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Opinião | Moedas sociais estão no centro de um movimento global para reimaginar o dinheiro

“Refazendo dinheiro para um futuro sustentável”, palestra de Ester Barinaga, docente da Lund University School of Economics and Management (Suécia), trouxe um panorama das moedas sociais no mundo

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Por Maure Pessanha

Instrumentos importantes de transformação e desenvolvimento local, as moedas sociais reforçam laços e identidades dos territórios, assegurando que benefícios econômicos pagos, inclusive pelo poder público, possam circular dentro de bairros e cidades. Esse panorama fortalece os pequenos negócios e incentiva o consumo local. Desde 2009 pesquiso e escrevo sobre a temática – especialmente pela interseccionalidade do assunto com negócios de impacto – e tenho visto que soluções, incluindo os bancos comunitários, têm avançado globalmente em direção ao combate às desigualdades. Na reportagem Moedas sociais impulsionam empreendedorismo em bairros periféricos, de 2021, pude contribuir com a visão de que tais mecanismos funcionam, também, como soluções para o empreendedor de base, promovendo a cidadania empresarial – uma tecnologia social que incorpora um processo relevante de educação financeira.

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Na semana passada, a Fundação Getulio Vargas debateu o tema no seminário “Moedas Sociais, Tecnologia e Dados para o Desenvolvimento Sustentável”, realizado com o intuito de abrir um espaço de discussão e troca de experiências sobre como as moedas sociais, a tecnologia digital e a abertura à participação e ciência de dados podem ajudar na promoção de um desenvolvimento local sustentável e inclusivo. No evento, um arco temático essencial: as finanças solidárias.

Esse tema dialoga muito com o momento mundial que vivemos, ou seja, as sociedades têm buscado novas formas para superar os múltiplos desafios das cidades, e, nesse contexto, as moedas sociais figuram como uma solução promissora. A tecnologia e o uso dos dados gerados pelo fluxo do dinheiro, na economia e no território, abrem uma via promissora para imaginar e implantar políticas públicas inovadoras, desenhadas para regenerar comunidades e combater os efeitos das mudanças climáticas. A Rede Brasileira de Bancos Comunitários e Municipais aponta que o movimento em torno do tema teve origem há 26 anos, na periferia de Fortaleza, com a experiência do Banco Palmas; hoje, a organização congrega 103 iniciativas.

Ester Barinaga, docente e pesquisadora da Lund University School of Economics and Management (Suécia). Foto: Lund University School/Divulgação

O evento contou, também, com a participação remota de Ester Barinaga, docente da Lund University School of Economics and Management (Suécia). Coordenadora e professora dos cursos de mestrado “Re-imagining Capitalism” e “Re-imagining Money for a Sustainable Future” – além do curso de doutorado “Digital monies for a Sustainable Future” –, ela integra um grupo de pesquisadores e profissionais da Universidade de Gotemburgo e do Quênia (JOOUST University e Grassroots Economics Foundation), que é responsável pela criação de três moedas sociais em Kisumu, no Quênia. A iniciativa tem por objetivo entender o impacto econômico, social e político dessas inovações monetárias produzidas em comunidades.

Em sua apresentação “Refazendo dinheiro para um futuro sustentável”, Ester defendeu que o dinheiro, da forma como entendemos hoje, está na raiz de problemas como crise climática e aumento das desigualdades no mundo. Nesse panorama, ele precisa ser reimaginado para encontrarmos uma saída. Os empréstimos bancários convencionais, por exemplo, são concedidos a pessoas com capacidade de crédito, ou seja, o dinheiro novo é destinado àqueles que já possuem alguma riqueza. Na prática, o mecanismo que movimenta 97% do dinheiro criado no mundo é o mesmo que fortalece a desigualdade econômica e o não respeito aos limites da natureza.

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“Para termos alguma oportunidade de construir um futuro sustentável e inclusivo, precisamos repensar e reorganizar o dinheiro; e isso é urgente. Os atores globais são conectados pelo dinheiro, mas as periferias são desconectadas. Por sorte, temos um movimento de novas moedas locais que estão contribuindo com ideias inovadoras para que façamos essa mudança tão necessária”, afirma. A pesquisadora revela que essas moedas estão nos ensinando sobre a possibilidade de desenhar infraestruturas nos níveis locais para conectar necessidades das populações mais vulneráveis aos recursos. “Se dinheiro é a base da nossa economia e a raiz dos nossos problemas, como redesenhar essa infraestrutura para que ele seja mais inclusivo? As moedas sociais estão nos ensinando que não há uma única maneira. Nas minhas investigações pelo mundo, consegui identificar três formas bastante eficazes”, reflete.

A primeira segue uma lógica comunitária; são as moedas sociais desenhadas pela base; pelos cidadãos. Há exemplos na Inglaterra, no Japão, na Itália, nos Estados Unidos, na Argentina, Espanha e no Brasil. O segundo são as moedas estatais, criadas pelo poder público, cujo modelo emblemático e de alcance é a Mumbuca (município de Maricá, Rio de Janeiro). Elas aparecem, também, na Bélgica e Espanha, tendo como objetivo reforçar a economia municipal e as políticas públicas. Como terceira forma, as criptomoedas, que possuem uma lógica monetária distinta das comunitárias e das estatais por serem, essencialmente, especulativas. É importante citar que cada uma delas segue o princípio ou objetivo de implantar uma espécie de renda universal.

Espero retornar ao assunto, em breve, para falar um pouco mais sobre os exemplos brasileiros e dados sobre transações dessas moedas digitais no país. Mas, para concluir, indico o download gratuito do livro “Remaking Money for a Sustainable Future”, no qual Ester aprofunda essa movimentação global em torno das moedas digitais e as formas como o mundo está reimaginando o dinheiro a partir de uma lógica de combate à desigualdade.

Opinião por Maure Pessanha

Coempreendedora e presidente do Conselho da Artemisia, organização pioneira no Brasil no fomento e na disseminação de negócios de impacto social e ambiental.

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