Dá para deixar o mundo corporativo e empreender? Ele fez isso, quebrou, mas hoje fatura R$ 4,5 mi

Depois das duas décadas trabalhando na área, mudanças o fizeram questionar se valia seguir aquela trajetória no mercado de publicidade para os anos seguintes

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Foto do author Felipe Siqueira

Gustavo Pereira, de 44 anos, tinha uma carreira consolidada no mundo corporativo: atuava no ramo publicitário há cerca de 20 anos, sendo que já havia atingido cargo de diretoria na agência em que trabalhava. Ele entrou no mercado no primeiro ano de faculdade, em 1997, como estagiário - e se manteve no setor até meados de 2018.

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“Eu não fui ensinado a empreender. Sou de Três Corações, em MG, e fui criado para ser médico, advogado ou funcionário público”, fala.

Ele até foi fazer faculdade, mas preferiu ir para a publicidade, o que o trouxe para São Paulo. “A área estava explodindo na época.”

Depois do longo período trabalhando na área, mudanças o fizeram questionar se valia seguir aquela trajetória para os anos seguintes. “A partir de 2013, começou uma virada digital na publicidade, que levou tudo para um rumo que não era muito atraente para mim. O lado criativo começou ‘a desejar’. Se alguma campanha não performa bem de manhã no online, sai à tarde. Aí precisei mudar a atenção da minha criatividade, mudar meu foco. Passei 2014 pensando no plano B”, fala.

Nesse ínterim, esbarrou em um livro de receitas de sua falecida avó, entregue em suas mãos pela mãe dele. “Brincava de reproduzir as receitas da minha avó. Eu ainda trabalhava em publicidade e me matriculei em um curso de cozinha em SP. Trabalhava durante o dia e à noite ia para o estudo de chef. Durou um ano e foi transformador na minha vida. Podia usar a criatividade (da maneira que queria) para a gastronomia.”

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Em 2015, fez a primeira transição de carreira. Pediu demissão da agência que trabalhava para se dedicar ao objetivo de seguir na área da alimentação. “Não era exatamente um sonho. Queria seguir algo que conseguisse desempenhar minha criatividade, que eu gostasse e que me desse retorno (financeiro)”, explica. Neste período, voltou a ser estagiário, agora, em um restaurante. E também abriu um buffet de eventos - que não durou um ano.

“Quebrei. O buffet que eu criei foi um fracasso. Nem meus amigos me encaravam como chef. Achei que não ia dar certo. Não tinha cabeça de empreendedor. Não sabia como me vender e me achava velho. Pensei que não iam me abraçar. “, comenta. Para completar o “balde de água fria”, ele voltou a trabalhar na agência de publicidade que já tinha trabalhado antes, em 2016. “Quando eu retornei, tudo tinha mudado radicalmente no mercado que eu conhecia. A realidade já era outra. Isso me fez ficar ‘martelando’ para entender o que eu tinha feito de errado (para conseguir fazer dar certo na próxima vez)”, diz.

O chef Gustavo Pereira, de 44 anos, fundador do Partager Foto: Higor Bastos/Divulgação

Com tudo isso, decidiu que era hora de estudar fora do País. “Grandes chefs, que são referências para mim, estudaram na Europa. E o brasileiro gosta muito do que tem bagagem de fora”, contextualiza. Ele foi para a França, para entender como era trabalhar por lá, acompanhando a rotina. “A gente não desiste nunca. Tudo voltou tão forte, porque o meu movimento tinha sido muito curto e precisava me estruturar, entender o mercado, saber quais eram as lacunas. Fui me capacitar.”

A partir daí, em meados de 2018, as coisas foram começando a tomar forma na vida de Gustavo. Ele conta que começou a ser visto nas cozinhas, inclusive, postando a própria rotina nas redes sociais. Isso fez com que as pessoas tivessem interesse, segundo ele, em conhecer o trabalho do chef em formação. “Aí eu criei a Partager, em 2019, quando voltei ao Brasil. Tinha uma ‘legião’ de pessoas curiosas, querendo experimentar minha comida”, conta. Com isso, o vínculo oficial com um trabalho no mercado de publicidade foi definitivamente encerrado.

Compartilhar em francês, Partager, segundo ele, é a síntese do conceito que ele tem sobre a cozinha. Buffet voltado para a alta gastronomia, hoje, Gustavo junta todas as experiências que teve durante a vida para entregar os produtos aos clientes. “A ideia é compartilhar tudo que eu vivi. Todo o amor e todas as dores que eu tive na gastronomia. O fracasso, o sucesso. Eu comecei a Partager com R$ 1 mil. Convidei uma amiga publicitária para ser sócia. Ela já tinha visto minha história dar errado. Ela não entrou como sócia, não podia arriscar o tempo, mas fez o logo por R$ 1 mil. E assim a marca começou”, conta.

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O chef Gustavo Pereira, de 44 anos, fundador do Partager Foto: Higor Bastos/Divulgação

E a grande lacuna que ele explica ter começado a preencher foi uma característica que veio da profissão que exerceu por duas décadas. “Nenhum buffet tem chefe criativo com lado publicitário. E preenchi esse espaço contando histórias com os menus de degustação. Ganhamos muito mercado, especialmente corporativo”, fala.

A proposta é entender qual a intenção do cliente com determinado evento e ajudar a contar a história deles, como uma marca, por exemplo, que lança novos itens de consumo. Tudo é feito a partir de demanda dentro do trabalho da Partager, sendo que cores, gostos e apresentações são montados após reuniões e discussões, de maneira harmoniosa. “Caímos nas graças do corporativo porque contamos a história do evento. A gente entende o DNA da marca, entende o que eles pretender passar no evento que fomos contratados”, finaliza.

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