Ela começou vendendo brinquedos usados da filha e hoje fatura R$ 15 mil por mês com brechó

Atualmente, ela participa de um programa de incubação de startups, buscando formas de profissionalizar ainda mais sua operação

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Foto do author Victoria  Lacerda

Viviane Santos, de 38 anos, natural de São João do Ivaí, no interior do Paraná, e residente em Vitória (ES), é a criadora do Brinquechó, um brechó online especializado na venda de brinquedos usados. O empreendimento, iniciado em outubro de 2022, nasceu em meio a desafios pessoais e financeiros e hoje alcança um faturamento mensal aproximado de R$ 15 mil.

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Recém-divorciada e mãe solo de uma menina de quatro anos, Viviane vivia uma situação delicada. Apesar de seu emprego como analista financeira, as contas não fechavam. Aluguel, condomínio e outras despesas básicas estavam atrasados há meses. “Houve momentos em que precisei improvisar um pedaço de pano como absorvente para economizar e poder comprar leite para minha filha. Era uma realidade muito dura”, relembra.

A situação ficou ainda mais complicada quando, durante esse período, Viviane enfrentou uma crise de pânico. “Conversei com uma amiga e comecei a enxergar tudo o que estava ao meu redor de uma forma diferente. Minha casa estava cheia de brinquedos que minha filha nem usava mais. Pensei: ‘E se eu os vendesse para conseguir pagar algumas contas?’”, diz.

Entenda o Brinquechó

A ideia de vender brinquedos usados tomou forma rapidamente. Em uma única noite, Viviane separou os itens que sua filha não utilizava mais, criou um perfil no Instagram e começou a divulgar nos grupos de WhatsApp dos quais fazia parte. “O interesse das pessoas foi imediato. No primeiro mês, consegui arrecadar dinheiro suficiente para quitar os aluguéis atrasados e colocar as contas em dia”, diz.

O modelo de negócios começou simples, mas com uma visão clara. Viviane decidiu trabalhar com consignação: os donos dos brinquedos recebiam 60% do valor das vendas, e ela ficava com os outros 40%. Além disso, ela fazia uma triagem rigorosa, garantindo que os produtos estivessem em boas condições. Aqueles que não eram adequados para venda, mas ainda podiam ser usados, eram doados para instituições de caridade.

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Viviane fundou o Brinquechó em 2022. Foto: Divulgação/Brinquechó

“Desde o início, eu sabia que não queria apenas vender. Eu queria criar algo que ajudasse famílias de diferentes realidades, permitindo que crianças tivessem acesso a brinquedos de qualidade, independentemente da classe social”, explica.

Nos primeiros meses, Viviane ainda conciliava o Brinquechó com seu emprego formal, mas logo percebeu que o negócio tinha potencial para se tornar sua principal fonte de renda. Em menos de um ano, ela já havia vendido mais de 7 mil brinquedos e formado uma base fiel de clientes. Hoje, boa parte das vendas ocorre por meio de um grupo no WhatsApp com cerca de mil participantes.

Embora o Brinquechó tenha começado de forma improvisada, Viviane já faz planos para o futuro. Atualmente, ela participa de um programa de incubação de startups, buscando formas de profissionalizar ainda mais sua operação. “Quero transformar o Brinquechó em algo maior. Meu objetivo é criar um centro de distribuição, contratar uma equipe e, eventualmente, expandir para outras plataformas e mercados”, revela.

Lições aprendidas e desafios

A jornada de Viviane foi marcada por dificuldades, mas também por muita resiliência. Nos primeiros 12 meses, ela usou quase toda a renda para quitar dívidas acumuladas e se reorganizar financeiramente.

“Quando comecei, era apenas uma forma de sobreviver, mas o Brinquechó se tornou muito mais do que isso. É algo que me faz feliz, que me dá propósito e que impacta a vida de outras pessoas”, diz.

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Viviane acredita que o segredo do seu sucesso está na paixão pelo que faz e no compromisso com a reutilização e a sustentabilidade. “Os brinquedos que antes estavam esquecidos agora têm uma nova vida, trazem alegria para outras crianças. Isso é o que mais me motiva”, conclui.

O Brinquechó ainda opera na casa da empresária, mas ela já planeja um espaço físico para o negócio, previsto para 2025. Para a empreendedora, o futuro reserva novos desafios, mas também muitas oportunidades. “A minha história é a prova de que, mesmo nas piores circunstâncias, é possível recomeçar. O importante é não desistir.”

Estratégias para promover a reutilização de roupas e brinquedos no mercado atual

Lucien Newton, vice-presidente da vertical de Consultoria do Ecossistema 300 Franchising, defende que as empresas podem desempenhar um papel crucial na promoção da reutilização de roupas e brinquedos, alinhando-se ao modelo de economia circular. Ele sugere diversas estratégias que não apenas fortalecem o mercado, mas também fomentam práticas mais sustentáveis entre consumidores e organizações.

Uma das ideias apresentadas é a adoção de modelos de aluguel ou assinatura, permitindo que clientes utilizem roupas e brinquedos por um período e devolvam ou troquem quando não forem mais necessários. “Essa abordagem é ideal para itens que têm um ciclo de uso curto, como roupas infantis ou brinquedos sazonais”, destaca Newton.

A criação de mercados de segunda mão também é uma alternativa viável. Empresas podem investir em plataformas próprias para compra e venda de itens usados, garantindo a qualidade dos produtos e a confiabilidade das transações. Além disso, parcerias com ONGs e cooperativas ajudam a facilitar a doação de itens em bom estado, promovendo impacto social positivo.

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Outro ponto central é o recondicionamento de produtos, como brinquedos e roupas, aumentando sua vida útil e atraindo consumidores que buscam economia sem abrir mão da qualidade. Programas de troca, nos quais clientes recebem descontos ao devolver itens antigos, também se mostram eficazes para engajar consumidores na reutilização.

Aplicando o modelo de economia circular

O modelo de negócios baseado na economia circular pode transformar a forma como roupas e brinquedos são produzidos, consumidos e descartados. Newton explica que isso começa pelo design para durabilidade, com produtos mais resistentes e fáceis de reparar, promovendo múltiplos ciclos de uso.

A escolha de materiais recicláveis ou biodegradáveis é outro aspecto fundamental, permitindo que os itens sejam reaproveitados ou descartados sem danos significativos ao meio ambiente. Ele também sugere a adoção de economia compartilhada, por meio de redes onde consumidores possam compartilhar produtos, reduzindo a demanda por novos.

Empresas podem ainda oferecer serviços em vez de produtos, como sistemas de assinatura ou acesso por períodos limitados, incentivando o consumo consciente e constante reutilização.

Infraestrutura necessária

Para implementar essas estratégias em larga escala, é preciso investir em infraestrutura adequada. Lucien Newton ressalta a importância de centros de coleta, onde consumidores possam entregar itens que não utilizam mais, e instalações de triagem e reciclagem, que garantam o reaproveitamento eficiente dos materiais.

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Sistemas de logística reversa são essenciais para recolher produtos usados e redistribuí-los ou reciclá-los. Além disso, plataformas digitais podem conectar consumidores interessados em troca, venda ou doação, simplificando o processo.

A tecnologia como aliada

Newton também enfatiza o papel da tecnologia na promoção da reutilização. Ferramentas como blockchain podem ser usadas para rastrear o ciclo de vida dos produtos, assegurando transparência e confiabilidade. Já etiquetas inteligentes (RFID) permitem o monitoramento de uso e devolução de itens, enquanto plataformas online e aplicativos facilitam a conexão entre consumidores.

Para engajar o público, empresas podem adotar gamificação, oferecendo recompensas ou benefícios para quem participa de ações como doação, troca ou compra de produtos usados.

Engajando o consumidor

Por fim, Newton reforça a importância de conscientizar os consumidores sobre os benefícios da reutilização. Campanhas educacionais são fundamentais para informar o público sobre os impactos ambientais do descarte e as vantagens da reutilização.

Empresas podem também oferecer incentivos financeiros, como descontos ou pontos em programas de fidelidade, para estimular a participação. “A comunicação transparente, com histórias de impacto positivo, pode motivar as pessoas a adotarem práticas sustentáveis”, afirma.

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Além disso, eventos locais de troca ou doação, aliados a parcerias com influenciadores, ajudam a criar um senso de comunidade e inspiram diferentes públicos a aderirem à economia circular. “Envolver os consumidores é crucial para transformar hábitos e construir um mercado mais sustentável e consciente”, conclui Lucien Newton.

Até o momento da apuração desta reportagem, o Brinquechó não tinha avaliação de clientes nem no Google nem no site Reclame Aqui.

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