Vivenciar um problema causado pela desigualdade socioeconômica e, a partir dessa experiência, desenvolver soluções por meio da criação de um negócio de impacto tem sido um caminho trilhado por muitos empreendedores – especialmente os que emergem de condições sociais adversas. Esse é o caso de Emily Brown que conhece de perto a importância de ter alimentos nutritivos e adequados para garantir melhores condições de saúde.
Ao se tornar mãe de duas crianças com sérias alergias alimentares, Emily recorreu a um programa federal de assistência alimentar, mas encontrou poucos produtos adequados disponíveis à condição das filhas; o grupo de apoio para alérgicos mais próximo de sua residência ficava a uma hora de distância. Ela era quase sempre a única mãe negra e pobre naquele espaço, como contou em uma entrevista ao The Washington Post.
“De muitas maneiras, a alergia alimentar é uma doença invisível. O fardo da doença, as atividades e a energia necessárias para evitar alérgenos são, em sua maioria, invisíveis para aqueles que não são afetados. Pacientes negros e de outras minorias geralmente não têm voz e visibilidade no sistema de saúde. E, adicione ao problema, o fardo de uma condição invisível e você estará em uma posição realmente vulnerável”, conta, acrescentando que crianças negras são 7% mais propensas a ter alergias alimentares do que as brancas. Antes de empreender um negócio, essa experiência a impulsionou a criar, em 2012, a Food Equality Initiative, uma organização comprometida em acabar com a fome na comunidade de alergia alimentar e doença celíaca.
Desde então, Emily é uma importante voz na defesa do pensamento de que comida é remédio. Em 2021, fundou a Attane Health (antigo Free from Market), empresa com sede no Missouri (Estados Unidos) focada em oferecer acesso inclusivo a alimentos nutritivos e personalizados, além de recursos educacionais para pessoas que vivem com condições crônicas de saúde. Na prática, o negócio de impacto – que contou com investimentos da ordem de US$ 4 milhões da Acumen América, Bluestein Ventures, Builders Vision, KCRise e Beta Boom – apoia os planos de saúde e provedores a lidar com a insegurança alimentar e o impacto da falta de alimentos adequados na saúde dos beneficiários do Medicaid, programa social de assistência à saúde destinado a pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica.
A plataforma de saúde digital foi projetada para fornecer cuidados personalizados e específicos de nutrição para populações atendidas pelo Medicaid. A empresa oferece prescrições de alimentos ricos em nutrientes, coaching nutricional de telessaúde e insights de dados acionáveis para ajudar a melhorar os resultados de saúde. Ao focar em condições crônicas de saúde, a Attane Health está abordando a insegurança alimentar e as disparidades de saúde por meio de soluções inovadoras e escaláveis. De acordo com a fundadora, a empresa visa expandir o alcance e melhorar as experiências dos usuários. “O acesso a alimentos ricos em nutrientes e cuidados nutricionais é crítico para a construção da saúde e do bem-estar “, defende.
De acordo com a Acumen, milhões de americanos lutam contra a insegurança alimentar e o acesso limitado a alimentos saudáveis, aumentando os custos de saúde em US$ 1.834 por adulto. Esses indivíduos também enfrentam um risco maior de condições crônicas, levando a cuidados agudos caros. Nesse contexto, a solução inovadora criada por Emily Brown reúne todos os ingredientes de um negócio com alto impacto social positivo.
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