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Cafeicultores das Matas de Minas aprimoram pós-colheita de olho em qualidade

Novas práticas no campo, como seleção, separação em lotes e secagem do café em terreno suspenso, resultaram em cafés com mais de 84 pontos de qualidade

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Atualização:

MANHUMIRIM (MG) - É com voz mansa que o casal Délcio Klem Lopes e Sandra Raquel Horsts conta a curta trajetória da produção de cafés especiais na propriedade, localizada em Manhumirim. Da terceira geração de cafeicultores da família, Délcio herdou do pai pouco mais de um hectare de terra, no qual cultiva 16 mil pés de café em altitudes que vão de 915 m a 1.030 m.

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Mesmo com a fama antiga de ‘produtor de café bom’, foi apenas no ano passado que começaram a produção do grão especial. “No começo pensamos que seria possível produzir entre uma e duas sacas no máximo”, conta Sandra. Da produção de 130 sacas, 80 atingiram classificação de café especial, com 84 e 87 pontos (o último, um microlote de 28 sacas). 

“Pedimos a ajuda de um técnico do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). Ele nos auxiliou na coleta do solo, leitura dos laudos e informou o que a terra estava precisando”, conta Sandra. Com a lavoura preparada, os passos seguintes foram iniciar o processo de seleção e separação dos grãos e a construção de terreiros suspensos para a secagem do café. Por fim, o casal mergulhou no universo da bebida e fez cursos de degustação e classificação, para entender a diferença da bebida na xícara. Ela ainda conta também fez um curso de torra e pretende um dia torrar o próprio ‘cafezinho’. 

Apesar de aceitar o desafio de produzir cafés especiais, Délcio faz comentários com a racionalidade de quem produziu commodity a vida toda. “Para cada saca de café, utilizamos seis de adubo. Além disso, ainda há a barreira da comercialização. Vendemos 30 sacas de café 84 pontos como commodity no ano passado”, lembra. “Estamos em busca de parcerias, desses compradores”, completa Sandra. 

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Délcio Klem da Silva e Sandra Raquel Horsts, pequenos produtores de caféespecial do Sítio Serra dos Lopes, localizado emManhumirim (MG). Na safra de 2018, o casal produziu 80 sacas de café especial Foto: Felipe Rau/Estadão

De acordo com o casal, o técnico do Senar avaliou que, tendo a produção total como referência, o valor da saca especial do casal chegou a R$ 518, cerca de R$ 120 mais caro que o commodity.. “Se tivesse sido um ano bom de preço de commodity, nosso ganho teria sido maior ainda”, diz Sandra. Para o microlote de pontuação 87, um comprador chegou a pagar R$ 700 a saca, e levou o grão para a Austrália. 

Para a venda direta ao consumidor, o casal comercializa o café torrado e moído com o selo das Matas de Minas pelas redes sociais. Ao lembrar de todo o processo, Délcio afirma que a única coisa que sabia fazer era colher café. “Foi uma virada muito grande. Estamos nos adaptando.”

Até 1.200 m de altitude em Alto Caparaó 

A lavoura de 13 mil pés de café do casal Renato e Joice Aguiar fica em frente ao Pico da Bandeira, ponto mais alto do Estado. Das 130 sacas produzidas em 2018, 20 foram de café especial com 85 pontos. O casal despertou para este universo ao observar o boom do mercado na região, entre 2015 e 2016, quando começaram a participar de concursos. 

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“No concurso de 2016 ficamos em 16°. No ano seguinte, pulamos para o 12° e ano passado ficamos em 8°.’, orgulha-se Renato. Em dezembro de 2018, os cafeicultores tiveram o primeiro café certificado com o selo das Matas de Minas. O foco das vendas é o mercado interno, em supermercados da cidade, e também direto ao consumidor, pela internet.

“Mesmo a região sendo conhecida pelas lavouras de café, quase não se encontrava café local para a venda. Apostamos nesse mercado”, diz Renato.Uma pequena quantidade foi para a região de Saragoça, na Espanha, com saca a R$ 600, negócio que teve ajuda do parceiro de torra do casal.

Renatoe Joice Aguiar, pequenos produtores do Sítio Nosso Melhor Café, em Alto Caparaó (MG). O casal foca na venda do grão especial no mercado interno, na própria cidade Foto: Felipe Rau/Estadão

Sobre o despertar da região para a produção de grãos especiais, Renato afirma que essa produção está nas mãos dos pequenos. “Aqui na região, por conta do solo e da altitude, quem cuidar um pouco mais da lavoura vai fazer um café especial”, acredita Renato, que lembra que a maior dificuldade é vender o grão, e não produzi-lo. 

O casal não abre mão do processo artesanal. "Não dá pra explodir demais. Estamos administrando isso. A intenção é continuar artesanal", afirma Joice. Sobre o selo das Matas de Mina, eles acreditam que foi fundamental para fomentar e estimular a produção dos cafés especiais. "Ajuda demais. A pessoa que está comprando o nosso café quer saber de onde ele vem, quer conhecer nossa história. Com a industrialização, o café perdeu a referência do regional. Estamos voltando para isso." 

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Investimento em café de alta pontuação para prêmios 

João Luis Vianna é a terceira geração de cafeicultores da família do Sítio Sapucaia, em Manhumirim. Com cerca de 300 mil pés de café que chegam a altitude máximo de 960 m (a média é de 800 m), o produtor demorou para se abrir para esse mercado.

"Eu sempre me esquivava. Participava de grupos e associações, mas nunca me animei a começar de fato”, conta. Porém, o cafeicultor já desconfiava da vocação para o grão especial da lavoura. "Sempre separamos o melhor café da safra para nosso consumo e para alguns amigos. Todos diziam que eu precisava investir mais nele", diz. 

Foi a criação do selo das Matas de Minas que o pontapé inicial aconteceu. "Antes, eu não tinha um laudo, não tinha certeza da nota. Depois do selo, você pode mostrar o café com o certificado de origem e qualidade e isso traz uma segurança muito maior pra gente. Foi fundamental para eu me animar mais", conta. 

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João Luís Carneiro Vianna, médio produtor de café do Sítio Sapucaia, em Manhuaçu (MG). Ele se prepara para produzir nanoltes para se inscreverem concursos de qualidade Foto: Felipe Rau/Estadão

Em 2018, das 2.500 sacas produzidas, 20 foram de cafés especiais: 10 com nota 83 e 10 comnota 84. Os lotes foram selados em fevereiro deste ano. João acredita que, mais do que o mercado de especiais, o selo também dá visibilidade para o commodity. "Novos compradores se aproximaram. Isso faz com que a gente consiga melhorar o preço médio." Para produzir café especial, ele diz gastar 50% a mais do valor que gasta para fazer o commodity. 

Mesmo com um pouco de receio, novas empreitadas estão no radar do produtor, como a produção de cafés fermentados, o chamado 'honey'. “Pretendo fazer nanolotes, entre 30 e 40 quilos, para me inscrever em concursos.Isso é uma forma de divulgar e fazer marketing."

Cafeteria e torrefadora no castelo

Os irmãos Davi e Salomão Charbel seguiram o curso natural de trabalhar com o café, mas com um pequeno desvio de rota. Filhos de produtores de Manhuaçu, os irmãos deixaram as lavouras para atuar na outra ponta: a torra e a comercialização do grão pronto para o consumo. 

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Quando Davi foi estudar relações internacionais em Belo Horizonte, vendia para professores e amigos alguns lotes de cafés especiais que garimpava na cidade. Foi então que enxergou uma fatia do mercado. “Decidimos fazer cursos para nos especializar e, no fim de 2016, criamos a marca e o clube de assinaturas Café Salomão”, conta Davi, que é a ponta operacional enquanto Salomão se dedica às avaliações de amostras e à torra dos cafés selecionados. Apenas cafés acima de 85 pontos são comercializados por eles. 

Davi e SalomãoCharbel, irmãos que tocam a torrefadora e cafeteria Castelo do Cafée criadores das marcas CaféSalomãona cidade de Manhuaçu (MG) Foto: Felipe Rau/Estadão

O próximo passo foi conquistar a xícara dos turistas e moradores da região. No fim do ano passado, inauguraram o Castelo do Café, cafeteria e torrefadora com 1.400 m² e que prepara a bebida em seis diferentes métodos de extração. “Nossa estrutura também comporta o beneficiamento do café, passando pela torra até a xícara. Em breve vamos fazer todos os processos aqui”, conta Davi. O local recebe cerca de 300 pessoas por dia.

* VIAGEM A CONVITE DO SEBRAE-MG

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