Delivery de serviços ganha projeção com isolamento social

Empresas de estética e veterinária, como Bnyou, Hilo, Make You e DogHero, veem aumento de adesão na quarentena; desafio está em manter clientela com fim da pandemia, diz especialista

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Por Anna Barbosa
Atualização:

Durante a pandemia do novo coronavírus, segmentos como beleza e veterinária (que não permite atendimentos virtuais, como a telemedicina) precisaram encontrar novas formas de adaptação. Por isso, os serviços em domicílio se tornaram uma oportunidade para empresas como Bnyou, Hilo, Make You e DogHero, que apostaram em levar os profissionais até a casa dos clientes e vêm obtendo sucesso com uma procura que não previam.

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Uma das pioneiras nesse tipo de delivery de serviço é a Singu, um marketplace de beleza e bem-estar fundado em 2015 e que possui 500 mil clientes ativos e mais de 7 mil profissionais cadastradas para atuar nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília prestando serviços de manicure, pedicure, massagem e depilação.

No início da pandemia, a empresa teve uma queda de 50% a 60% no fluxo de pedidos, mas atualmente está com um faturamento 20% maior do que o de março. “Muitas pessoas ainda sentem receio em voltar a frequentar ambientes fechados e por isso a modalidade home beauty (beleza em casa) vem crescendo cada vez mais”, afirma a empresa, em nota.

No mesmo modelo de marketplace, a ideia da Hilo surgiu em março, mas só foi criada de fato em junho, oferecendo serviços de barbearia em casa. “Eu olhava para o lado e via parentes, amigos e familiares desesperados para cortar o cabelo. Quando analisei, percebi algumas empresas que já realizavam esse trabalho antes da pandemia que eram extremamente rentáveis, principalmente no exterior”, conta o CEO, Pedro Cilento.

Em dois meses, a Hilo reuniu 10 profissionais cadastrados em sua plataforma e possui 20 em fase de análise. “Não esperava que fosse crescer tanto de maneira tão rápida. Quando os salões reabriram, nós tivemos uma queda, mas já normalizou.”

Para fidelizar os clientes no futuro, o CEO acredita que precisarão fazer adaptações. “Apesar do modelo de negócio ser muito claro (marketplace de cortes de cabelo), com a volta dos salões vamos precisar nos reinventar. Existem aqueles que já gostam desse tipo de serviço, mas vamos precisar explorar melhor com cartão fidelidade, parcerias com bebidas e outros.”

A analista de marketing Isabela Marques recebeu em sua casa a veterinária Fernanda Neves, da Dog Hero, para consulta de rotina em seus gatos. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Outra empresa no ramo de beleza e estética é a Bnyou, que foi criada antes da pandemia, mas obteve maior procura nos serviços durante a pandemia, com crescimento de 190%, oferecendo serviços tanto para o público feminino quanto masculino. Atuando apenas em Curitiba, possui 70 profissionais cadastrados e mais 800 na lista de espera.

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“Confesso que ficamos com bastante receio, ninguém sabia o que aconteceria. Mas a pedido dos clientes e dos profissionais, muitos dos quais nos têm como a única fonte de renda, voltamos a atender seguindo todos os protocolos de segurança”, fala a empreendedora Gabriella Garcia, sócia da plataforma.

Para ela, a pandemia funcionou como um acelerador desse modelo de negócio. “Um dos desafios vai ser fidelizar os clientes que gostam de ir até o salão e ao mesmo tempo mostrar para as pessoas que é uma alternativa boa mesmo fora da pandemia”, diz Gabriella.

No caso da Make You, fundada em 2016, hoje são mais de mil profissionais de beleza cadastrados e outros cerca de 4 mil em espera, com atuação em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Segundo a empresa, houve uma queda nos serviços de cabelo e maquiagem por conta da interrupção de eventos na pandemia. No entanto, os serviços de manicure, pedicure e depilação em casa cresceram cinco vezes se comparados ao mesmo período do ano passado.

Sustentabilidade do modelo de negócios

Para o professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Robson Gonçalves, as adaptações têm seus riscos e oportunidades. “O risco consiste exatamente em ir até a casa da pessoa, não é ela que vai até você. Portanto, os protocolos de comportamento exigem muito mais cuidado”, acrescentando que pode-se errar se transferir o protocolo do atendimento tradicional para o atendimento em domicílio.

“Quanto às oportunidades, as pessoas estão redescobrindo suas casas. Por isso, é importante tomar proveito disso, criando maior possibilidade de pacotes - que são quase infinitas. É possível agregar valor, porque o pacote vale mais do que o serviço em si”, diz o professor.

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A DogHero, empresa de serviços para pets presente no mercado desde 2014 e com mais de 1,4 milhão de pets cadastrados na plataforma, entendeu que o serviço de veterinário em domicílio era uma das formas de agregar valor nesse momento. “O serviço de veterinária era uma coisa que sempre quisemos fazer. A pandemia acelerou a inovação”, conta o cofundador Fernando Gadotti.

“Durante a pandemia aceleramos esse projeto (de veterinário em casa) e o resultado foi bastante surpreendente. Tanto por parte dos clientes, que não colocam seus animais em uma situação de estresse, quanto por parte dos veterinários, que têm uma plataforma onde podem aumentar a carteira de clientes”, relata Fernando.

O serviço de veterinário em domicílio foi lançado há dois meses e ainda funciona como uma versão beta, apenas em São Paulo, com poucos profissionais. “Estamos recebendo feedbacks dos clientes e seguimos crescendo 15% semana a semana. Estamos ampliando à medida que divulgamos o serviço na base.”

Para o professor Robson Gonçalves, a dica para o pós-pandemia é monitorar a evolução do comportamento das pessoas. “Ninguém sabe como vai ser o comportamento pós-pandemia. Por isso, é importante ter flexibilidade e não acreditar que as mudanças são definitivas”, diz ele, acrescentando que o ponto de equilíbrio é fazer combinações entre os modelos tradicionais e o serviço em domicílio.

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* Estagiária sob a supervisão da editora do Estadão PME, Ana Paula Boni