Deve levar um tempo para os vizinhos do número 284 da Rua Madalena, travessa sinuosa do bairro Vila Madalena, em São Paulo, perceberem que ali funciona uma empresa. Quem passa na porta pode ouvir os latidos do cachorro ou sentir cheiro de comida caseira na hora do almoço. ::: Siga o Estadão PME nas redes sociais ::: :: Twitter :: :: Facebook :: :: Google + :: Mas é ali mesmo a sede da Mandalah, que se define como uma empresa de 'inovação consciente'. "A sede tenta mesmo manter o jeito de casa. Porque em casa a gente baixa a guarda. E isso faz bem numa relação de negócios", diz Lourenço Bustani, fundador da consultoria ao lado do amigo Igor Botelho.
Foi ali, no endereço de portão grafitado, que a revista americana Fast Company encontrou o empresário que ela acaba de eleger como o brasileiro mais criativo no mundo dos negócios. Foi ali, também, que empresas como Petrobrás Distribuidora, Natura, Nike e GM, entre várias outras, foram buscar novas ideias para aplicar em seus negócios.
Lourenço Bustani está na 48.ª posição do novo ranking global das 100 pessoas mais criativas em negócios, publicado anualmente pela revista americana, uma das mais conceituadas publicações de tecnologia e negócios do mundo. A lista, divulgada hoje, é liderada pelo chinês Ma Jun, diretor do Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais, que conseguiu mobilizar grandes empresas na China a melhorar as condições de suas fábricas. Nomes como Rebecca Van Dyck, chefe global de marketing do Facebook, Adam Brotman, responsável pelo departamento digital da Starbucks, e Claire Diaz-Ortiz, diretora de inovação social do Twitter também estão entre os escolhidos.
Outros três brasileiros aparecem no ranking: Flávio Pripas e Renato Steinberg, cofundadores da startup de moda Fashion.me, na 54.ª posição, e Carla Schmitzberger, diretora da unidade de sandálias da Alpargatas e número um da Havaianas, na 97.ª colocação. "Criatividade não pode ser reduzida a uma fórmula", disse Robert Safian, editor da revista no lançamento da primeira edição do ranking, em 2009. "É claro que haverá controvérsia sobre a escolha dos 100 nomes. Mas há uma perspectiva em nossa lista: vista em sua totalidade, é um retrato da profundidade e variedade do que é criativo atualmente no mundo dos negócios - uma fonte surpreendente de força nesses tempos turbulentos", explica o editor.
O foco da Mandalah está em ajudar companhias a criar produtos, serviços e estratégias que fortaleçam os negócios, mas também gerem um valor social. A lógica é conciliar a busca por lucro com a busca por propósito. "Não somos como a velha guarda, que pensa que, para ser sustável, a empresa tem de trabalhar com ONG e plantar floresta", explica Bustani. "Trazemos a sustentabilidade para dentro do negócio. Não dá para ter projeto bem intencionado, mas falido."
Na filosofia da empresa - cujo nome une mandala (círculo mágico do poder, em sânscrito) à letra h, de humano) - a palavra consumidor é rechaçada, por ser reducionista. "Somos mais do que consumimos. As empresas precisam compreender a vida das pessoas, a relação delas com o trabalho, com a saúde, com a família, com a cidade", diz Lourenço. "A inovação para a gente só é inovação se melhora a vida do ser humano."
O discurso da empresa, com apenas 35 funcionários diretos e escritórios em cinco países, conquistou clientes dos mais diversos tipos. Há pesos pesados como o banco HSBC e a PepsiCo mas também startups como sites de compras coletivas Peixe Urbano, e ONGs, caso do Instituto Ayrton Senna.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.