Um levantamento conduzido pela fintech QueroQuitar aponta que, mesmo com a pandemia sob controle, mais de 72% dos brasileiros ainda não conseguiram recuperar a renda mensal que tinham antes da crise sanitária. Entre as dívidas mais recorrentes, estão as com cartão de crédito (63,8%), empréstimos bancários (28,1%) e cartão de lojas (22,7%).
Especializada em negociação e pagamentos de dívidas, o negócio de impacto social realizou uma pesquisa quantitativa com 850 pessoas que negociaram as dívidas no período da pandemia. O mapeamento mostrou que 55,8% dos respondentes perderam parte da renda no decorrer da crise e 24,8% sofreram perda total de renda. Para 74% dos entrevistados, o auxílio emergencial serviu para negociar ou quitar as dívidas.
Em conversa com Artur Zular, médico comportamental e cofundador da QueroQuitar, ele apontou que a pesquisa mostrou, claramente, o quanto estar endividado mexe com a saúde mental e física das pessoas. Foram muitos os relatos de dificuldade para dormir, ansiedade e depressão, sobretudo, a sensação de impotência em reverter esse cenário.
A pesquisa mostrou que 81,8% dos entrevistados se sentiram melhor, ou seja, reduziram os sintomas físicos, após quitarem suas dívidas, saindo da condição de devedores para consumidores. Ao perguntarem aos entrevistados o que fariam com um recurso extra, 91% responderam que quitariam uma dívida.
Para apoiar os brasileiros nessa tarefa de renegociar as dívidas, a QueroQuitar foi fundada em 2015 por Marc Lahoud, Artur Zular e Alencastro Silva. Hoje, o marketplace - que conta com mais de 57 milhões de pessoas negociando suas dívidas na plataforma e 40 parceiros credores - visa a levar o devedor ao status de consumidor sustentável.
A atuação se dá em quatro pilares: educação financeira, geração de renda extra, ferramentas e apoio, e produção de conteúdo voltado a disseminar dicas de uma vida financeira mais saudável. A proposta é empoderar o devedor para que se torne agente da solução. Na plataforma, gratuitamente, brasileiros e brasileiras podem negociar a dívida com calma, avaliando as melhores ofertas em um processo totalmente digital e no melhor momento do dia ou da noite.
No Brasil, a população mais vulnerável vive em uma situação de escassez que causa obstáculos à tomada de decisões financeiras adequadas, e a constante preocupação em resolver emergências econômicas torna mais difícil planejar decisões de longo prazo.
Estudos de psicologia econômica têm medido o impacto da escassez na capacidade de as famílias de menor renda fazerem melhores escolhas e mostrado o desafio de construir uma arquitetura de decisão que direcione o usuário de serviços financeiros para atitudes que resultem em bem-estar econômico. Nesse contexto, a atuação de negócios de impacto social é fundamental para empoderar brasileiros e brasileiras na gestão de seus recursos financeiros.
* Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil
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