Um casal de São Paulo começou em 2011 um pequeno negócio online, nos fundos de uma escola, vendendo acessórios para celular, como capinhas e telas. Hoje, com novos produtos, eles importam 100 contêineres de mercadorias e faturam R$ 36 milhões por ano.
Os empreendedores são Igor Savoia e Sabrina Fernandes, donos da loja virtual Na Web Utilidades, especializada em utilidades domésticas e brinquedos importados e fundada em outubro de 2020.
Em 2022, o faturamento médio por mês chegou a R$ 3 milhões e pode alcançar R$ 4 milhões mensais até o final deste ano conforme eles estimam.
São cerca de 30 mil unidades comercializadas por mês, com ticket médio de R$ 100. A Na Web está inscrita como empresa de pequeno porte (EPP), conta com 19 funcionários e mantém um galpão logístico de 2.100 metros quadrados.
O início nos fundos de uma escola
A história do empreendimento começou, modestamente, com a venda online de acessórios para celular, em 2011. Formada em Letras, com habilitação como tradutora e intérprete, Fernandes dirigia uma franquia de uma escola de inglês da rede Fisk.
Com atuação anterior na área de administração de empresas e contabilidade, Igor mantinha uma assistência técnica para celulares, nos fundos da escola.
Capinhas de celular, películas para telas e peças para os aparelhos foram os primeiros produtos. Isso ocorreu na esteira, então, da aceitação do iPhone, da Apple, e do Galaxy, da Samsung, cujos primeiros modelos tiveram lançamento pouco antes.
Naqueles anos pioneiros, o e-commerce ainda engatinhava no Brasil e não dispunha das facilidades tecnológicas da atualidade. “Vendíamos muito bem, mas era tudo muito primitivo e amador”, recorda-se Savoia.
Uma vez recebido o pedido de compra, ele ia ao banco para confirmar se o comprovante de pagamento era real e o dinheiro havia de fato caído na conta. Em seguida, ele próprio embalava, fazia manualmente a etiqueta de endereço e levava a mercadoria aos Correios.
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Utilidades domésticas e brinquedos
Aos poucos, entretanto, lojas físicas para acessórios de celular se multiplicaram e passaram a compor a paisagem urbana, com a popularização dos aparelhos.
Os varejistas da rua 25 de março, em São Paulo, vendiam para o Brasil inteiro. Daí, veio o estalo: hora de migrar para outro nicho.
No esforço para diversificar as atividades, Fernandes conta que, em 2016, a área de cosméticos mostrou-se animadora à primeira vista. Durou pouco a tentativa, contudo, pois havia muita reclamação.
“Foi um problema surreal”, Fernandes descreve. Um exemplo: o cliente comprava uma tintura para tornar o cabelo louro e se queixava que tinha ficado de outra cor. A saída se apresentou com a mudança de foco, novamente: as utilidades domésticas.
Essa alternativa nasceu de uma observação proporcionada pela geografia de São Paulo. No deslocamento diário, o casal passava sempre pelo Pari, bairro que é tradicional centro atacadista de produtos para o lar e móveis de decoração.
A ideia era montar uma janela virtual para esse mercado. E funcionou. Como eles não tinham estoque, a cada pedido recebido, Savoia ia até o Pari para obter as mercadorias.
Hoje, quem visitar a Na Web no marketplace Magalu, por exemplo, encontrará itens para organização do lar, junto com panelas, copos, porcelanas, talheres, petisqueiras e similares.
Na evolução da firma, o portfólio abriu espaço para brinquedos. Kits de cozinha de plástico, bonecas e um mercadinho infantil com caixa registradora dividem espaço com uma pista de corrida, triciclos e réplicas de dinossauros em miniatura, por exemplo.
Visitas a feiras internacionais
Para se aprofundar nesse ramo, Savoia já esteve numa grande feira internacional em Hong Kong e se prepara para conhecer a cidade chinesa de Shantou, considerada o polo industrial de brinquedos no mundo.
A Na Web está nos marketplaces Magalu, Mercado Livre e Shopee. O casal destaca o relacionamento mais pessoal com o primeiro: “A Magalu não é um computador, é humana; ela se preocupa com o vendedor”.
Os produtos da loja vêm da China. Na divisão de trabalho, Savoia se encarrega da importação e da parte tributária, e Fernandes, das vendas.
“Em 2023, estamos importando mais de 100 contêineres”, diz Savoia, que prevê ultrapassar a marca de 140 em 2024.
Oito conselhos para quem quer começar no e-commerce
Veja dicas elaboradas com base na experiência do casal Igor Savoia e Sabrina Fernandes, do e-commerce Na Web Utilidades:
1. Paciência
Os resultados não vêm da noite para o dia, de maneira rápida e imediata. É devagar mesmo. Vender na internet é passo a passo.
2. Produtos
Comece pelo que você já entende. Fica mais fácil quando você vende algo que conhece, entende o mercado, onde comprar e qual o preço. É possível vir a dominar segmentos desconhecidos, é claro, mas a curva de aprendizado é mais demorada.
3. Nichos
Tenha foco no seu trabalho e explore nichos de mercado, tornando-se um especialista naquilo que escolher.
4. Marketplaces
Há muitos marketplaces atualmente. Não é necessário estar em um número grande. Estabeleça prioridades sobre onde quer vender, de acordo com sua estratégia.
5. Tecnologia
Fique sempre atento às boas inovações tecnológicas que as plataformas de marketplace colocam à sua disposição, com frequência, para incrementar as vendas.
6. Conhecimento
Estude bem o segmento no qual você quer atuar, com análise de mercado e da concorrência. Acompanhe também a evolução em outros países.
7. Conformidade com a legislação
Faça tudo 100% certo e não ceda à tentação de agir na informalidade, como vender sem nota. A conta uma hora chega.
8. Resiliência
Não desista, mesmo em caso de algo dar errado. Procure corrigir a rota e siga seu caminho com profissionalismo.
Os dados citados neste texto foram coletados originalmente em outubro de 2023.
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