O patamar de qualidade dos chocolates da marca Baianí é tão alto que, quando o cacau não alcança determinados padrões para virar barras, ele é descartado. Quer dizer, poderia, mas não é: pode servir para chocolates de nível inferior ou ir para a indústria de cosméticos. Pensando nisso, a Baianí resolveu desenvolver uma linha própria de hidratante corporal e sabonete líquido com a manteiga do cacau que não chegou ao padrão para virar chocolate.
São inicialmente dois produtos da linha Belê - Do Cacau ao Corpo: creme hidratante de cacau com óleo essencial de laranja; e sabonete esfoliante de cacau com pedaços de café e essência de cravo. Eles devem ser lançados na próxima semana, antes do Dia das Mães, tanto no site da marca quanto na loja própria em São Paulo.
A loja Baianí foi inaugurada em junho do ano passado, na zona sul de São Paulo, três anos depois de a marca ter sido lançada no mercado, em 2018. O foco é o chamado chocolate bean to bar, feito desde a amêndoa até a barra pela mesma equipe de produção. No caso da Baianí, premiada em ranking de ovos de Páscoa do Paladar e cujos donos são também plantadores de cacau no sul da Bahia, o chocolate é tree to bar (da árvore à barra).
Segundo Juliana Aquino, fundadora da marca ao lado do marido, Tuta Aquino, o lançamento dos cosméticos reforça o foco da empresa em sustentabilidade e no aproveitamento total da cadeia do cacau. O projeto nasceu a partir de sobras que seriam descartadas: após a manteiga ser extraída em máquinas artesanais, explica Juliana, o resultado não é um produto branco e puro como o da indústria, então é preciso deixá-lo decantar duas noites.
“Ao final desse descanso, por cima sobra uma manteiga clara e por baixo uma massa mais escura. Essa massa, que a gente chama de massa gorda, eu venho guardando há um tempo, indignada com o fato de que aquilo era ‘lixo’. Tenho mais de cem quilos dessa massa em casa”, conta a empreendedora, indicando a matéria-prima de sua linha de cosméticos. Em breve, deve ser lançado também um protetor labial e um sabão em barra. A produção é feita em parceria com uma especialista em cosméticos terceirizada.
O volume da manteiga acumulada nos últimos tempos, apesar de não ser grande coisa para ser vendido para a indústria, vai incrementar a receita da marca. Hoje, o foco do faturamento são as 14 barras de chocolate, que variam entre chocolate branco até chocolate intenso 100% cacau. Em junho, devem ser lançadas mais duas barras. Todas elas são feitas com fruto cultivado na fazenda Vale Potumujú, de Juliana e Tuta. O local pertenceu a gerações das famílias do casal e foi retomada por eles em 2013, passando por um processo de modernização.
O mercado de chocolate bean ou tree to bar tem crescido nos últimos anos e, segundo pesquisa do Sebrae feita em conjunto com a Associação Bean to Bar Brasil, da qual a Baianí faz parte, o número dessas pequenas empresas dobrou em quatro anos.
Hoje, são 118 negócios artesanais de chocolate, sendo que 73% usam cacau da Bahia. Na lógica bean to bar, a intenção é dar destaque à origem e à qualidade do cacau, eliminando as interferências da indústria com aromatizantes e outros aditivos.
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