Patricia Lira, 43, começou no mundo da moda em 2013 como sacoleira, vendendo roupas e sapatos de porta em porta em Cumaru, no interior de Pernambuco. Um ano depois, ela abriu a loja Norah. Com o tempo, o negócio se transformou em um comércio de bijuteria e, em 2023, alcançou o faturamento de R$ 5,9 milhões. Hoje a marca tem 12 unidades em Recife e São Paulo, e um plano de expansão com franquias em curso.
Lira investiu cerca de R$ 3 mil na inauguração da primeira loja em Cumaru, a pequena cidade pernambucana de 15 mil habitantes onde ela nasceu. No espaço alugado, revendia roupas e calçados de marcas nacionais famosas, como Morena Rosa e Lança Perfume – com as quais já trabalhava como sacoleira. “As marcas faziam sucesso no interior”, relembra.
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Pouco depois, no mesmo ano, ela se mudou para Recife. Passou a vender roupas para os colegas na empresa de produtos de higiene onde trabalhava como gerente de vendas. Em 2015, abriu uma segunda loja no bairro de Boa Viagem. Nessa época, soube por um amigo que os shoppings estavam oferecendo condições diferenciadas para pequenos lojistas com o intuito de suprir a alta vacância de lojas.
“Até aquele momento, nem pensava nessa possibilidade. Só ia para shopping para passear”, brinca. Pegou R$ 5 mil emprestados com a mãe, e montou uma loja pop-up em um centro comercial da capital em 2016. A empresária usou parte do dinheiro para fazer a pintura e arrumar a mobília do espaço.
“Nunca tinha visto tanto dinheiro na minha vida”, conta, sobre as vendas no shopping center. A marca fez sucesso e Lira logo foi convidada para abrir mais uma unidade em outro shopping do mesmo grupo em 2017.
Até então, ela investia em marcas mais caras e conhecidas para a revenda. Com o objetivo de diversificar o público, foi em 2018 à rua 25 de Março durante uma visita a São Paulo, onde investiu cerca de R$ 10 mil em bijuterias. Pagou o preço parcelado em várias vezes e colocou as peças à venda nas lojas, em adição às roupas.
“Foi quando eu vi que a bijuteria atrai muito mais vendas, são cerca de três a cinco peças por compra, e tem uma margem de lucro mais vantajosa do que as roupas”, constata. Naquele ano, a pernambucana inaugurou no mesmo shopping a primeira Norah Acessórios, voltada apenas para a venda de itens como brincos, colares e pulseiras. O investimento girou em torno de R$ 25 mil.
“Eu queria levar para o shopping uma bijuteria barata, mas atual, moderna. Eu vendia brincos lindos de R$ 10, e as pessoas compravam muito para dar de lembrancinha”, conta. A Norah chegou ao início de 2020 com cinco lojas de roupas e duas de acessórios em Cumaru e Recife.
Hoje a marca conta com 12 unidades, seis delas em shoppings center. Dessas, nove lojas estão em Recife e três no estado de São Paulo: uma em Santo André e duas na capital, nos shoppings Ibirapuera e Center Norte. Há cerca de 42 funcionários no total.
Pandemia foi virada de chave para mudança
Com a pandemia do coronavírus em 2020, Lira viu as suas vendas despencarem. As restrições para o comércio fecharam por meses as portas das sete lojas existentes até aquele momento. “Foi um desespero, eu perdi o chão. Não tinha dinheiro no caixa porque eu reinvestia tudo o que recebia na loja, não tinha nada guardado”, diz.
A Norah já tinha um site, mas Lira não entendia muito sobre vendas online e nunca havia priorizado a plataforma. Ela fez diversos cursos e abriu um canal no WhatsApp. Nesse período, notou que as pessoas não estavam comprando roupas, mas o interesse pelos acessórios se manteve.
Passou a fazer transmissões ao vivo semanais no Instagram da loja, com ofertas especiais. “Eu ia sozinha para a loja fechada e fazia as gravações mostrando as bijuterias”, recorda-se. Um entregador fazia os envios de motocicleta para os clientes de Recife. A conta na rede social tem hoje 23,3 mil seguidores.
Com o fim das restrições impostas pela Covid-19, decidiu que investiria somente na venda de acessórios. “As lojas de roupas não alavancaram, era muito mais difícil de vender. Então decidi que fecharia as lojas de roupas e focaria nas bijuterias”, conta.
Fechou as duas unidades de Cumaru e transformou as outras cinco, de Recife, em lojas de bijuterias. A Norah se tornou oficialmente a Norah Acessórios. Naquele ano, a marca faturou R$ 3,2 milhões.
Depois, foi de R$ 5,05 milhões em 2021 para R$ 5,5 milhões em 2022, até chegar a 2023 com dez lojas próprias e R$ 5,9 milhões de faturamento.
Bijuterias são folheadas a ouro e prata
A Norah Acessórios vende brincos, braceletes, pulseiras e colares folheados a ouro ou prata. “Sei de concorrentes que vendem cinco vezes mais caro porque tratam como semijoias e dão garantia de um ano, mas eu prefiro tratar como bijuterias e não dar garantia para vender mais barato e ganhar em volume de vendas”, explica.
Os produtos mais vendidos são os brincos. Depois, as chokers de aro (colares mais justos no pescoço). Atualmente Lira aposta na tendência do maximalismo: brincos elaborados, pérolas, braceletes. Mas a marca também tem produtos minimalistas, além de cintos e bolsas.
Os produtos têm média de preço de R$ 35. Há uma pequena quantidade de acessórios mais caros, que chegam a R$ 300, no banho de verniz italiano. O ticket médio das vendas varia de R$ 100 a R$ 180, a depender da localização da loja.
Cerca de 88% das vendas são realizadas presencialmente. Por volta de 10%, pelo WhatsApp da marca e apenas 2% pelo site.
Os produtos não têm fabricação própria, mas algumas coleções são exclusivamente feitas para a Norah Acessórios, por meio de fabricantes parceiros. A marca também conta com fornecedores nacionais e internacionais. Uma parte dos acessórios é artesanal, de São Paulo.
“No início era difícil acertar na curadoria dos produtos, fui entendendo com os atendimentos. Hoje sou muito antenada, busco o que grandes marcas internacionais vão lançar, acompanho para saber quais serão as tendências da moda para coleções futuras, e já lanço aqui. Sou muito parceira dos fornecedores, então consigo fazer lançamentos muito rápidos”, afirma.
As lojas têm novidades semanais em suas coleções de bijuterias. Todas são embaladas em sacolas personalizadas com o nome da marca. “Isso contribui para que as pessoas comprem os produtos para presentear”, analisa. O prazo de troca é de 12 dias.
Marca aposta em franquias para expandir lojas pelo Brasil
As 12 lojas de operação própria fizeram Patricia Lira notar a necessidade de franquear a Norah Acessórios se quisesse expandir a marca. “Percebi que não dá para abraçar o mundo”, diz.
A pernambucana contratou uma empresa para a formatação do franchising, finalizada em janeiro deste ano. Desde março, as franquias estão em processo de negociação com investidores interessados.
“Queremos chegar a outros lugares do Brasil. As primeiras franquias que serão lançadas, inclusive, devem ser fora de Recife e de São Paulo”, adianta Lira.
A marca tem dois centros de distribuição nas duas cidades, que irão fornecer os acessórios aos franqueados. A de Recife atenderá aos clientes do Nordeste; a de São Paulo, aos do resto do País.
A empresária prevê um faturamento de R$ 8 milhões em 2024, considerando as lojas próprias. A última, no Center Norte, foi inaugurada em março. Até o fim do ano, ela pretende abrir mais duas unidades.
São três padrões de negócios para as franquias:
- Quiosques
Indicados para corredores de shoppings de grande movimento. Investem-se R$ 96 mil nesse modelo, já com a taxa de franquia de R$ 20 mil inclusa, estoque inicial, instalações, projeto arquitetônico, verba para marketing de inauguração e uniformes das equipes.
- Lojas de rua e galerias
Também exigem investimento de cerca de R$ 96 mil, já com a taxa de franquia de R$ 20 mil inclusa, estoque inicial, instalações, projeto arquitetônico, verba para marketing de inauguração e uniformes das equipes.
- Lojas de shopping
Em pontos maiores, essas lojas exigem investimento médio de R$ 197 mil, com taxa de franquia de R$ 30 mil inclusa, estoque inicial, instalações, projeto arquitetônico, verba para marketing de inauguração e uniformes das equipes.
Veja os valores completos para as franquias:
Os valores são estimativas divulgadas pela própria marca.
- Investimento inicial: de R$ 96 mil (quiosque e loja de rua) a R$ 197 mil (shopping), incluindo a taxa de franquia e estoque inicial;
- Taxa de franquia: de R$ 20 mil (quiosque e loja de rua) a R$ 30 mil (shopping);
- Capital de giro: R$ 50 mil;
- Royalties: 5% sobre vendas;
- Taxa de publicidade: 1% do faturamento bruto;
- Área mínima: de 9 metros quadrados (quiosque) a 30 metros quadrados (loja);
- Número de funcionários: de dois a cinco;
- Faturamento médio mensal: R$ 80 mil (quiosque) e R$ 100 mil (loja)
- Lucro líquido: 21,5%;
- Prazo de retorno: até 12 meses;
- Prazo de contrato: 5 anos.
As duas lojas da Norah Acessórios registradas no Google, de Recife, somam 43 avaliações com nota média correspondente a 3,8 de um total de 5. Seis pessoas classificaram as unidades com a pior nota disponível (uma estrela). A maioria das críticas se refere ao preço dos produtos.
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