A pandemia exerceu um impacto transformador em diversos mercados. Do ponto de vista do empreendedorismo de impacto social, a análise da pressão exercida pela crise sanitária em diversos segmentos reforça a percepção de que alguns setores se tornaram especialmente promissores e estratégicos no suporte à população em situação de vulnerabilidade social e econômica.
Um dos exemplos desta potencialização está associado à Economia do Cuidado e à Prateada, especialmente se pensarmos em iniciativas que olham para a população com mais de 60 anos. De acordo com o levantamento da World Population Ageing, em 2050, o Brasil será a sexta nação com o maior número de cidadãos maduros; o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que 30% da população será 60+.
De acordo com o estudo Futuro da Inclusão Produtiva no Brasil, de 2007 a 2017 houve um aumento de 547% no número de cuidadores no Brasil - pessoas que compõem um mercado com inúmeros desafios como a informalidade, a desigualdade de gênero (com predominância de mulheres que não são remuneradas) e a fragilidade dos vínculos de trabalho.
Entretanto, diante de uma demanda crescente para que diferentes setores ofereçam produtos e serviços voltados a atender às necessidades dos idosos, há um mercado que demanda mais e mais soluções inovadoras para os setores público e privado, além de organizações da sociedade civil. E, neste cenário de alta demanda, as parcerias são peças-chave.
Um dos exemplos recentes é a parceria do Instituto do Coração (InCor) com a plataforma de transporte EuVô - negócio de impacto social que oferece ao público maduro e a pessoas com dificuldade de mobilidade serviços de transporte e acompanhamento para as atividades cotidianas. Na parceria com o InCor, a empresa mantém um atendente dentro do hospital para oferecer os serviços aos pacientes, que podem agendar a utilização diretamente ou via aplicativo.
Disponível desde fevereiro deste ano, o modelo se baseia na humanização do atendimento e no acolhimento do paciente. Em conversa com Victoria Barboza, uma das fundadoras da startup social, ela contou que os primeiros resultados têm sido muito bons tanto para os prateados quanto para as famílias. Mais do que um serviço especializado de transporte, estamos falando de mobilidade e possibilidade de manter autonomia - do momento em que a pessoa sai de casa e durante toda a jornada dos cuidados com a saúde.
Especialistas em longevidade defendem que é essencial que a população madura, que já conta com o bônus demográfico, conte com anos de boa saúde - o que envolve o cuidado preventivo. Os fatores de risco, ambientais e comportamentais precisam ser reduzidos ao mesmo tempo que componentes de proteção social sejam erguidos e disponibilizados a idosos de todas as classes sociais. A Economia do Cuidado e a Prateada são estratégicas para o futuro que precisamos construir.
* Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.
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