Uma casa abandonada no meio dos Jardins, em São Paulo, foi o ponto escolhido para ser a sede do Café Zinn, inaugurado em 2021. A ideia era ter um lugar aconchegante, onde as pessoas pudessem tomar um café e fazer uma pausa na rotina. Para montar o cardápio, a fundadora Daniela Coelho, de 28 anos, optou por receitas que marcaram diferentes etapas da sua vida.
Mas o grande diferencial é o bolo de chocolate na tigela, com calda de brigadeiro servida na xícara, para que o cliente tenha liberdade de comer como preferir. O prato viralizou no TikTok, conquistou uma média de 20 mil fatias vendidas por mês e ajudou na expansão da rede de cafeterias, que conta com quatro unidades, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Ela sentia falta de um espaço calmo no caos da cidade
O café sempre esteve presente no dia a dia de Daniela. Ela cresceu na região sul de Minas Gerais, onde sua família tem uma plantação do grão, mas decidiu vir sozinha para São Paulo aos 17 anos, para decidir o que faria da vida.
Por quatro anos, ela trabalhou em uma corretora de valores no mercado financeiro. Com o ritmo acelerado da capital paulista, ela sentia falta de um espaço onde pudesse reunir amigos, conversar com calma e se distrair.
A ideia de abrir o próprio negócio veio durante uma viagem a Nova York. Daniela conheceu lojas de roupas e acessórios focadas na experiência do cliente: não bastava entregar um bom produto, a forma como a venda era feita também fazia parte do serviço. Do outro lado da história, estava o pai dela, que sempre sonhou em ter a própria marca de café.
“Voltei da viagem e falei: vamos abrir uma cafeteria. Era uma forma de unir a minha vontade de ter um espaço para relaxar no dia a dia, o desejo do meu pai e a produção de café da minha família”, afirma. Ela é a responsável pela gestão do Café Zinn, mas tem os pais e a irmã como sócios.
Obras no Café Zinn duraram quase dois anos
A construção da primeira unidade da cafeteria, localizada na Rua Haddock Lobo, na zona oeste de São Paulo, levou quase dois anos para ser finalizada. Daniela conta que ela não queria um ponto comercial, mas sim uma casa que pudesse ser adaptada.
O imóvel escolhido estava abandonado há 20 anos e exigiu a reforma completa dos sistemas elétricos e hidráulicos. “A intenção era parecer um refúgio. Quem vê de fora, pensa que é um espaço pequeno e precisa entrar para explorar”, diz.
Já a montagem do cardápio foi baseada em fases da vida dela. O pão de queijo - que tem uma versão tradicional e outra com tapioca - é inspirado nas receitas da mãe de Daniela, que faziam sucesso entre as amigas de infância da empreendedora.
Os bolos eram parte da sua rotina na adolescência e o mingau era o seu café da manhã nos primeiros anos em São Paulo. Até as louças utilizadas foram planejadas para transmitir a sensação de conforto: feitos artesanalmente por ceramistas mineiras, cada prato tem uma palavra motivacional.
“Um dos pilares do negócio é o afeto. Não faz sentido ter uma comida ou uma mensagem que não desperte alguma sensação positiva nas pessoas. O acolhimento está presente em todas as etapas da nossa comunicação”, explica.
O Café Zinn foi inaugurado em fevereiro de 2021 e, menos de duas semanas depois, precisou fechar as portas devido ao agravamento da pandemia e restrições impostas ao comércio. A solução foi o delivery, adaptando uma janela para permitir retiradas.
“Eu brinco que o empreendedor precisa ser resiliente: um dia a gente fica desacreditado, mas no outro tem que recarregar e acreditar de novo”, afirma.
O bolo de chocolate com calda de brigadeiro: febre no TikTok
O cardápio do Café Zinn tem itens tradicionais de café da manhã, brunch e bebidas, mas o prato mais famoso é o zinn delírio, um bolo de chocolate na tigela, acompanhado de calda de brigadeiro servida na xícara. Cada fatia, com 130 gramas de calda, custa R$ 25, e o bolo inteiro, com 700 gramas de brigadeiro, é vendido por R$ 139.
Ele é um sucesso no TikTok: dezenas de vídeos com avaliações, debates sobre a melhor forma de comer e o momento onde a calda de brigadeiro é derramada sobre a massa já acumulam mais de cem mil visualizações cada.
Daniela conta que sempre fez bolos para as competições da escola e gostava de testar novas receitas. Ela criou uma combinação de ingredientes e quantidades para deixar a massa fofinha, mas a chefe de cozinha contratada para o Café Zinn acreditou que a ideia não daria certo.
“Ela disse que estava errado, porque era muito líquido, mas eu falei para confiar que esse era o segredo. No final, funcionou. Eu tenho vontade de inserir outros bolos no cardápio, mas o zinn delírio é tão protagonista que não sei se tem espaço”, comenta.
A mineira afirma que o Café Zinn vende mais de 20 mil fatias de bolo de chocolate por mês, sem contar os bolos inteiros.
A ideia de colocar a calda de brigadeiro na xícara para o cliente derramar na sobremesa foi da equipe de marketing. No primeiro mês, o prato era entregue finalizado, mas eles perceberam que mostrar essa etapa e deixar que o consumidor participasse - e registrasse - ajudaria a estimular o desejo do público.
“A comunicação nas redes sociais é um pilar do Café Zinn, mas a nossa estratégia não era viralizar. O meu medo era o produto saturar com o excesso de vídeos, mas o engajamento aumenta e as vendas crescem a cada novo conteúdo”, explica.
Visibilidade nas redes sociais gera destaque exponencial, avalia especialista
A analista de negócios do Sebrae-MG Simone Lopes afirma que a estratégia do Café Zinn de apostar em um produto tradicional, como bolo de chocolate, mas investir em uma apresentação diferenciada, com tigela e copo, é importante para se destacar no setor de alimentação, já que os clientes buscam cada vez mais por experiências inovadoras.
“O consumidor que decide comer fora de casa não pensa só na comida. Ele quer viver algo que agregue valor ao produto, uma refeição simples precisa ser atraente. É fundamental apresentar novidades, mas o segredo é que as inovações podem estar na simplicidade, como a forma de servir o prato”, avalia.
Ela aponta que as diferenciações também são importantes para ganhar visibilidade nas redes sociais, o que gera um destaque exponencial para o negócio. As fotos e vídeos funcionam como uma vitrine, onde os clientes veem as experiências de outras pessoas e sentem o desejo de testarem o produto.
Além do sucesso do zinn delírio no TikTok, o Café Zinn também tem parcerias com influenciadores e marcas populares na internet para ajudar na divulgação de novidades. Uma das colaborações foi com a influenciadora Malu Borges, no lançamento de uma bebida com café gelado, no final de 2023.
“Buscamos por parceiros que tenham um estilo de vida que combine com nossos produtos, além de ter um público-alvo semelhante e que, preferencialmente, frequente nossas lojas”, afirma Daniela.
Expansão foi essencial com o aumento da demanda
Além da loja do Jardim Paulista, o Café Zinn também tem unidades no Shopping Iguatemi, em São Paulo, e no Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, além de uma central de produção com operação no delivery, na Vila Nova Conceição, na zona sul de São Paulo. A expectativa é abrir novas lojas no próximo ano, para conseguir lidar com a alta demanda.
Os planos para a expansão, contudo, são cautelosos. Ela contratou uma consultoria para ajudar no processo, mas decidiu dar passos menores para garantir que a essência da marca seja mantida. A central de produção será adaptada para acompanhar o aumento nos pedidos.
Avaliação dos consumidores
O Café Zinn tem uma nota de 4,2 - de 5 estrelas - nas avaliações do Google. Os elogios abordam a qualidade dos produtos, mas as críticas são direcionadas às longas filas - especialmente na matriz - e ao tempo de espera para receber o pedido. Já no Reclame Aqui, a marca tem apenas sete reclamações registradas, sobre problemas com as formas de pagamento, o que não é suficiente para calcular uma nota de reputação.
Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, comentários positivos ou negativos podem ser uma ação a favor ou contra a empresa.
Daniela afirma que as filas são o maior desafio do Café Zinn, já que a espera prolongada gera frustração. Ela explica que busca alternativas para melhorar a experiência, como o coquetel de boas-vindas oferecido para quem aguarda na entrada, e a abertura de novos pontos, para dividir as demandas.
Simone Lopes avalia que, se o empreendedor não souber lidar com filas e reclamações em decorrência da alta demanda, o impacto negativo pode se sobrepor aos pontos positivos do negócio. Ela destaca que é importante que a resposta aos clientes frustrados seja rápida, acolhedora e honesta. “Saber pedir desculpas e explicar o que aconteceu é parte da gestão de crise. A comunicação precisa ser constante, clara e efetiva, além de buscar definir um novo fluxo de trabalho para lidar com as oscilações da demanda”, afirma a especialista.
Leia a cobertura completa de PME
Dicas para investir no setor de cafeterias
A consultora do Sebrae-MG aponta que o primeiro passo para investir em cafeterias é definir quem será o público-alvo. Essa questão influencia desde a escolha dos produtos que serão oferecidos até a localização do negócio.
Se o foco for nos jovens, o melhor caminho é ficar perto de escolas e faculdades e se preparar para aumento da demanda nos horários de entrada, intervalo e saída das aulas. Já para quem quer alcançar as pessoas que só desejam tomar um cafézinho no meio do dia, as áreas centrais podem ser uma boa opção, com atendimentos práticos e rápidos.
Depois, o empreendedor precisa conhecer a grande estrela do setor: o café. O ideal é buscar por diferentes tipos de torras e modos de preparo para montar uma cartela de opções que harmonizem com o restante do cardápio.
Por fim a especialista ressalta que o diferencial pode estar também no ambiente, ao tocar músicas que estejam alinhadas com a identidade da marca. E, claro, no atendimento, ao treinar a equipe para ser acolhedora.
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