A cirurgiã-dentista Carla Sarni estava no meio de uma maratona de 45 dias de viagens sem descanso – nem mesmo para ver os dois filhos – quando chegou à sede do Grupo Estado para participar do encontro promovido pelo Estadão PME com pequenos empresários. Dona da maior rede de clínicas odontológicas da América Latina, a Sorridents, ela exibia uma disposição incansável, apesar das 17 horas diárias de trabalho dedicadas, justamente, ao sorriso alheio. “O sucesso está na atitude das pessoas”, afirma a empreendedora. Carla admite: busca resultados rápidos, mas sem deixar de lado a inovação. Foi assim desde o começo, quando há 17 anos criou um modelo de negócios com foco nas classes mais baixas. A ideia era oferecer serviço odontológico de qualidade ao menor preço possível e com pagamento facilitado. ::: Siga o Estadão PME nas redes sociais ::::: Twitter :::: Facebook :::: Google+ :: O primeiro desafio era criar escala rapidamente, o que só seria possível por meio de uma gestão rígida e expansão acelerada. Os números indicam que Carla conseguiu o que pretendia. Hoje, a franquia Sorridents conta com 180 unidades e espera chegar a 500 até 2016. Confira os principais trechos do encontro com a empresária. Capacitação O espírito empreendedor de Carla manifestou-se aos 8 anos, quando sua mãe, dona de uma loja de roupas, recebeu por engano uma caixa de carretéis de linha. “Eu coloquei todos em uma bacia, levei para a porta do supermercado e comecei a vender. Com o dinheiro, comprei uma bicicleta”, conta. Apesar do talento para vendas, a fundadora da Sorridents diz que investe constantemente em seu aprimoramento. “Por si só o espírito empreendedor não basta. Cada dia mais sinto a necessidade de me capacitar.”Franquias Para garantir a padronização de processos e a qualidade no serviço de tantas clínicas, Carla investe em rigoroso processo de escolha dos franqueados. O objetivo é garantir que os selecionados dediquem-se tanto quando ela. “Um dos maiores erros dos franqueadores é deixar uma pessoa sem perfil entrar no negócio.” No início da Sorridents, a empresária não tinha o mesmo cuidado, o que resultou em uma seleção natural dos melhores empresários e culminou no fechamento de unidades. Controle de qualidade Para acompanhar o desempenho dos franqueados, Carla investiu na customização de um sistema de gerenciamento e contratou auditores para as unidades. Com base na sua experiência, ela diz que essas medidas são necessárias para assegurar o crescimento seguro de qualquer empresa. “O modelo de negócio precisa ser o mais travado possível, com processos bem definidos, para manter a qualidade e o controle”, diz. Dessa forma, a dica de Carla Sarni é que o empreendedor identifique em quais setores ele pode perder o controle e, a partir daí, tome atitudes para travar a operação. Quando a Sorridents começou a crescer, por exemplo, Carla percebeu que havia o risco de os franqueados comprarem matérias-primas de baixa qualidade para aumentar o lucro. Para evitar esse problema, ela certificou e definiu fornecedores específicos para todas as unidades da empresa. Expansão Questionada sobre a melhor forma de conduzir o plano de crescimento do negócio para além de sua cidade de origem, Carla diz que cada estratégia depende da existência – ou não – de uma pessoa de confiança apta a acompanhar de perto a nova operação. “Não basta um grande investimento, é importante ter também muita dedicação” ressalta a fundadora da Sorridents. Na ausência de uma pessoa com esse perfil, Carla recomenda precaução e investimento moderado. Ela sugere a mesma cautela para quem pretende agregar novos serviços a uma empresa com muitas unidades. “Tudo que você fizer terá que ser replicado em toda a rede com o mesmo padrão. E minha experiência mostra que se você divide o foco em duas atividades, vai acabar atrapalhando o desenvolvimento de uma delas”, afirma. Desafios Em 2009, cansada de enfrentar a cada dia novos problemas, Carla decidiu sair da operação. Ela deixou a presidência da Sorridents e contratou um CEO profissional para o seu lugar. A experiência durou apenas alguns meses.“Achava que o problema era eu, porque quero tudo para ontem. Mas a troca não funcionou. Leva anos para você formar alguém que conheça o seu negócio tão bem quanto você”, diz.
A experiência, segundo ela, a ensinou que o desafio de todo empresário é lidar com os constantes gargalos da empresa e entender que eles fazem parte da rotina. Por isso, hoje Carla entende que o negócio anda no ritmo do dono – portanto, para ver resultados, a dedicação do dono será fundamental. O mesmo serve para seus franqueados. “Os mais bem sucedidos são os que você encontra na loja a qualquer hora do dia” afirma. “Não tem segredo, o sucesso está na atitude das pessoas.”
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