Das creches às padarias pet: negócios especializados oferecem luxo e bem-estar aos bichinhos

Tratamento humanizado dos animais de estimação cria oportunidade de negócios e mantém mercado pet em ascensão

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Foto do author Bruna Klingspiegel
Atualização:

Foi-se o tempo em que ter um bichinho se resumia a alimentar e levar para passear ocasionalmente. Hoje, ser tutor se transformou em um estilo de vida, onde os pets são membros da família e exigem cuidados diários com saúde, bem-estar e diversão. Além de serviços tradicionais como as clínicas veterinárias e os petshops, as mudanças nas demandas desse público, cada vez maior e mais exigente, têm impulsionado negócios especializados como creches com monitoramento 24 horas, buffets para festas, academias e até padarias exclusivas para os peludos.

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O Brasil tem um dos maiores mercados pet do mundo, ao lado dos Estados Unidos, China e Reino Unido. O crescimento, acelerado pela pandemia, foi impulsionado pelo aumento no número de adoções de animais de estimação - 300% nesse período. Isso resultou em uma alta no faturamento durante esse período, saltando de R$ 35,3 bilhões em 2019 para R$ 60,2 bilhões em 2022, segundo o Instituto Pet Brasil.

Além do aumento no número de animais de estimação nas famílias brasileiras, o bem-estar e a longevidade dos pets tornaram-se prioridades para os tutores e com isso, o valor investido para garantir uma vida saudável e feliz aos seus companheiros tem sido cada vez maior e mais diversificado. Nesse contexto, serviços humanizados para os pets têm se tornado uma oportunidade de negócio em franca expansão, explica Flávio Barros, gestor do segmento de Saúde e Bem-estar do Sebrae. “O Brasil tem mais pets do que crianças. Se você tem um bichinho você quer que ele dure, que ele viva bem e esse amor abre cada vez mais espaço para novas possibilidades de mercado”, diz.

Mercado em transformação

Um dos exemplos é a Padaria Pet, fundada em 2015 pelos irmãos Ricardo e Rodrigo Chen. Durante uma viagem aos EUA, os irmãos conheceram o conceito de cafeteria pet e decidiram trazer a ideia para o Brasil. Após três anos estudando o mercado, a primeira unidade foi lançada e conquistou o público paulista.

Ela opera por meio de um modelo de franquias e está estabelecida em várias cidades do País. Com um total de 25 unidades, ela oferece uma ampla gama de produtos alimentares especialmente desenvolvidos para cães e gatos. Além dos itens produzidos na fábrica, como cervejas, risotos e bolos em lata, cada unidade possui sua própria padaria, onde os clientes podem encomendar bolos decorados, doces e pães para seus bichinhos.

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Arquelau So, CEO da Padaria Pet, com os sócios Ricardo e Rodrigo Chen (de roupa preta) e o cão Feijão, cliente da Loja. Cenas da Padaria Pet, na Rua Oscar Freire. Eles oferecem sucos, bolos, pães e até cerveja para os bichinhos. Foto: Tiago Queiroz

Arquelau So, CEO da companhia, destaca que a expansão bem-sucedida da padaria no mercado inspirou outras empresas a investirem em parcerias com a companhia. Um exemplo disso é a Cervejaria Colorado, que lançou a Cãolorado, uma cerveja não fermentada feita com malte exclusivamente para cães. Além disso, a colaboração com a Nutty Bavarian resultou em uma pipoca que também se tornou um sucesso entre os animais de estimação.

“A gente nunca deixou esse DNA inovador”, explica So. “Estamos entre o artesanal e a indústria, então temos a vantagem de ter uma fábrica para nos apoiar e dar margem para o lucro, enquanto o atendimento personalizado nas lojas cria uma atmosfera de exclusividade e acolhimento”, relata o empreendedor, que deixou o ramo de fusões e aquisições em 2018 para ingressar no mercado pet.

Com uma produção mais artesanal, os bolos e doces produzidos por Gabriela Carvalho, dona do buffet Badalacão, são exemplos de sucesso entre os tutores, ilustrando a diversidade de oportunidades que esse mercado oferece. Especializada em festas de aniversário para animais de estimação, a publicitária cria decorações, bolos, “salgadinhos” e até “brigadeiros” específicos para essas ocasiões, utilizando ingredientes naturais e adequados para a alimentação dos pets.

Com a pandemia, ela focou na criação de festas na caixa, onde os clientes escolhem o tema e o tamanho da caixa e tudo é produzido pela própria Gabriela, em sua casa no bairro da Vila Mariana, em São Paulo. Segundo ela, a busca por esse tipo de serviço tem crescido cada vez mais e não tem se resumido apenas ao público A e B. Cada vez mais pessoas de classe média tem buscado seus serviços e investido nesse tipo de comemoração para os seus companheiros.

“A minha intenção é fazer o mais próximo do humano possível. Eu preciso surpreender o tutor, que quer oferecer esse tipo de experiência para o pet, mas também tento agradar o bichinho com o sabor”, explica a empreendedora.

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Bem-estar em primeiro lugar

“Houve uma transformação cultural na forma que as pessoas veem os cães”, explica Tatiana Nassif, especialista em comportamento canino e dona da Dog Adventure, uma creche e hotel para cachorros. Esse fenômeno se reflete nas mudanças nas leis que regem a relação da sociedade com os animais. Anteriormente, era considerado normal viajar e deixar o cachorro em casa. No entanto, na Espanha, por exemplo, o parlamento aprovou em março deste ano uma lei definitiva que proíbe os tutores de deixarem seus cachorros sozinhos por mais de 24 horas.

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Nassif está no mercado de creches caninas desde 2012 e observou o aumento na busca por esse tipo de serviço ao longo dos anos, especialmente no pós-pandemia. Com câmeras de monitoramento 24 horas por dia, a creche localizada na cidade de São Paulo, recebe todo mês 150 alunos fixos, com uma média de 70 cães por dia. As mensalidades podem chegar a R$1245.

A preocupação com a saúde e a longevidade dos bichinhos é uma preocupação latente dos tutores modernos, o que têm impulsionado cada vez mais negócios voltados ao treinamento comportamental, alimentação natural, atividades físicas e até mesmo terapias complementares, como acupuntura e fisioterapia.

Lucas Marques é o fundador da Dog Sports, uma academia para cachorros. Seguindo os passos de seu pai, que é adestrador desde os anos 70, ele sempre trabalhou com pets, mas em 2021 decidiu abrir sua própria academia para oferecer um espaço onde os cães pudessem gastar energia de forma qualificada e receber treinamento físico e mental. Baseado no conceito americano Canine Fitness, o espaço oferece exercícios de equilíbrio, coordenação motora e condicionamento físico para os bichinhos. “São exercícios de prevenção, para deixar o cachorro mais saudável, mas equilibrado e ajudar no desenvolvimento de noção corporal, para se machucar menos e criar condicionamento”, explica Marques.

Ele destaca que a preocupação das pessoas em proporcionar uma vida saudável para seus animais de estimação teve impacto direto da pandemia. Com muitas pessoas adotando cachorros no período de isolamento, muitos têm enfrentando problemas de ansiedade de separação quando voltam a trabalhar fora de casa e demandam esses serviços especializados. “O mercado pede esse tipo de serviço. As pessoas querem ficar mais tempo com os bichos e querem eles saudáveis”, explica.

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