O empreendedorismo está presente na vida de Patrick Baptista, de 32 anos, há mais de uma década. De alimentos a vestuário, ele tentou setores diferentes e se encontrou nas academias, com a criação da Sou Mais, na região de Curitiba (PR), em 2013.
Após se converter ao cristianismo, Baptista decidiu criar uma academia voltada para o público cristão, com música gospel e sala de orações. Inaugurada em junho deste ano, a Sou Mais Cristo viralizou no Instagram e deve entrar no franchising em 2025.
Começou a empreender aos 17 anos
Apesar de ter passado a maior parte da vida no Paraná, Baptista nasceu em Xanxerê, em Santa Catarina. Ele começou a trabalhar aos 14 anos, como ajudante de pedreiro. Depois, aos 17 anos, foi para um escritório, em um trabalho administrativo, mas ficou apenas quatro meses e decidiu investir em uma máquina de sorvetes, para vender em frente a uma loja de Curitiba.
O negócio funcionou por um ano, mas o empreendedor quis mudar de setor e vendeu o equipamento para trabalhar com roupas. Apesar de bem-sucedido, o novo empreendimento também não durou muito tempo: com menos de oito meses, Baptista vendeu as peças para abrir uma academia, em 2013.
“Eu tentava acertar e me encontrei nas academias. Pela primeira vez, eu apostei e insisti em um setor. Fiquei quatro anos só com a matriz, mas depois comecei a expandir, e as unidades vieram em sequência, uma atrás da outra, foi natural”, conta.
Inicialmente chamada de Espaço Vip, a rede foi renomeada para Sou Mais e chegou a 12 unidades em Curitiba e na região metropolitana no início de 2024. Na época, a única sócia de Baptista era a irmã dele, Patrícia Baptista, de 33.
Mudança na vida pessoal trouxe ideia de negócio
Misturar religião e negócios não passava pela cabeça de Baptista, que era ateu. Mas há quase dois anos, ele decidiu mudar o estilo de vida e se converter ao cristianismo. Pouco tempo depois, o empreendedor encontrou um ponto comercial e quis abrir mais uma academia.
Ele conta que, devido a sua crença, fez jejum para saber se era o caminho correto. “Deus revelou para a minha esposa o nome Sou Mais Cristo. No início, achei que Ele queria que eu abrisse uma igreja e me tornasse pastor. Na semana seguinte, minha irmã sonhou com uma academia cristã, e eu entendi que essa era a resposta”, afirma.
Cada detalhe da Sou Mais Cristo foi decidido por meio de orações. Baptista diz que se reunia com Patrícia e eles pediam a orientação de Deus. No meio do processo, eles convidaram Dayane de Almeida, de 32, para integrar a sociedade.
“Ela era recepcionista em uma unidade da Sou Mais, mas Deus nos mostrou que ela merecia mais. Achei que não fazia sentido no começo, porque ela não era nem da coordenação, mas foi o que Deus quis. Tudo foi escolhido por Ele: da sócia até a cruz feita no teto e o leão pintado na parede”, diz.
Música gospel e sala de oração são os principais diferenciais
Inaugurada em março deste ano, o vídeo de apresentação do ambiente da Sou Mais Cristo viralizou no Instagram e atingiu a marca de 400 mil visualizações.
Nos comentários, as pessoas questionam se o espaço é uma igreja ou uma academia, elogiam o formato e fazem brincadeiras com termos do mundo fitness.
Baptista explica que a intenção não é ser uma igreja, mas sim um ponto de paz para quem quer cuidar do físico e do espiritual.
Para tanto, além dos equipamentos, há também uma sala de oração. Outro diferencial está na trilha sonora: em vez das tradicionais batidas agitadas, os exercícios são feitos ao som de música gospel.
Ser cristão não é um pré-requisito para os funcionários, mas Baptista afirma que a maior parte das pessoas que se candidatam tem identificação com os princípios do negócio.
Não há regras também em relação a vestimentas, mas ele diz que os alunos costumam usar peças mais largas e menos decotadas.
“Eu frequento a igreja evangélica, mas não limito nada à religião. Deus me encontrou em uma rave, então posso falar com Ele em qualquer lugar, até na academia. É tudo sobre Ele, não sobre uma religião, todos são bem-vindos”, afirma o empresário.
Franquias estão nos planos para 2025
Apesar de ter aberto 13 unidades, Baptista tem atualmente 12 academias, porque vendeu um dos pontos. A rede conta com cerca de 900 alunos, com mensalidades que variam de R$ 127 a R$ 169. O faturamento não foi revelado.
Ele diz que foi procurado por investidores interessados em franquias da Sou Mais e da Sou Mais Cristo, mas afirma que ainda está no processo de formatação do modelo, para garantir que o propósito seja replicado.
“Eu quis franquear, mas Deus disse que não era o momento. Esperei, trabalhei com calma e sinto que a hora certa para essa expansão está próxima. Tem que ter cuidado porque envolve uma missão, tem que estar dentro dos padrões”, declara.
Avaliação dos consumidores
A Sou Mais Cristo recebeu uma nota de 4,8 - de 5 estrelas - no Google, com 73 avaliações até a publicação desta matéria. Os comentários positivos destacam o atendimento dos professores e a estrutura. Já os negativos abordam problemas com cancelamento de matrículas e falhas na climatização do ambiente.
Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, avaliações positivas ou negativas podem ser uma ação a favor ou contra a empresa.
A marca não tem registro no site Reclame Aqui.
Empreender com paixão é bom, mas exige profissionalismo, diz especialista
Empreender com algum produto ou serviço ligado a suas paixões, como Baptista fez, é o primeiro passo para ser bem-sucedido no investimento, afirma a gerente de mercado do Sebrae-RJ, Raquel Abrantes.
“Não adianta abrir um negócio porque o setor vai bem, se você não tem afinidade. É importante ter profissionalismo e não enxergar a empresa como um hobby, mas só vale apostar em algo se você acredita no potencial”, aponta.
Além de investir em algo com paixão, Raquel diz que outros dois pilares são essenciais para o sucesso do empreendimento: rentabilidade e nicho.
Ela explica que, no caso da Sou Mais Cristo, os sócios souberam unir a ascensão do mercado fitness com os interesses do público cristão.
Ao mesmo tempo que representa uma oportunidade, o aumento dos gastos dos brasileiros com academias também indica uma concorrência mais apertada.
A especialista destaca que o empreendedor precisa buscar por uma forma de fidelizar o cliente, seja com ações motivacionais, como lembretes de treinos, ou com parcerias com profissionais relacionados ao setor, como nutricionistas, massagistas, treinadores e psicólogos.
Trabalhar com um nicho definido é fundamental, mas exige pesquisas para entender não só o que o cliente espera do negócio, mas também onde ele está geograficamente.
“Quando pensamos em segmentos que dependem de pontos físicos, como as academias, é ainda mais importante saber em qual região os consumidores estão localizados. Não adianta escolher um bairro legal se as pessoas interessadas estão do outro lado da cidade”, analisa.
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