O CEO do Grupo Fisk, Bruno Caravati, 69 anos, não tem dúvidas: a concorrência obriga a empresa a aprimorar o trabalho, principalmente em um mercado tão concorrido como o das escolas de idiomas. “Tem de ter alguém nos seus calcanhares para que você seja sempre melhor”, garante.
A declaração não é da boca para fora, o empresário retirou o ensinamento de um caso concreto, vivenciado por ele em 1970. Na época, Bruno era diretor da unidade mantida pelo grupo no bairro paulistano de Santo Amaro. Todas as salas eram da empresa, menos uma, ocupada por um dentista. :::Estadão PME nas redes sociais ::: :: Twitter :: :: Facebook :: :: Google + :: O movimento no consultório começou a rarear, mas Bruno não deu bola até que um dia deparou-se com uma placa: Modern English School. A concorrência batia na sua porta. “Eu me apavorei”, lembra atualmente o executivo.
Preocupado, Caravati foi conversar com o fundador da rede, Richard Fisk, ou Mister Fisk, como é conhecido. “Eu perguntei o que deveria fazer e ele virou-se pra mim e falou: volte e vá dar as aulas do jeito que você sempre deu. Em um ano, eles fecharam. Por isso, acredito que quanto mais escolas, melhor.”
Essa foi uma das histórias contadas por Caravati durante o encontro promovido pelo Estadão PME entre ele e pequenos e médios empreendedores. Na empresa desde 1966, Caravati é o principal executivo da rede que um dia o acolheu como professor de inglês. Confira a seguir os principais trechos do encontro.
Filosofia Bruno Caravati comanda uma rede com mais de mil unidades, espalhadas pelo Brasil e também por outros países. O tamanho da empresa assusta, mas o empresário garante que ela poderia ser maior. “Mas eu prefiro seguir o ditado slowly but surely (devagar se vai ao longe). Se preocupe com a sua grama, e não com a grama do vizinho.”
A expansão da rede, aliás, começou bem antes do sistema de franquias se estabelecer no País, em 1991. “Nós fazíamos isso sem saber, 30 anos antes, em 1961”, lembra o empreendedor.
Na época, o crescimento era pavimentado por meio de acordos firmados na base da confiança, do “fio do bigode”, como gosta de lembrar Caravati. Foi o que ocorreu em Campinas, por exemplo – até hoje as escolas Fisk na cidade do interior do Estado são administradas por um ex-funcionário do grupo, Ismail Hatia.
“Campinas é uma cidade em que eu posso colocar 20 escolas. Não coloco. Por quê? Porque o seu Ismail, na década de 60, quando eu não era ninguém, confiou em mim. No meu nome. Na minha cara. Se eu colocar uma escola em cada esquina, vou fazer as pessoas baterem cabeça a troco de que? Para que eu vou arrumar briga”, analisa.
Qualidades Questionado sobre as virtudes para tornar-se um empreendedor de sucesso, Caravati respondeu que a pessoa deve ouvir e saber distinguir o que é bom. “Ninguém é dono absoluto da verdade”, afirma. Para ele, também é preciso confiar nas pessoas as quais você delega funções. “Dê tempo para o profissional se adaptar e esteja sempre pronto para estender a mão”, recomenda o empresário.
Mas se o caso é empreender dentro do negócio idealizado por outra pessoa, a recomendação é uma só: sempre ouvir o que o proprietário tem a dizer. “É preciso saber respeitar seu limite e a partir daí a coisa começa a fluir naturalmente. A pessoa confia em você cada vez mais e você tem liberdade para tocar o negócio”, afirma.
Mas nenhum conselho, na opinião de Caravati, é tão valioso quanto o que ele deu aos pequenos e médios empreendedores logo no início do encontro. É preciso ser honesto e transparente com quem se negocia. Sempre. “Se você não tiver essa qualidade, pode esquecer, seu negócio não vai dar certo.”
Redes sociais Na avaliação de Caravati, é impossível trabalhar atualmente sem usar as redes sociais, principalmente porque o custo é pequeno. E o empresário, mais uma vez, usa a experiência para referendar sua sugestão.
No final dos anos 50, a rede contratou uma pessoa para vestir-se de relógio com a marca Fisk e andar no centro de São Paulo. “Começamos a mostrar a cara assim. Hoje nem se pensa em fazer isso. Hoje é rede social mesmo. Também nunca deixamos de fazer propaganda, nunca saímos da televisão.”
Mesmo assim, Caravati não garante o sucesso de nenhuma ação de marketing. “Não existe ninguém no mundo que fale: faça desse jeito porque vai trazer resultado. Isso não existe. É sempre um tiro no escuro, mas não deixe de fazer”, conclui.
Preferências Na hora de tomar decisões, Caravati lembra que é preciso avaliar o que é melhor para a empresa, independentemente do gosto do empresário. E isso foi colocado à prova recentemente, quando ele decidiu sobre o contrato de patrocínio a uma equipe de futebol. Torcedor do XV de Piracicaba, admirador da Portuguesa e filho de pai italiano torcedor do Palmeiras, ele optou por estampar a marca na camisa do Corinthians. “Foi uma decisão difícil, envolvia muita grana, mas valeu a pena”, finaliza o empresário, mencionando o título internacional conquistado pelo clube.
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