Quem se aposenta e pretende se manter em atividade no mercado de trabalho ou precisa complementar a renda pode se interessar pelo ramo de franchising. Com um modelo de negócio testado, que oferece suporte e transmite maior segurança para quem quer seguir empreendendo, as franquias se tornam uma boa aposta para os aposentados.
De acordo com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o número de aposentados no Brasil é de mais de 23 milhões. Com o avanço da medicina e a expectativa de vida aumentando, o Brasil se prepara para ter a quinta população mais idosa do mundo em 2030, conforme previsão da Organização Mundial da Saúde (OMS). Com mais saúde e vitalidade, alguns aposentados buscam se manter na ativa para ter uma rotina, enquanto outros veem o valor da aposentadoria como irrisório e sentem necessidade de empreender para poder complementar a renda de casa. Atualmente, o valor mínimo pago pelo INSS é de R$ 1.412,00. Já o máximo é de R$ 7.786,02.
Aposentado decidiu empreender e mudou de ramo
Começar em uma área nova e se desafiar não foi problema para José Claudio da Cruz, de 76 anos. Aposentado desde 1993, Cruz trabalhava como administrador de uma empresa na área de transportes e seguiu trabalhando no ramo mesmo quando atingiu o tempo de contribuição. “Não dá para viver só de aposentadoria, né?” Até que decidiu virar dono do próprio negócio e abriu uma franquia da Casa do Construtor em Vila Velha, no Espírito Santo, em 2009. Como dono do negócio, ele admite passar 24 horas envolvido no trabalho. “Quando falo em estar envolvido, não é só trabalhando, é estar bem para cumprir as tarefas. Eu pedalo, faço academia, preciso me manter em forma.”
Hoje, ele administra quatro lojas da franquia e, apesar de ter passado por um período crítico em 2019 quando ficou no zero a zero, ele acredita que um dos segredos do sucesso é pensar e sugerir melhorias nos processos das empresas, além de ter produtos novos, principalmente aqueles que os clientes têm dificuldade de encontrar em outros lugares. “É uma regra nossa. Se houver três procuras de determinado equipamento, vamos atrás e colocamos à disposição do cliente.”
Franquia trouxe motivação para aposentada
Já Ana Leopoldina Nazário Martins, do Peça Rara Brechó, teve um propósito diferente para investir em uma franquia. Para ela, que trabalhou como gerente de banco até a aposentadoria em 2019, aos 55 anos, faltava algo que a motivasse no dia a dia. “Escolhi uma franquia porque já tem processos validados e tem respaldo. Aposentado não tem tempo de corrigir erros.”
Apesar de ter uma sócia investidora e sentir tranquilidade nos processos, ela confessa que sentiu o peso de sair da zona de conforto e se tornar empresária. “No começo a responsabilidade me gerou angústia e ansiedade. Tem os fornecedores e funcionários que começam a depender de você.” Atualmente, aos 59 anos, três anos de loja e nove funcionários, ela diz que consegue administrar bem o tempo de descanso e lazer como aposentada e conciliar com o trabalho. “Adoro ter um lugar para ir de manhã. É gratificante, eu venho para a loja muito feliz.”
Empreendedorismo pode ajudar de forma financeira, social e cognitiva, diz professor
Maturidade é uma palavra capaz de definir tanto um bom empreendedor quanto uma pessoa aposentada. A experiência adquirida no mercado de trabalho, mesmo que em outro ramo, é uma garantia de que pessoas mais maduras têm mais ferramentas para lidar com os desafios no caminho.
Para Josilmar Cordenonssi, professor de ciências econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), o empreendedorismo pode ser encarado como uma solução para satisfazer necessidades financeiras, sociais e cognitivas dos aposentados. “É uma forma de se manterem ativos e se sentirem úteis. Ajuda muito no bem-estar dessas pessoas.”
Cordenonssi ainda observa que o mercado de trabalho não está pronto para oferecer um emprego assalariado para pessoas mais maduras, e constata que as cobranças e os compromissos de ser funcionário não são mais compatíveis com o novo momento de vida de quem se aposenta. Esse fator, somado à vontade de deixar um respaldo financeiro para filhos e netos, torna as franquias muito atrativas para esse público.
Aposentados têm o “pé no chão” na hora de escolher o ramo em que vão atuar para não se arriscarem financeiramente, afirma o professor. “É aconselhável abrir negócios em setor de baixo risco, como as empresas ligadas a alimentação e pequeno varejo.”
Para Maria Cecília Lora, de 77 anos, franqueada da Home Angels, uma rede de cuidadores de idosos supervisionados, a escolha da atividade requer reflexão e empatia pelo novo negócio. “É algo que chega em um momento especial da sua vida. Você já trilhou um caminho, já fez sua história profissional, talvez em outro segmento, e eu acho que na maturidade isso deve contar muito.”
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