Cervejarias miram novos mercados com bebidas além da cerveja

Marcas como Blondine, Dádiva e Japas diversificam portfólio para captar nova clientela com drinques e sidras enlatadas; experimentação na pandemia tem boa aceitação, dizem empreendedores

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Enxergar oportunidades para novos mercados sem abandonar o core business da empresa. Esse é o movimento que algumas microcervejarias vêm fazendo nos últimos meses com o lançamento de bebidas de outras categorias, como sidras e drinques enlatados. A ideia, contam os empreendedores, é apostar em inovação e em novos públicos, já consumidores de cerveja ou não.

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Na microcervejaria Blondine, o plano é emplacar no mercado 11 categorias diferentes até o fim de 2021. À primeira vista, o planejamento parece audacioso. O mapeamento de oportunidades para novos segmentos, no entanto, teve início em julho de 2019, diz Aloisio Xerfan, fundador da empresa. 

Entre as categorias mapeadas estão drinques em lata, soda, chá, energético, cold brew (café extraído a frio) e uma linha wellness - produtos saudáveis. “O nosso business como indústria de bebidas tem sinergia com outras categorias. E na parte de distribuição, em vez de distribuirmos produtos de outras indústrias, pensamos que nós mesmos poderíamos lançá-los”, diz Aloisio.

O primeiro lançamento aconteceu há pouco mais de uma semana com quatro sabores de hard seltzer, um drinque de origem norte-americana que tem em sua composição água gaseificada, álcool de cereais e sabores de frutas. 

Chamado de Verano, o produto recebeu investimento de R$ 300 mil para ser lançado, com lote inicial de 30 mil latas. Mas a expectativa, diz Aloisio, é uma produção padrão de 100 mil latas por mês, a serem distribuídas em redes de varejo, bares e restaurantes. 

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Blondine planeja lançar no mercado 11 tipos de bebidas fora da categoria cerveja até o fim de 2021; oprimeiro foi a linha Verano, com três tipos de hard seltzer, drinque com água gaseificada, álcool de cereais e frutas Foto: Ana Paula Boni/Estadão

“A pandemia mudou as pessoas. Na nossa visão, ela mostrou para os consumidores uma nova forma de viver e isso abre margem para a experimentação de novos produtos. Nós temos que aproveitar os anos de 2021 e 2022 para colocar o máximo de categorias no mercado.”

O próximo lançamento, promete ele, será feito até o fim de março com a soda artesanal Be Pop. O produto, na verdade, surgiu como um refrigerante natural em 2016, mas acabou de ser reformulado e entrou no planejamento de lançamentos para este ano.

Questionado sobre o investimento no produto que é o core business da marca, a cerveja, Aloisio é categórico. “Vamos lançar a linha Blondine Reserva, com 24 rótulos envelhecidos em madeiras brasileiras e seis em madeiras importadas. Também vamos lançar cervejas na linha wellness”, conta. “Uma indústria com o nosso padrão tem que vender pouco de muito.”

De olho nas tendências

Na Japas Cervejaria, a primeira aposta fora da categoria cerveja aconteceu no fim de 2019, com o lançamento do Haiboru, drinque enlatado composto por uísque, uma bebida gaseificada (geralmente soda) e algum cítrico. Feito à moda do Japão, o produto entrou no portfólio após uma viagem ao país, conta a sócia fundadora da Japas, Yumi Shimada. A empresa tem a cultura japonesa como o principal pilar, da escolha dos ingredientes à identidade visual. 

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Sobre a adaptação para a produção do drinque, Maíra Kimura, sócia-fundadora e responsável pela produção na Japas, diz que a possibilidade de produzir na mesma fábrica em que já fazem e distribuem as cervejas (a empresa é uma microcervejaria cigana, sem fábrica própria) facilitou o processo.

“Passamos muito tempo primeiro pesquisando e testando receitas e ingredientes até chegar a um resultado que fosse a nossa interpretação desse drinque. Trouxemos amostras do Japão, conversamos com especialistas na área de coquetelaria e testamos possíveis fornecedores”, diz Maíra. 

Japas Cervejaria investiu no drinque japonês a base de uísque e água gaseificada, o highball; a linha Haiboru tem três sabores Foto: Bruno Fujii

No último mês, um terceiro sabor do drinque (com a adição da fruta decopon) foi lançado. “Com a pandemia, vimos que o drinque é uma boa opção para delivery em izakayas (botecos japoneses), além de ser um produto de fácil manejo para ser consumido em espaços ao ar livre, é só abrir a latinha e tomar”, diz Yumi. “O drinque também é uma oportunidade legal para conversar com quem gosta de coquetéis. Por incrível que pareça, a gente tem muito seguidor da marca nas redes que não toma cerveja”, completa.

Na cervejaria Dádiva, a bebida escolhida foi a sidra. Uma linha com três tipos diferentes da bebida foi lançada no fim do ano passado. Luiza Tolosa, sócia fundadora da microcervejaria e distribuidora, diz que o projeto surgiu como uma oportunidade misturada à curiosidade. 

“Muitos amigos do mercado também começam a ter essa preocupação. Existem algumas tendências que estão batendo à porta com força, como os drinques enlatados e o vinho em lata”, acredita. 

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A empresa produziu 2 mil litros do trio de sidras. Para lançá-las, foi criada a Dádiva and Other Stuff, submarca focada nas experimentações e nos lançamentos de bebidas que não são cerveja. “Desvinculamos esses produtos do nosso logotipo, que é a libélula, e demos uma outra cara para a logomarca”, conta Luiza. 

O próximo lançamento acontecerá em cerca de 15 dias, com uma sidra envelhecida. “Nosso mercado (de cerveja) é muito baseado em novidades. Às vezes, comercialmente falando, faz mais sentido fazer outros produtos do que de fato ter em linha”, explica Luiza, sobre a periodicidade de produção e entrada fixa das outras categorias no portfólio da empresa. 

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