A edição 2020 da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil apontou que os brasileiros com mais de cinco anos que não leram nenhum livro no período de três meses - que antecederam o levantamento - representavam 48% da população do País. Na prática, quase 100 milhões de pessoas.
Esse contingente mostra a urgência de desenvolvermos, como nação, mecanismos para fomentar o hábito da leitura, tornando o livro um item de consumo acessível e um produto cultural mais próximo dos potenciais leitores. Isso dialoga bastante com a escola e, também, com os negócios de impacto social focados em educação.
Um dos exemplos é a Estante Mágica, startup fundada por Pedro Concy e Robson Melo. A empresa de impacto acredita na educação como chave para transformar o mundo e oferece novas formas de estimular a criatividade e a autonomia das crianças, tornando-as protagonistas de suas histórias. Em parceria com escolas públicas e privadas, os alunos escrevem e ilustram o próprio livro, com direito a evento de autógrafos no final do projeto.
Já foram impactados mais de 1,5 milhão de alunos em países como Brasil, Quênia, Portugal, Espanha, México, Argentina e Colômbia. O negócio oferece ferramentas para auxiliar escolas e professores no incentivo à leitura e à escrita. Como visão de futuro, o objetivo dos empreendedores é alcançar 1 bilhão de crianças até 2030.
A semente da Estante Mágica está na infância de Robson Melo, especificamente na lembrança do avô Pedro Leôncio entristecido pela morte da "dona Rachel" - uma cliente da marcenaria para a qual ele havia feito o conserto de uma estante.
O artesão não imaginava que a sua contratante era uma escritora famosa: Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Ao saber da notoriedade dela, Pedro deu ao neto o livro Dôra, Doralina, que havia ganhado da própria autora, com direito a uma dedicatória. O neto leu para o avô a obra; até então, o analfabetismo não permitiu ao marceneiro acessar as palavras contidas no livro.
Hoje, os empreendedores da Estante Mágica enxergam no negócio um instrumento para formar novos autores e leitores brasileiros.
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