No Brasil, os manguezais têm potencial para gerar R$ 48,9 bilhões em créditos de carbono, de acordo com cálculo realizado pelo estudo Oceanos sem Mistério: Carbono Azul dos Manguezais, resultado da parceria entre Projeto Cazul, Fundação Grupo O Boticário de Proteção à Natureza e ONG Guardiões do Mar. No mapeamento, foram identificados 1,3 milhão de hectares de manguezais na costa brasileira – algo que equivale a nove cidades de São Paulo – com capacidade de armazenamento de 1,9 bilhão de dióxido de carbono. Este estudo evidencia o quão promissor é esse ecossistema costeiro-marinho, vital para a saúde do planeta e de suas comunidades. E, ainda, o quanto pode ser instrumento de Inclusão Produtiva de populações que vivem no entorno.
Um negócio de impacto socioambiental, criado em 2019, já vivencia esse enorme potencial. O Nosso Mangue, fundado por Mayris Nascimento, atua na preservação e regeneração dos manguezais. Na prática, comercializam três soluções: projetos de recuperação, preservação e conservação dos manguezais; conduzem uma rota de turismo regenerativo – que oferece uma experiência de contato com a comunidade e a natureza dos manguezais –; e compensação da pegada de carbono.
Para o desenvolvimento da solução de compensação de pegadas de carbono, o negócio tem testado metodologias de recuperação e organizado uma rodada de investimentos para viabilizar a geração. Em outra ponta, segundo Mayris, o turismo regenerativo tem crescido; e consiste em experiências sustentáveis nas áreas de manguezais, voltadas ao incentivo de práticas de conservação e educação ambiental.
“Trabalhamos diretamente com comunidades locais para promover uma interação responsável entre os visitantes e o ecossistema, visando à preservação do meio ambiente e à melhoria da qualidade”, afirma a empreendedora, acrescentando que, desde a fundação, já foram impactados, positivamente, mais de mil visitantes. Em 2024 houve um crescimento: uma média de 500 a 600 visitantes por ano passam a participar da Rota da Regeneração do Mangue – atividade que inclui o plantio de mudas e o acompanhamento do impacto da regeneração.
Na visão da empreendedora, houve um aumento no número de pessoas interessadas em turismo responsável. De 2019 a 2022, o Nosso Mangue atendeu, aproximadamente, 200 visitantes; neste ano, esse número aumentou para 400. Para entender melhor o perfil desse turista, a equipe conduziu um levantamento que mostrou uma predominância feminina: 69,1% dos clientes são mulheres, 70% têm entre 25 e 45 anos, e 60% possuem ensino superior completo. No geral, a maioria dos visitantes vêm de Estados da região Nordeste (45%) e Sudeste (35%) do Brasil.
Sobre os desafios enfrentados, a empreendedora aponta a falta de conscientização ambiental entre alguns visitantes e a necessidade de infraestrutura sustentável nas áreas de mangue. “Para superá-los, investimos em campanhas de educação ambiental, parcerias com governo, empresas e organizações não governamentais locais, além de promover melhorias na logística das rotas turísticas, sempre visando à sustentabilidade”, afirma. Como forma de ancorar o crescimento do negócio, Mayris firmou uma parceria estratégica com o Maceió Invest e o Sistema FIEA. “A ideia é contribuir para fortalecer a mitigação das mudanças climáticas e a descarbonização das indústrias. Vamos, inclusive, compor a comissão da Confederação Nacional da Indústria (CNI) na COP16, e apresentaremos nossos projetos para um público internacional”, afirma.
Na visão de futuro, a proposta é expandir, em 2025, as rotas de turismo regenerativo para mais dois municípios de Alagoas, além de aumentar o alcance internacional via novas parcerias e certificações ambientais. “Mas, o nosso foco permanece: garantir que o turismo regenerativo não seja apenas uma atividade recreativa, mas também uma ação concreta de preservação e restauração do meio ambiente, promovendo impacto positivo tanto nas comunidades quanto nos ecossistemas”, conta.
Um ponto fundamental a destacar é que o Nosso Mangue valoriza e empodera as comunidades tradicionais – especialmente pescadores e marisqueiras –, promovendo a participação ativa dessas populações nas operações do negócio ao adotar estratégias que reforçam o protagonismo das pessoas dentro dos desafios de preservar as tradições enquanto criam novas oportunidades econômicas.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.