasil, o momento para começar um negócio é o melhor desde o início da pandemia, já que a economia está dando sinais de recuperação, com juros e inflação em níveis menores que antes. Segundo dados do IBGE, divulgados na primeira quinzena deste ano, o IPCA fechou 2023 a 4,62%, dentro da tolerância máxima estabelecida como meta pelo Banco Central. Para se ter uma ideia de comparação, em 2022, o índice fechou em 5,79%. “Essa recuperação ainda é lenta, mas melhor que 2022 e 2023.”
Para a analista do Sebrae, 2023 já foi um ano considerado promissor e favorável para a abertura de novos negócios, com aumento do PIB e revitalização da atividade empresarial. “E esse cenário deve se estender para 2024. Os indicadores positivos impulsionam não somente os negócios existentes como animam aqueles que desejam empreender”, comenta.
Como começar a empreender em 2024?
A seguir, as principais dicas de Neto, da FGV, e Vernieri, do Sebrae.
- Saiba suas aptidões. O que você já conhece e sabe fazer que pode gerar algum tipo de renda? “Conecte-se com as suas vocações”, comenta Vernieri.
- As pessoas me procuram sobre determinado assunto? Se você já é alguém ligado a determinado tema, que sabe as principais tendências e é uma espécie de referência para amigos e familiares, este talvez possa ser um bom caminho a percorrer no início. “A sua curva de aprendizagem será bem mais rápida, porque você já tem uma bagagem maior”, declara Neto.
- Existe demanda para este negócio? O bairro tem uma carência por este tipo de produto que precisa ser suprida? É preciso avaliar se um novo empreendimento pode conseguir atender a esta necessidade e, consequentemente, se transformar em um sucesso de vendas, diz Neto.
- Eu tenho dinheiro? Talvez este seja um dos principais tópicos. A pandemia ensinou que a falta de capital de giro - um colchão financeiro para conseguir manter as contas da empresa pagas em casos de imprevistos - pode ser fatal e causar a quebra de empreendimentos. E não apenas em imprevistos. No início também, em que a receita ainda não vai ser suficiente para manter o negócio em pé. “As pessoas acham que vão abrir e já vai se formar uma fila enorme para comprar o produto ou serviço. Infelizmente, não é assim que funciona”, diz Neto.
Confira mais notícias de PME
Existe alguma prática de destaque para este ano?
De acordo com Vernieri, a entidade mapeou algumas práticas que têm boas perspectivas de avanço para os próximos anos. São tópicos que podem ser aplicados em estruturas de empreendimentos de diferentes segmentos, não representando apenas um único setor. As principais são:
- Empresas focadas em práticas sustentáveis (ESG)
- Empresas que promovem diversidade e inclusão
- Negócios com propósito social
Por fim, Andre Neto, coordenador do MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da FGV, diz que, se alguém lhe perguntasse: “Quero empreender. Por onde começo?”. Ele diria: marketplace. Por ser mais barato, prático e com uma segurança maior, já que tudo é feito de maneira mais caseira no início.
Alem disso, complementa Neto, o varejo online ainda se mantém aquecido. Durante a pandemia, houve um boom, já que a sociedade estava em lockdown, e, por mais que a demanda tenha arrefecido, agora, o brasileiro está mais propenso - e acostumado - a consumir produtos online.
“Primeiro, você investe pouco. Não precisa ter um ponto físico. Segundo, o estoque, se necessário, pode ser feito em casa. Terceiro, se for produto não perecível, que é o ideal, não vai ter tanto problema com estragos e devoluções.”
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.